Na primavera de 1996, tive meu primeiro encontro com a comunidade de amputados e devotees. Conectei a Internet, digitei "amputada" em um site de busca, e me vi confrontada com um mundo que jamais soube que existisse. Os endereços de vários websites apareceram diante de mim, todos eles prometendo companhia e amizade para pessoas amputadas. Estes sites ofereciam sala de bate-papo, anunciavam oportunidades e locais onde os devotees e as pessoas amputadas poderiam se encontrar, continham anúncios pessoais e vendiam fotografias e vídeos de mulheres amputadas. Porém, os websites pareciam ter, principalmente, o objetivo de explicar e defender as ações e motivações dos devotees. "Devotees," rapidamente aprendi, eram homens e mulheres que se sentiam atraídos por pessoas com amputações e outras deficiências. Em outras palavras, homens atraídos por mim.
Uma comunidade arrepiante
Tive uma estranha sensação de familiaridade, quando visitei esses sites, apesar de nunca ter ouvido falar sobre devotees antes. A familiaridade, contudo, era devida não tanto a um sentido de comunhão, mas a um sentimento de resignação. Devido aos olhares e respostas hostis que recebia nas ruas, eu me sentia perturbadoramente sem atrativos , convencida de que ninguém poderia amar alguém como eu. Ninguém - isto é - exceto um devotee. Visitando aqueles sites, percebi que as pessoas que me encaravam na rua não eram a aberração, os devotees é que eram. O mero fato de eles estarem agrupados na Internet para defenderem seu desejo por mulheres amputadas testemunhava a natureza singular de sua atração. A retórica defensiva desses sites confirmou meu temor de que a sociedade visse as mulheres como eu como sem atrativos e indesejáveis. Caso contrário - argumentei comigo mesma - por que tais organizações seriam necessárias? O descobrimento da comunidade de amputados e devotees on-line me encheu de resignação: ela parecia oferecer minha única chance de comunhão, apoio e companhia. Eu estava, subitamente, incluída numa comunidade da qual eu não queria fazer parte, uma comunidade que me arrepiava até os ossos.
Reenfocando as Mulheres
Em meus primeiros encontros com os grupos de amputados e devotees as mulheres deficientes nestas organizações eram invisíveis para mim. Apesar de minha intenção original de aprender mais sobre as mulheres amputadas, apesar do espaço na Internet dedicado às fotografias e histórias dessas mulheres, tudo o que eu podia ver eram as histórias dos devotees. A idéia de um fetichismo pela deficiência era tão nova para mim que esqueci das mulheres tentando entender os homens. Com o passar do tempo, e como eu me interessei pelas barreiras específicas que as mulheres com deficiência tinham que enfrentar, me vi retornando para as mulheres amputadas envolvidas nestes grupos. O que elas encpntravam nessa comunidade de amputados e devotees que eu não estava entendendo? Embora, eu tivesse ignorado estas mulheres em minhas primeiras inserções no grupo, agora me via compelida a conhecer suas histórias. O que motivava o envolvimento delas em organizações que muitas pessoas percebiam como exploradoras e detestáveis? Que possíveis benefícios resultariam da interação delas com outras pessoas com amputações e com os devotees?
Acho este tipo de pergunta intrigante porque a maioria das pesquisas publicadas sobre a comunidade de amputados e devotees focalizou exclusivamente os devotees. Não foram levantadas questões sobre as experiências e motivações das mulheres amputadas envolvidas em tais grupos e elas constituem a inspiração para este artigo. No outono de 1999, voltei à comunidade de amputados e devotees e perguntei a Jama Bennett, a fundadora da Coalizão Mundial de Apoio aos Amputados (ASCOTWorld), se ela estava disposta a discutir o grupo e sua participação nessa comunidade. Comecei uma exploração preliminar entre as mulheres amputadas para descobrir como elas percebiam a ASCOTWorld e sua função na vida delas. A própria Bennett sugere que a ASCOTWorld é um lugar de empoderamento para mulheres amputadas, resistindo aos estereótipos culturais dominantes sobre a assexualidadee das mulheres deficientes.
Neste artigo, discuto este potencial de resistência. Argumento que, embora a participação de mulheres deficientes na ASCOTWorld possa não romper fundamentalmente com o discursos dominante a respeito da assexualidade das mulheres com deficiências, essa participação tem um efeito positivo em suas vidas. O potencial de resistênciada ASCOTWorld deve ser entendido como uma negociação entre seus efeitos na cultura envolvente e seu impacto na vida pessoal de cada mulher deficiente.
Estereótipos ePatologia
Discutindo as presuposições das pessoas não-deficientes em relação às portadoras de deficiências, Jama Bennett afirma que "há uma devastadora percepção, por parte da comunidade temporariamente não-deficiente, de que as pessoas deficientescias são assexuadas e eternamente infantis". Devido a este estereótipo, acrescenta ela, "muitas mulheresque tiveram amputações recentes (incluindo eu mesma) imaginam se ainda podem ser desejáveis ou atraentes para um homem novamente". As observações de Bennett originam-se em suas próprias experiências, numa cultura na qual a sexualidade do corpo deficiente, particularmente do corpo feminino deficiente, é continuamente ignorada, negada ou patologizada.
