Uma queda brusca nas reservas de energia, um cansaço implacável, o intestino que resolve travar, inchaços nas pernas e sem falar nos ponteiros da balança que custam a baixar. Estes podem ser os sinais de que atireoide está funcionando em marcha lenta. A pequena glândula endócrina, em formato de borboleta e localizada na parte anterior do pescoço, no famoso gogó, é responsável pela produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que regulam o metabolismo. “A tireoide produz principalmente o T4 que será transformado dentro das células em T3, o hormônio ativo. O T3 se ligará a receptores no núcleo das células e incitará o funcionamento das mesmas. O T3 age em praticamente todos os órgãos, estimulando várias funções.
Por exemplo, no coração, controla os batimentos cardíacos; no intestino, monitora o peristaltismo e a frequência de evacuações; e no cérebro, interfere na memória, no humor e em outras funções cognitivas”, explica a endocrinologista Gisah Amaral de Carvalho, membro do departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E quando a tireoide desacelera — problema conhecido como hipotireoidismo — todo o corpo fica preguiçoso. Com a diminuição no metabolismo geral, há uma verdadeira pane e, ainda, a tendência a engordar, que pode chegar a 10% do peso corporal. Mas, atenção! Segundo o endocrinologista Filippo Pedrinola, apesar do problema poder sim aumentar a silhueta, raramente a deficiência da tireoide leva à obesidade. O tratamento é feito por meio da reposição hormonal com levotiroxina, que deve ser ingerida diariamente em jejum.
Mas, além do hipotireoidismo, que é a disfunção mais comum na glândula, há um outro distúrbio preocupante: o hipertireoidismo. A doença é caracterizada pela aceleração da tireoide, ou seja, pela produção excessiva de T3 e T4. Os sintomas mais comuns são insônia, taquicardia, irritabilidade, falta de concentração e, ao contrário do hipotireoidismo, perda abrupta de peso. O tratamento pode incluir a droga antitireoidiana. Em casos severos pode-se recorrer ao iodo radioativo, que vai provocar a morte celular, e hipotireoidismo, o que resulta em reposição hormonal posteriormente. A recomendação cirúrgica é apenas para os casos graves.“As duas disfunções são geneticamente herdadas. Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo são doenças auto-imunes, ou seja, o indivíduo produz anticorpos contra a tireoide”, explica Gisah. No momento em que a produção de T3 e T4 fica muito baixa, a hipófise recebe a mensagem para produzir mais TSH, hormônio que vai estimular a fabricação dos dois primeiros. Mas quando os níveis de T3 e T4 aumentam, a hipófise é avisada para cessar a produção de TSH. É por essa razão que um dos exames sanguíneos que verificam o funcionamento da tireoide é o nível de TSH. Se estiver muito alto, o resultado aponta o hipotireoidismo. Porém, se estiver baixo, indica hipertireoidismo. A tireoide também pode ter alteração anatômica, resultado da presença de nódulos ou do crescimento uniforme da glândula (bócio difuso). “Os nódulos são detectados ao exame clínico (apalpação do pescoço) em 4% a 7% da população e em 95% dos casos são benignos.”, explica Gisah.
Elas são a maioria
O hipotireoidismo é a alteração mais frequente da tireoide. Segundo Gisah Amaral de Carvalho, sua prevalência em mulheres é em torno de 10% e aumenta na menopausa, ficando em torno de 12 a 15%. Em homens, o percentual gira em torno de 3%. A incidência maior na ala feminina acontece porque o hormônio delas favorece a saída de iodo pela urina, portanto a mulher perde mais esse mineral do que o homem. E a sua carência pode levar ao aumento da tireoide, conhecido como bócio.
Além disso, o hormônio feminino torna o tecido tireoidiano mais sensível à ação do TSH, por isso elas tendem a ter a tireoide um pouco maior e, portanto, mais sujeita a problemas. As mulheres têm de oito a nove vezes mais nódulos nesta glândula do que os homens, por efeito da gravidez ou dos hormônios femininos. Todos esses fatores fazem com que muitas delas tenham disfunções como consequência de gestações passadas. É importante lembrar também que as doenças da tireoide são hereditárias, ou seja, mulheres de uma mesma família podem apresentar o problema.
A solução pode estar no seu prato
O principal nutriente para o bom funcionamento da tireoide é o iodo. A glândula utiliza este mineral - que pode ser ingerido na dieta - para a produção dos hormônios. “Uma dieta adequada fornece cerca de 150 microgramas (mcg) de iodo por dia, quantidade suficiente para uma adequada fabricação de T3 e T4”, explica Gisah Amaral de Carvalho. Mas, ela alerta para o exagero. “Medicamentos, vitaminas ou alimentos com grande quantidade do mineral podem fornecer uma dose exagerada, o que pode atrapalhar o funcionamento da glândula.” Vale lembrar, que com uma estratégia para suprir a necessidade de iodo pelas populações, diversos países, até mesmo o Brasil, adotam a iodação do sal para consumo. “Embora não se deva consumir sal em excesso, porque pode trazer prejuízos à saúde, o seu consumo moderado e diário é essencial para que a necessidade do mineral seja suprida”, explica a nutróloga Regina Mestre, do RJ.
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