Começou no último dia 15 de abril a última fase para tentar comprar ingressos para os jogos da Copa, que começa em 12 de junho. Se você está entre os sortudos que poderão assistir às partidas nos estádios, mas é cego ou tem baixa visão, uma boa notícia: pela primeira vez em Copas do Mundo, haverá narração audiodescritiva em quatro estádios. A informação é do Portal da Copa e do Ministério do Esporte.
A audiodescrição é semelhante à narração de rádio, mas com ênfase na experiência do estádio. O narrador especialmente treinado fornece uma descrição adicional de todas as informações visuais significativas, como linguagem corporal, expressão facial, entorno, lances, uniformes, cores e qualquer outro aspecto importante para transmitir a aparência e o ambiente do estádio, tudo que possa enriquecer a experiência da pessoa com deficiência visual nos estádios.
“O serviço de audiodescrição fala como a torcida está se portando, quais são as brincadeiras, como o juiz corre… Algumas coisas que ninguém acha que são importantes, porque estão todos vendo”, disse ao Portal da Copa Anderson Dias, presidente da Urece Esporte e Cultura para Cegos, ONG parceira da Fifa e do COL que trabalha com projetos especiais para pessoas com deficiência visual. “Na audiodescrição de avaliação de voluntários, ouvi o gol do Ronaldo na final da Copa do Mundo de 2002 e ouvi que o Oliver Kahn fica no chão, chateado, triste, e o Ronaldo sai comemorando de braços abertos. Isso se perde nas transmissões de TV e rádio”, completa Dias, que foi bicampeão mundial e campeão paraolímpico de Futebol de 5 em Atenas 2004.
A narração será disponibilizada em português em Belo Horizonte (Mineirão), Brasília (Estádio Nacional Mané Garrincha), Rio de Janeiro (Maracanã) e São Paulo (Arena Corinthians). Haverá dois locutores por jogo, e a audiodescrição será transmitida por radiofrequência e captada em fones de ouvido individuais. Torcedores cegos ou com baixa visão podem sentar-se em qualquer lugar do estádio.
Pelo menos 16 voluntários, quatro de cada uma das cidades-sede selecionadas, passarão por um programa de treinamento intensivo promovido pelo Centro de Acesso ao Futebol na Europa (Centre for Access to Football in Europe – CAFE) e pela Urece.
A voluntária Natália Caldeira, de 29 anos, que trabalha com deficientes visuais desde 2004, comemorou a chance de participar desse projeto na Copa em seu país. “É uma oportunidade incrível. Não só de estar num jogo de Copa, mas de transmitir a essas pessoas o que acontece e tornar sua experiência mais real. É uma responsabilidade muito grande, mas tenho certeza de que a gente vai ter diversas lições até lá e vai conseguir fazer isso direitinho. Estou preparada.”
Após o Mundial, o equipamento de narração instalado em cada estádio será doado às entidades locais dispostas a fazer parte do legado do projeto. Para a Copa, e de acordo com as leis brasileiras, pelo menos 1% do número total de ingressos oferecidos é disponibilizado para pessoas com deficiência –e todas elas podem solicitar bilhetes complementares para um acompanhante.
Fonte: F123