A maioria da literatura sobre a comunidade de amputados e devotees perpetua estes estereótipos. A maior parte dos estudos focaliza, principalmente os devotees retratando as amputadas como silenciosos e passivos objetos do desejo masculino. Além disso, porque esta literatura, analisa as causas e as repercussões da atração dos devotees por amputadas, isto elenca a atração como uma patologia, que deve ser tratada ou eliminada. Não quero debater o mérito médico desse diagnóstico. Particularmente, quero iluminae as concepções culturais sobre a sexualidade das mulheres deficientes que subjazem a tal caracterização. Se classificamos os devotees como "doentes", o que estamos dizendo a respeito da desejabilidade de mulheres deficientes? É patológico achar atraente uma mulher deficiente? Mulheres amputadas não são vistas nessas discussões destas questões e quando aparecem é apenas como vítimas que foram molestadas ou enganadas por devotees.
Fetiche, Pornografia Ou?
Algumas feministas reforçam esta tendência quando vêem os devotees como praticantes de uma forma perigosa de pornografia. R. Amy Elman, por exemplo, afirma que as publicações de devotees contribuem "para que as mulheres e meninas, particularmente as deficientes, continuem a ser consideradas e tratadas como de segunda categoria" . Ela examina várias edições da Amputee Times, revista dirigida aosdevotees, que focaliza "a fetichização da vulnerabilidade feminina" e os comentários de devotees a respeito da compilação de um catálogo de mulheres deficientes atraentes. Embora eu concorde com Elman que o comportamento de alguns devotees é preocupante, particularmente a intenção de criar um banco de dados de amputadas "disponíveis", alguns dos comentários dela também me preocupam. Elman vê as mulheres deficientes apenas como vítimas objetificadas, carentes de proteção; não como agentes ou sujeitos. Além disso, ela ignora as mulheres que se vê na pornografia com deficientes e só discute os fotógrafos e editores dessa imaginária. Ao fazer isso ela sugere que as mulheres deficientes só estariam interessadas em posar para imagens "sexy" se fossem enganadas ou coagidas a fazê-lo.
Freqüentemente, as mulheres deficientes são dissuadidas de qualquer forma de expressão sexual, e as mulheres que residem em instituições enfrentam censuras particularmente rudes à sua exualidade. Gayla Frank discute a experiência de Dianne DeVries, uma amputada quadrilateral que frequentemente encontrou críticas sobre suas escolhas de vestuário no centro de reabilitação. Frank explica que a equipe médica designada para DeVries queria que el\a usasse cosméticas pernas protéticas e braços braços protéticos, mangas compridas e saias largas e longas para diminuir sua aparência de deficiente. Sua recusa em usar estes dispositivos consternava seus médicos, que consideravam sua decisão como um sinal "desajustamento" mais do que de independência. Sua preferência por vestidos sem manga e tops de mangas curtas eram ainda mais enervantes para a equipe, que considerava sua aparência "sem atrativos e possivelmenteperturbadora". Sua equipe médica sugeria roupas mais discretas não para facilitar suas funções físicas, mas para tornar sua aparência menos chocante para os outros. No intuito de tornar invisíveis as deficiências de DeVries, seus médicos efetivamente tornaram DeVries invisível: suas opiniões e desejos sobre seu próprio corpo e deficiência foram ignorados no julgamentos deles de suas escolhas e ações, consideradas desviantes, mal ajustadas e sem sem atrativo.
Escondendo e Disfarçando
O impulso para esconder a deficiência é forte. Embora DeVries tenha se rebelado contra os pedidos de seus doutores para que ela cobrisse seus cotos com roupas e próteses cosméticas, muitos amputados voluntariamente usam roupas folgadas como camuflagem para suas deficiências. A atitude expressa pelos médicos de DeVries - de que um coto amputado visível é "sem atrativo e perturbador" é a única que muitos amputados têm encontrado. Este ponto de vista dos "especialistas", combinadose com a relativa ausência de imagens de amputados na mídia e na esfera pública, desencoraja os amputados de tornar visíveis os seus corpos alterados ou abreviados. A construção cultural das mulheres com deficiências como assexuadas, desviantes e e sem atrativos afeta sua auto-percepçãao e sua auto-representação, impelindo-as a disfarçar - e se envergonhar de - suas deficiências. Como a própria Bennett declara: "Eu usei saias e vestidos longos durante dez anos, nunca shorts ou bermudas, para esconder meu coto, porque eu sentia que devria mantê-lo escondido" .
