Luciane Molina *
Mariana Prado, 31 anos, quase teve seu sonho de se tornar nutricionista interrompido. Aos 21, enquanto cursava a graduação, sua visão ficou muito comprometida devido a uma retinose pigmentar já diagnosticada anteriormente. Trancou a matrícula na universidade e encarou com empenho o seu processo de reabilitação. Conseguiu, em apenas sete meses, ser alfabetizada pela segunda vez, agora utilizando-se do sistema Braille para ler e escrever. Pouco depois também já dominava a tecnologia assistiva e passou a usar o computador com leitores de tela para acessar a internet, digitar textos e ler documentos.
Moradora da cidade de Cachoeira Paulista, Mariana é uma entre as diversas histórias de sucesso e de protagonismo da pessoa com deficiência aqui no Vale do Paraíba e hoje comemora o fato de ter conquistado um espaço no mercado de trabalho local. Além de ter concluído o curso de nutrição, ela já fez uma especialização na área e já atua há quatro anos, dividindo seu tempo entre um consultório particular, um asilo e um hospital. “Ainda existe muita dificuldade em aceitar pessoas com deficiência como funcionários. Tive muita insegurança no início, medo de ser rejeitada ou de não ser capaz de exercer a profissão escolhida”, disse a nutricionista que se considera muito feliz com sua profissão.
Hoje ela apenas consegue distinguir o dia da noite e poucas luzes artificiais. Considera que o aprendizado do Braille tenha sido essencial para sua vida, pois identifica com facilidade os rótulos de medicamentos, produtos de beleza, botões de elevadores para a localização dos andares, entre outros. A respeito da tecnologia assistiva, a nutricionista a define como indispensável ao exercício de sua profissão, por ter conquistado autonomia e independência. “Meu computador é meu maior companheiro, nele tenho todos os dados que preciso, e nele faço tudo que necessito desde dieta para os pacientes até cardápios no asilo onde trabalho”, explicou.
Além do computador, Mariana também usa uma calculadora e uma balança falantes. Precisou também adaptar uma fita métrica colocando straz em cada centímetro e uma outra balança mecânica fazendo traços com marcações em relevo nos gramas e na régua de altura. No seu consultório, para driblar o possível espanto dos pacientes, ela os informa sobre sua deficiência visual logo que marcam a consulta e recebe relatos positivos sobre seu trabalho. No hospital ela é acompanhada por um funcionário e revela que num primeiro contato os pacientes não entendem o fato, mas depois até conversam sobre sua situação, deixando tudo mais descontraído. Já no asilo também é acompanhada por uma enfermeira e os idosos a recebem com muita naturalidade.
Para concluir, a nutricionista alegra-se por pessoas com deficiência estarem comprovando que tem potencial para o estudo e para o trabalho, se forem oferecidos recursos e acessibilidade para o desenvolvimento de suas habilidades. Acredita que a deficiência visual ainda assusta muita gente e o preconceito seja frequente. “Algumas deficiências aparecem no físico, outras são guardadas na alma, mas devemos aprender no convívio a lidarmos com as diferenças e na tentativa do melhor buscarmos a cura para as nossas atitudes”, completou Mariana.
* Luciane Molina é pedagoga e especialista em atendimento Educacional especializado. É pessoa com deficiência visual e atua com educação inclusiva, formação de professores e consultoria por todo Vale do Paraíba e Litoral Norte de SP. É colunista do Guia Inclusivo desde 2011.
Fonte: Guia Inclusivo
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