*Por Luciane Molina
Uma iniciativa pioneira de uma estudante de jornalismo da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), permite que pessoas cegas possam ter contato com uma revista digital de moda, incluindo acessibilidade no conteúdo e descrições das imagens.
A jovem Marina Almeida, de 22 anos, sempre soube que queria apresentar como trabalho de conclusão de curso uma revista de moda. Incentivada pelo seu orientador Marco Bonito, percebeu que precisava fazer algo novo e não aquilo que todo mundo costuma fazer. “Foi aí que comecei a pensar em algo diferente, e como ele estuda acessibilidade, achamos que seria uma boa ideia incluir na minha revista e por fim, acabei descobrindo um assunto que de fato me interessa”, disse ela.
Começou, então, a fazer testes de acessibilidade nas revistas em dispositivos móveis, acessar sites e blogs de moda. Percebeu que pessoas cegas ou com baixa visão tem limitações de acesso a esses conteúdos através da descrição das imagens, porque moda utiliza muitos conteúdos visuais. Ela contou que ao tentar acessar a revista Lola, Cláudia e Vogue, nada acontecia. Ao tocar na tela, era como se não houvesse nada ali.
A estudante superou sua insegurança e receio ao abordar um tema considerado fútil para a maioria. Buscou fontes de pesquisa na internet, entrevistou pessoas cegas e respondeu muitos questionamentos de pessoas que nunca tiveram contato com tecnologia assistiva para cegos. “A elaboração da revista foi basicamente toda no escuro. Eu sabia na teoria como fazer uma revista, mas até então não tinha contato com nenhuma que incluísse acessibilidade”.
Marina montou os textos, selecionou as imagens e foi fazendo testes aleatórios. Ela contou que foram feitas as descrições na qual de inicio, eram pra ser incluídas em forma de áudio. Porém, o resultado obtido com as descrições em áudio não foi satisfatório, gerando uma revista grande e pesada, o que dificultaria na sua disponibilização.
A revista, cujo título é Acesso Moda, aos poucos tomou seu formato. A escolha do conteúdo, segundo Marina, foi um pouco pessoal, apesar de muitas das fontes de pesquisa não retornarem seu contato inicial. “Alguns assuntos eu já sabia que iria incluir na revista, como a entrevista com Amanda Mol que admiro muito, e sobre o concurso Moda Inclusiva que acompanhei as notícias no ano passado”.
Durante a elaboração do projeto, ela teve a colaboração de amigas para a diagramação, revisão dos textos e das descrições, e a parceria com seu orientador de pesquisa. Utilizou o software In Design para inserir as legendas das imagens no formato texto e fazer toda montagem da revista.
O projeto da estudante Marina Almeida é pioneiro e ela está bastante otimista sobre o futuro. “Tenho muito interesse em continuar estudando acessibilidade e moda e estou com a ideia de realizar uma pesquisa com mulheres com deficiência visual, para saber em números o real interesse pelo assunto, e a partir daí criar um artigo falando sobre essa relação de moda/acessibilidade”.
A revista Acesso Moda foi disponibilizada para algumas pessoas cegas e com baixa visão que foram colaboradores em sua pesquisa, a fim de uma análise sobre o resultado final desse trabalho antes da liberação para o público. Marina conclui que a noção de acessibilidade não deveria ser algo considerado um diferencial e sim parte da construção jornalística. “Jornalismo e acessibilidade deveriam ser pensados juntos, desde o inicio, na construção das noticias, na escolha das imagens e na diagramação dos produtos”.
* Luciane Molina é pedagoga e pessoa com deficiência visual. atua com formação de professores e consultoria em educação inclusiva.
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