Criado na antiga União Soviética, o método de Ilizarov ainda é pouco difundido no Brasil, mas tem sido uma das melhores alternativas para vítimas de fraturas graves
A maior importância do método é que evita infecções - O médico Arício Tavares
Estava disposto a qualquer tratamento para não perder minha perna, diz o estudante Nelson Pereira Neto
O estudante de engenharia civil Nelson Pio Iannicelli Pereira Neto, 26 anos, nunca foi apaixonado por motocicletas ou velocidade. Na verdade, ele só circulava de moto esporadicamente, geralmente a passeio. Foi justamente num desses passeios dentro da cidade de Porecatu (Norte), quando visitava familiares, que ele sofreu um acidente que mudou totalmente sua vida. Além de ter passado longos meses dentro do hospital, os médicos cogitaram até mesmo a amputação de sua perna direita. Graças ao fixador dinâmico externo Ilizarov, Neto teve sua perna salva e mais: teve condições de se locomover sozinho durante boa parte do tratamento.
Pessoas que perdem tecido ósseo das pernas e também dos braços devido a fraturas e infecções provocadas por acidentes podem voltar a ter seus membros funcionando normalmente. Inventado há quarenta anos pelo russo Gavriil Abramovich Ilizarov, o aparelho é usado na fixação do osso para alongar membros, corrigir pseudoartroses, auxiliar cicatrizações de fraturas, além de proporcionar condições ao organismo de reconstituir a massa óssea de forma gradual.
Segundo o médico ortopedista Arício Tavares, a eficácia do procedimento se dá justamente por ele não proporcionar contato direto com a fratura, evitando assim infecções durante o tratamento. ''A maior importância do método é que evita infecção, porque nos métodos tradicionais, com placas ou parafuso, há um contato direto com o osso doente, fraturado, e isso dificulta o tratamento. Com o Ilizarov conseguimos corrigir deformidades ósseas, casos de pacientes que ficaram com a perna torta depois de fraturas, artrose, pernas tortas, etc'', diz.
No caso de Neto, após o acidente, os médicos colocaram em sua perna um fixador monoplanar, uma espécie de fixador interno utilizado temporariamente para que sua perna se mantivesse estável até novos procedimentos cirúrgicos. Com o tempo, as pontas dos ossos quebrados deixaram de receber irrigação, o que fez com que essas partes necrosassem. ''O médico chegou pra mim e disse que o caso era muito sério. Depois que resolvemos tentar de tudo para não amputar, cerca de seis a oito centímetros de osso precisou ser cortado porque ficaram pretos, necrosaram. Então me foi oferecido o Ilizarov, aceitei na hora. Estava disposto a qualquer procedimento para não ter que perder minha perna'', lembra Neto.
Depois de dois meses dentro do hospital, Neto ainda precisou ficar cinco meses numa cadeira de rodas, depois passou a andar de muletas e então sozinho, como está hoje. Em sua própria residência ele faz a manutenção e limpeza do aparelho. ''Eu ia girando os pinos em torno de um quarto de volta a cada seis horas. No começo dói um pouco, depois você nem sente mais'', comenta.
A implantação do aparelho é custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e tem cobertura de diversos planos de saúde. Segundo Tavares, a cada manipulação das cordas presas dentro da tíbia (osso da perna) - que o próprio paciente faz em casa -, o osso se move um pouco, estimulando, assim, o organismo a produzir mais massa óssea na região acima da fratura, fazendo com que o osso se regenere lentamente.
''É um tratamento demorado mas que faz com que o paciente ganhe sua perna de novo e não tenha que se submeter a amputações e, consequentemente, ter que passar o resto de sua vida utilizando uma prótese. A maior dificuldade que enfrentamos ainda é a própria aceitação dos pacientes por causa da questão estética e o incômodo que o aparelho traz, mas com certeza o método ainda é a melhor solução para casos mais graves de fraturas tanto na perna e coxa como também em braço e antebraço'', finaliza.
