No Riacho Fundo II (DF), uma única quadra residencial (o conjunto 14 da QN 16 da cidade) concentra 30 deficientes visuais. Segundo os moradores da "Vila dos Cegos", como ficou conhecida a quadra, o primeiro deficiente visual chegou ao local por volta de 2007.
De acordo com a administração do Riacho Fundo II, a ida dos moradores para o local fazia parte de um plano do GDF (Governo do Distrito Federal), que priorizaria os portadores de necessidades especiais.
Um desses moradores é Wallace Gonçalves. Motorista aposentado por invalidez, e considerado um dos melhores cozinheiros da Vila, ele enxergou até os 48 anos, quando teve um tumor na hipófise. Ele fez uma cirurgia, mas sem resultado. A partir de então, o quadro evoluiu para um descolamento de retina e outra cirurgia foi feita para tentar a correção, sem sucesso.
— Estou cego há 13 anos. Mas, mesmo assim, vivo o dia-a-dia. Faço tudo dentro de casa.
Os deficientes visuais dizem que a convivência com os outros moradores é tranquila. Eles ressaltam que às vezes há desrespeito por parte de alguns vizinhos, que estacionam carros na calçada; o que sempre é resolvido na base da conversa.
Começo de história
Gonçalves, que antes morava no Gama (DF), chegou ao local desde 2008 e conta que o local foi melhorando aos poucos. Ele lembra que não tinha asfalto e nem energia. Segundo ele, os deficientes visuais sofriam com as chuvas.
Gonçalves, que antes morava no Gama (DF), chegou ao local desde 2008 e conta que o local foi melhorando aos poucos. Ele lembra que não tinha asfalto e nem energia. Segundo ele, os deficientes visuais sofriam com as chuvas.
— Desviávamos das poças d’água e acabávamos nos perdendo. Foi um início meio tumultuado.
Entre os pontos positivos do local, o aposentado destaca a facilidade de se locomover ao Plano Piloto – região central de Brasília –, mas critica o novo sistema de ônibus da região.
— Com a troca do sistema de ônibus não estamos tendo ônibus no horário certo. Está uma confusão.
Elisângela de Oliveira, outra moradora da Vila, de 41 anos, também reclama do sistema de transporte coletivo.
— Parece até que a frota de ônibus diminuiu. A gente vai pra parada e tem que esperar bastante.
Gonçalves ainda reclamou sobre o itinerário das linhas que trafegam pela região. Conforme ele disse, alguns saem de dentro do Riacho Fundo II, mas nenhum entra na cidade. Ele falou que a distância até a rodovia é grande.
— O tempo de chuva chega e a gente sofre bastante. Quase não tem calçadas até a parada de ônibus. Os caminhões fazem obras e passam por cima delas, quebrando tudo.
Segundo o DFTrans (Transporte Urbano do Distrito Federal), os ônibus não contam com nenhum tipo de dispositivo para atender os deficientes visuais. Ainda de acordo com o órgão, também não há nenhum tipo de aparelho para que os deficientes visuais saibam quando o ônibus que esperam está chegando.
O DFTrans disse que construiu novas paradas de ônibus com pisos táteis e que há licitação para a construção de outros abrigos acessíveis. A informação é de que 35 linhas de ônibus e 84 veículos de transporte coletivo atendem a região.
Falta estrutura e assistência básica
O que já é difícil aos moradores do Riacho Fundo II, torna-se ainda pior para os deficientes visuais da QN 16. Quando a perguntada sobre o que falta aos moradores da região, Elisângela responde sem precisar pensar.
O que já é difícil aos moradores do Riacho Fundo II, torna-se ainda pior para os deficientes visuais da QN 16. Quando a perguntada sobre o que falta aos moradores da região, Elisângela responde sem precisar pensar.
— Falta padaria, supermercado e, principalmente, posto de saúde e de policiamento.
Ela ainda relata que são constantes os roubos e furtos nas regiões. Os criminosos ainda zombam dos moradores. Para eles, a solução seria um posto policial próximo, já que nem a atual Academia de Polícia Civil, que fica próximo à quadra, inibe a ação dos bandidos.
— Os “malas” dizem que não tem quadra melhor pra roubar, já que ninguém enxerga nada.
A administração da cidade disse que em 2011 houve a instalação de um posto avançado de segurança pública na QN 10, a menos de dois quilômetros da QN 16. Um batalhão de polícia militar deve ser inserido na cidade. A área já foi reservada e aguarda agora a definição por parte da corporação.
De acordo com o motorista aposentado, uma reclamação constante dos moradores da quadra é a falta de um posto de saúde próximo. Ele se queixa, dizendo que antes havia um posto próximo, mas que este era provisório e foi para outro local.
— Fica bastante difícil pra gente. Temos que pegar ônibus, perguntar, ou ir pro Recanto das Emas. Isso quando não nos mandam para o Núcleo Bandeirante ou Plano Piloto.
Sobre o atendimento médico, a administração disse ter iniciado as tratativas junto à Secretaria de Saúde para a instalação de novos pontos de atendimento à população. Em 30 dias um posto de saúde deve ser inaugurado na cidade. Atualmente, o Riacho Fundo II tem 14 postos de saúde comuns e da família, que possui capacidade de atendimento de 45 mil pessoas. A administração informou que a população da cidade corresponde a 40 mil pessoas.
Casas sem escrituras e falta de informação
Um dos moradores mais antigos da Vila dos Cegos, Wallace reclama a falta de estrutura das casas. Segundo ele, até houve um mutirão para regularização das casas. Mas a informação demorou a chegar e os moradores perderam o prazo. Em resposta, a administração do Riacho Fundo II diz que as escrituras, depois de 18 anos, estão em processo de regularização e que o processo deve ser concluído no segundo semestre deste ano.
Um dos moradores mais antigos da Vila dos Cegos, Wallace reclama a falta de estrutura das casas. Segundo ele, até houve um mutirão para regularização das casas. Mas a informação demorou a chegar e os moradores perderam o prazo. Em resposta, a administração do Riacho Fundo II diz que as escrituras, depois de 18 anos, estão em processo de regularização e que o processo deve ser concluído no segundo semestre deste ano.
Wallace diz que, às vezes, o GDF manda folhetos, o que fica difícil já que falta a sinalização em braile. O órgão diz que tem vários canais de comunicação com a sociedade, como atualização dos sites e presença nas redes sociais.