Mulheres de vários estados brasileiros se reuniram nesta semana, em Sorocaba (SP), para uma sessão de fotos. Mas engana-se quem pensa que, apesar da aparente beleza das moças, elas são modelos comuns. Na verdade, elas participam de um projeto para ajudar pessoas que, como elas, precisam usar próteses depois de terem membros do corpo amputados, mas que não têm condições financeiras de arcar com os custos do mecanismo. As fotos serão usadas para a elaboração de um calendário, que será lançado em 2016.
A ideia do projeto foi de Nelson Nolé, empresário de Sorocaba do ramo de próteses. Segundo ele, o calendário vai ser vendido nacionalmente e o valor arrecadado vai cobrir, além dos custos da campanha, um fundo que vai ser criado para ajudar famílias que não têm como pagar pelas próteses. “Para estimular a beleza, para mostrar que tem vida depois da amputação e que esses portadores de necessidades tem uma vida normal. Que dá para frequentar um clube, sair com os amigos, namorar”, frisa Nolé.
O calendário é para mostrar que a amputação é só um detalhe e que a beleza é também é uma questão de atitude. As fotos serão todas em preto e branco, mas as próteses vão ter destaque na imagem com cores vivas. A iniciativa é uma forma de mostrar que as limitações físicas não podem tirar o bem mais precioso das mulheres: a vaidade.
As modelos miraram as lentes da câmera como se fossem profissionais de longa data e ficaram à vontade entre um clique e outro. Mas este foi o primeiro trabalho delas e a desenvoltura impressionou até a fotógrafa Adriana Pavesi. “Eu fiquei chocada com o nível. Pra mim, são profissionais. Belíssimas, uma desenvoltura absurda e o trabalho foi muito fácil pra mim.”
A bancária Jaqueline Felizberto se soltou nas fotos. Ela perdeu a perna direita aos sete anos de idade, quando foi atropelada por um caminhão em frente a sua casa. Mas o trauma não barrou a vida dela. “Eu tenho uma vida super normal, super agitada, bem corrida. Gosto bastante de me maquiar, sair e me divertir. Amo praia. Eu gosto de curtir um monte”, ressalta a bancária que virou modelo por um dia.
No ensaio, elas mostraram a força da superação e, no olhar, a certeza que podem muito mais. Camile Rodrigues nasceu com má-formação na perna, mas o que não a impediu de se tornar uma atleta de ponta. Nos Jogos Parapanamericano de 2011, a nadadora levou três medalhas de prata e uma de bronze. Para ela, o conceito de beleza não tem muito a ver com a estética. “Beleza para mim é felicidade. Eu acho que se você é feliz, você é bela.”
Com a beleza típica do Sul do país, a catarinense Cristiane Werlang faria sucesso em qualquer passarela mundo afora, mas ela preferiu ser funcionária pública na prefeitura da cidade onde mora. O dia de modelo trouxe ainda mais autoestima para a jovem de 22 anos, que nasceu sem as duas pernas e usa próteses coloridas que chamam atenção por onde ela passa. “Eu acho que a principal beleza é de dentro pra fora, o exterior é só um detalhe”.
A cada mês do calendário, essas mulheres, como Jaqueline, Camile e Cristiane, vão mostrar que a vida não depende de uma perna ou de um braço. Mas, sim, de um coração aberto à felicidade.
Fonte – G1