No último domingo, visitei a Arena Corinthians para checar as condições de acesso não só do estádio, mas também de seu entorno. Para isso, fui de metrô do meu bairro até uma das estações que dá acesso ao local. Embora o transporte coletivo e o estádio estivessem acessíveis para atender e acomodar pessoas com deficiência, só foi possível chegar com facilidade ao estádio porque contamos com recursos humanos.
Da estação à arena, havia diversos funcionários indicando para que lado os torcedores deveriam seguir. Até chegar de fato ao assento do estádio, passamos por várias etapas sinalizadas apenas verbalmente. Faltavam placas indicando a rota, por exemplo, que pessoas com deficiência e mobilidade reduzida deveriam fazer para embarcar nas vans adaptadas que levariam ao estádio.
Fico pensando no caso dos surdos que se comunicam pela Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Será que todos esses funcionários estão preparados para informá-los o trajeto? O mesmo devemos pensar sobre os cegos, que precisam da sinalização tátil para que consigam chegar ao menos a um ponto de informação, onde teoricamente deveriam contar com responsáveis para informá-los.
Ou seja, falta de sinalização é um problema latente de comunicação. Nos aeroportos, isso fica ainda mais evidente. O viajante surdo não é informado quando o portão de embarque é alterado, já que esse aviso é feito em áudio e em texto nos painéis. Não há janela de Libras informando nestas mesmas mídias a alteração de voo. E aos cegos falta um trajeto tátil para que cheguem ao embarque. Claro, que é inviável implantar piso tátil em todos os espaços de em um local amplo como um aeroporto. Isso só atrapalharia. Mas a solução é muito mais simples do que se imagina. Basta existir piso tátil da entrada do aeroporto até um ponto de encontro específico, onde o viajante cego contaria com um funcionário da companhia responsável por encaminhá-lo até o seu destino. As saídas inteligentes são geralmente as mais simples.
Com a chegada da Copa, nossas cidades vão aos poucos se preparando para receber turistas do mundo inteiro. As sinalizações das vias e das estações de metrô já contam com informações traduzidas para o inglês. Mas o verdadeiro legado à população brasileira e suas cidades é ínfimo. Os avisos sonoros nos semáforos, que muito auxiliariam o pedestre cego a se locomover pelas ruas com segurança, ainda são raros. As calçadas, que são as principais vias de acesso e cartão postal de qualquer cidade, só foram reformadas no entorno de estádios.
A sinalização bem planejada deve ter como base o Desenho Universal, cujo um dos preceitos é a comunicação óbvia, baseada em símbolos de entendimento de todos. No Japão, por exemplo, todos os serviços, espaços e produtos são projetados seguindo esses moldes. Mesmo sem saber o idioma, as pessoas conseguem identificar locais e produtos, uma vez que sua usabilidade é óbvia. O pedestre não precisa disputar o espaço com placas. A sinalização bem projetada torna-se uma aliada das pessoas: facilita o ir e vir, incentiva o deslocamento sem carro e promove uma interação muito mais saudável (e sem amarras!) entre pessoas e cidades.
Por Mara Gabrilli para o Blog do Guilherme Bara
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