Fernanda Borges - Reportagem Local
Folha de Londrina
A maior importância do método é que evita infecções - O médico Arício Tavares
Estava disposto a qualquer tratamento para não perder minha perna, diz o estudante Nelson Pereira Neto
O estudante de engenharia civil Nelson Pio Iannicelli Pereira Neto, 26 anos, nunca foi apaixonado por motocicletas ou velocidade. Na verdade, ele só circulava de moto esporadicamente, geralmente a passeio. Foi justamente num desses passeios dentro da cidade de Porecatu (Norte), quando visitava familiares, que ele sofreu um acidente que mudou totalmente sua vida. Além de ter passado longos meses dentro do hospital, os médicos cogitaram até mesmo a amputação de sua perna direita. Graças ao fixador dinâmico externo Ilizarov, Neto teve sua perna salva e mais: teve condições de se locomover sozinho durante boa parte do tratamento.
Pessoas que perdem tecido ósseo das pernas e também dos braços devido a fraturas e infecções provocadas por acidentes podem voltar a ter seus membros funcionando normalmente. Inventado há quarenta anos pelo russo Gavriil Abramovich Ilizarov, o aparelho é usado na fixação do osso para alongar membros, corrigir pseudoartroses, auxiliar cicatrizações de fraturas, além de proporcionar condições ao organismo de reconstituir a massa óssea de forma gradual.
Segundo o médico ortopedista Arício Tavares, a eficácia do procedimento se dá justamente por ele não proporcionar contato direto com a fratura, evitando assim infecções durante o tratamento. ''A maior importância do método é que evita infecção, porque nos métodos tradicionais, com placas ou parafuso, há um contato direto com o osso doente, fraturado, e isso dificulta o tratamento. Com o Ilizarov conseguimos corrigir deformidades ósseas, casos de pacientes que ficaram com a perna torta depois de fraturas, artrose, pernas tortas, etc'', diz.
No caso de Neto, após o acidente, os médicos colocaram em sua perna um fixador monoplanar, uma espécie de fixador interno utilizado temporariamente para que sua perna se mantivesse estável até novos procedimentos cirúrgicos. Com o tempo, as pontas dos ossos quebrados deixaram de receber irrigação, o que fez com que essas partes necrosassem. ''O médico chegou pra mim e disse que o caso era muito sério. Depois que resolvemos tentar de tudo para não amputar, cerca de seis a oito centímetros de osso precisou ser cortado porque ficaram pretos, necrosaram. Então me foi oferecido o Ilizarov, aceitei na hora. Estava disposto a qualquer procedimento para não ter que perder minha perna'', lembra Neto.
Depois de dois meses dentro do hospital, Neto ainda precisou ficar cinco meses numa cadeira de rodas, depois passou a andar de muletas e então sozinho, como está hoje. Em sua própria residência ele faz a manutenção e limpeza do aparelho. ''Eu ia girando os pinos em torno de um quarto de volta a cada seis horas. No começo dói um pouco, depois você nem sente mais'', comenta.
A implantação do aparelho é custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e tem cobertura de diversos planos de saúde. Segundo Tavares, a cada manipulação das cordas presas dentro da tíbia (osso da perna) - que o próprio paciente faz em casa -, o osso se move um pouco, estimulando, assim, o organismo a produzir mais massa óssea na região acima da fratura, fazendo com que o osso se regenere lentamente.
''É um tratamento demorado mas que faz com que o paciente ganhe sua perna de novo e não tenha que se submeter a amputações e, consequentemente, ter que passar o resto de sua vida utilizando uma prótese. A maior dificuldade que enfrentamos ainda é a própria aceitação dos pacientes por causa da questão estética e o incômodo que o aparelho traz, mas com certeza o método ainda é a melhor solução para casos mais graves de fraturas tanto na perna e coxa como também em braço e antebraço'', finaliza.
Fernanda Borges - Reportagem Local
Folha de Londrina