Desde uma concepção das patologias como tipos de “organizações psicobiológicas diferentes” e não como “desorganizações da normalidade”, nos deparamos com a necessidade de uma escuta diferenciada da criança autista ou que sofra de transtornos globais do desenvolvimento.
No trabalho de musicoterapia com essas crianças que nos apresentam aparentemente “desconectadas”, ausentes em sua presença, rítmicas em seus rituais e em suas estereotipias, melódicas em suas ecolalias e em seus gritos e harmônicas em suas desarmonias, partimos em busca de uma estrutura sonora, temporal, corporal, e espacial genuína. Tentamos ao máximo oferecer para a criança autista um espaço em que encontre equilíbrio e respeito entre o seu agir e suas possibilidades criativas.
Durante as sessões de musicoterapia, infinitas possibilidades comunicativas se abrem e podem se iniciar com um simples ato de imitação de um gemido, com diálogos que se estabelecem através dos movimentos corporais ou ainda com jogos sonoros que se iniciam pela transposição das estereotipias motoras para um tambor, violão ou qualquer outro instrumento musical, motivando assim, por exemplo, uma mudança qualitativa na relação da criança com objetos e com o musicoterapeuta.
Cada criança apresenta um pout-porri de movimentos, olhares, ritmos, melodias que desafiam o musicoterapeuta na busca permanente de recursos comunicacionais criativos em busca da ampliação e abertura de novos canis de comunicação.
Em musicoterapia não avaliamos um diagnóstico, mas sim como um determinado Ser Humano se expressa e se relaciona no contexto não-verbal e musical. Trabalhar com uma criança autista é desenvolver uma escuta que tenta dominar o tempo e o espaço e que, principalmente, entenda que estamos nos comunicando com sujeitos ricos em subjetividade e mais ricos ainda em suas individualidades:
Um sujeito com seu corpo e sua voz.
Um sujeito com suas ressonâncias.
Um sujeito com sua história e seu presente.
Um sujeito com seus espaços e suas distâncias.
Um sujeito com suas presenças e suas ausências.
Um sujeito com seus silêncios e seus ritmos.
Um sujeito com sua identidade atuante.
Um sujeito que é principalmente um Ser Humano.
Wanderley Alves Junior
Musicoterapeuta graduado em 2005 pela faculdade UniFMU (São Paulo);
título de Magíster no Modelo Benenzon de Musicoterapia pela Fundación Benenzon para la Salud Comunitaria – 2008 (Buenos Aires – Argentina). Musicoterapeuta clínico na área de saúde mental infantil e adulto desde 2006. Atualmente é musicoterapeuta da ABADS – Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social.
Musicoterapia
Por Wanderley Alves Junior
A musicoterapia é uma terapia que utiliza música, sons, dança e instrumentos musicais como recursos no tratamento e prevenção de problemas de saúde. Durante as sessões de musicoterapia o musicoterapeuta e a pessoa que buscou o tratamento se comunicam e interagem fazendo música.
O ato de fazer música, além de ser prazeroso, é carregado de emoções, afetos e diz muito sobre a pessoa. Para realizar o tratamento om musicoterapia não é necessário saber música ou tocar algum instrumento. O tratamento musicoterapêutico tem por objetivo principal melhorar a qualidade de vida do indivíduo através da abertura e ampliação de canais de comunicação do indivíduo com o mundo e do autoconhecimento.
O musicoterapeuta é um profissional que cursou uma faculdade de musicoterapia com duração de quatro anos, portanto possui conhecimentos necessários para conduzir as sessões e o tratamento. Os atendimentos musicoterapêuticos podem ser realizados em consultório, em residência ou ainda em instituições e empresas.
A musicoterapia inserida no paradigma da inclusão é um instrumento potente, visto que valoriza e resgata aspectos únicos e essenciais de cada ser humano, respeitando seu tempo e espaço em um determinado ambiente e comunidade.
Através da música, que traz naturalmente a agregação entre as pessoas, a musicoterapia busca a espontaneidade, a expressividade e a criatividade, fatores importantes para o sentimento de “ser no mundo”, de bem estar, de autovalorização e satisfação pessoal.
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