A paixão por viajar mostrou ao empresário Ricardo Shimosakai, 46, os caminhos para empreender, após ele sofrer um episódio traumático. Recém-chegado de uma temporada no Japão, ele foi baleado num sequestro relâmpago, em 2001. O tiro o deixou paraplégico. Das dificuldades para encontrar viagens acessíveis, ele criou, em 2010, a agência Turismo Adaptado, com foco nas pessoas com deficiência.
Conheça destinos turísticos adaptados para pessoas com deficiência9 fot
Por mês, a empresa vende cerca de dez viagens. Os roteiros são personalizados e levam em consideração as dificuldades de cada cliente. "Não adianta saber apenas que a pessoa é cadeirante, preciso saber se ela pode tomar banho e se alimentar sozinha e outros detalhes. Quanto mais informações eu tiver, melhor será a experiência do cliente na viagem", diz o empresário.
Nos pacotes, são incluídos hotéis e passeios a lugares com acessibilidade. Há opções para pessoas com deficiência visual, auditiva, cadeirantes, entre outras limitações. A empresa não informa o faturamento.
Segundo Shimosakai, os destinos nacionais mais procurados são Bonito (MS), Foz do Iguaçu (PR), Rio de Janeiro (RJ), Porto de Galinhas (PE) e Natal (RN). Fora do país, a maior procura é por viagens para Estados Unidos, França e Itália. O maior pacote vendido pela empresa custou R$ 25 mil e foi para um grupo de seis pessoas que passou nove dias em Paris.
"Apesar de a acessibilidade ter avançado bastante no Brasil, os melhores destinos ainda estão no exterior. Em Paris, por exemplo, tem ônibus com capacidade para levar até 14 cadeirantes. Por aqui, só tem espaço para um", afirma.
Tiro durante sequestro relâmpago deixou empresário paraplégico
O incidente que deixou Shimosakai paraplégico aconteceu quando ele saía do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Um grupo armado o obrigou a entrar em um carro e o levou para realizar saques em um caixa eletrônico. Quando o veículo parou em um semáforo, o empresário tentou fugir, mas foi baleado nas costas.
"O tiro passou de raspão pela medula, mas foi o suficiente para me tirar os movimentos das pernas", diz. Shimosakai levou três meses para receber alta definitiva e fez mais três meses de fisioterapia e adaptação à cadeira de rodas.
Ao tentar retomar o hábito de viajar, o empresário teve dificuldades para encontrar informações sobre locais com acessibilidade. Incentivado por amigos e outras pessoas com deficiência, cursou uma faculdade de turismo e abriu a própria agência.
"Na primeira vez que saí de casa com a cadeira de rodas, quase caí na esquina porque a guia não era rebaixada. Você só percebe como é difícil a vida de uma pessoa com deficiência quando você se torna uma", declara o empresário.
Mercado tem espaço, mas poucos entendem as necessidades do nicho
O Brasil tem 45,6 milhões de pessoas que declaram ter algum tipo de deficiência física ou mental, segundo o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). O número demonstra um público grande, mas ainda pouco atendido pelas empresas, de acordo com Carlos Eduardo Ferrari, presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência).
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"Existe uma 'miopia mercadológica'. Quem vier com boas soluções para esse público, certamente ganhará dinheiro", afirma. Segundo Ferrari, as empresas ainda têm dificuldade para entender as necessidades das pessoas com deficiência. "Geralmente, pensa-se apenas no óbvio: cadeiras de roda, carros adaptados, mas faltam serviços", diz.
Além disso, esse público é formado por pessoas com diferentes dificuldades e necessidades, o que reduz o nicho de mercado de um produto ou serviço. "São nichos pequenos, mas que servem de porta de entrada para o mercado. Depois, a empresa pode desenvolver novas soluções para pessoas com outros tipos de deficiência", declara.