No correr de sete anos, desde o seu primeiro encontro com a comunidade de devotees, Bennett mudou dramaticamente, sua atitude em relação ao próprio corpo. "Depois que eu descobri sobre os devotees", ela explica, "comecei a usar bermudas, shorts e maiôs que deixam à mostra meu coto. Eu me dei conta de que esta é apenas minha perna, e se alguém prefere não vê-la, pode simplesmente não olhar" . Os comentários de Bennett revelam o impacto imediato que a comunidade de devotees causou em sua autoconfiança. Simplesmente saber da existência de homens que a achariam atraente por sua amputação, e não apesar dela, fez com que mudasse radicalmente a compreensão de sua deficiência e foi essa mudança que a levou a se envolver na ASCOTWorld e à sua interpretação da organização como um lugar de resistência.
Lolly Gibbs, uma amputada por problemas com diabetes, envolveu-se com a ASCOTWorld logo após perder seu noivo. Ele a deixou após a amputaçãao porque não conseguiu adaptar-se à sua dependência de uma cadeira de rodas. Gibbs, eventualmente, encontrou dois membros da comunidade de devotees, através de um anúncio em um jornal local. "Nunca tinhaouvido falar de devotees", explica, "mas os dois homens eram muito simpáticos, atenciosos e compreensivos. Eles me deram muito o que ler e aprender sobre suas preferências e me falaram dos Fins-de-Semana Fascinação". Após ir a uma série de Fins de Semana e freqüentar a ASCOTWorld, Gibbs apresentou uma transformação como a de Bennett: "Finalmente me senti fazendo parte...atraente e até mesmo sexy. Não me envergonhava mais de ser vista em público" .
Empoderamento e Valorização
Ambas, Gibbs e Bennett, descrevem seus encontros com os devotees como experiências fortalecedoras. Após serem tratadas constantemente como feiaas e assexuadas, essas mulheres encontraram homens que as achavam mais desejáveis que as mulheres não deficientes. Valorizando as mulheres com deficiências, os devotees parecem ignorar os ideais dominantes de beleza, escolhendo mulheres que outros homens rejeitaram como sendo não-sexy e não-desejáveis. Bennett explica que qualquer coisa que dê às mulheres deficientes mais confiança ou crença em sua sexualidade é positiva e ela confia em organizações como aASCOTWorld para fazer exatamente isto por ela e para inúmeras outras mulheres.
Bennett considera que na ASCOTWorld, a refutação da assexualidade das mulheres deficientes extende-se paraa vendas de suas fotos e vídeos e a veiculação de suas imagens em sites da Internet, acessados só por assinantes. Bennett estima que existam mais de 28.000 instantâneos de mulheres deficientes. Qualquer amputada que queira posar para fotos ou participar de vídeos recebe assistência de Bennet e daASCOTWorld. Muitos desses vídeos são vendidos por US$100,00, dos quais 60% vão para a modelo e 40% ficam na Associação para cobrir custos de "reprodução, postagem,mão-de-obra e propaganda". Os vídeos são destinados à promoção pessoal, apresentando "mulheres solteiras para devotees que possam querer conhecê-las nas reuniões de fim de semana" . ASCOTWorld não é o único grupo a oferecer tais serviços. A CD Produções, operada por Carol Davis é outra organização que produz e distribui fotos e vídeos de mulheres amputadas.
Amante de Uma Perna Só
Ambas, Davis e Bennett, asseguram que estas fotos e vídeos são benéficos para as modelos não só do ponto de vista financeiro como também por promover um aumento em sua autoconfiança e maior consciência de sua sexualidade. Joy, uma das modelos da CD, explica: "Eu sei o que é ser rejeitada por homens por causa da falta de um membro. Sinto-me gratificada por ser admirada como eu sou" . Outras mulheres fazem eco a Joy. Kath Duncan, em seu VT "Minha Amante de Uma Perna Só", comenta como foi excitante essa sessão de fotos, pois foi capaz de colocar todo seu corpo à mostra e sentir seus cotos como sendo sexy. Estes comentários sugerem que encontrar um ambiente no qual seus corpos sejam não apenas aceitos mas apreciados parece produzir um formidável impacto na auto-estima das mulheres deficientes.
A proliferação de imagens representando deficientes como sexy e atraentes poderá ser benéfica não só para as modelos mas também para todas as deficientes. Jane Elder Bogle e Susan L. Shaul contam que um dos maiores problemas para a expressão da sexualidade das mulheres com deficiência é a falta de exemplos. Para muitas mulheres, particularmente as que sofrem amputações em uma idade mais avançada, é difícil aprender a incorporar cadeira de rodas, próteses, cicatrizes e braçadeiras à idéia das coisas "sexies" . ASCOTWorld é um dos poucos lugares onde uma mulher amputada encontra imagens de mulheres que são iguais a ela e que estão incorporando suas deficiências às suas noções de sexy. Ao divulgar essas imagens, ASCOTWorld as provê de com modelos de integração entre sexualidade e deficiência para resistir à assexualizaação imposta sobre elas pela cultura não deficiente .
Propriedade e Gerencia de Mulheres
Além disso, como notou Barbara Waxman Fiduccia, muitas das organizações de devotees são dirigidas atualmente por amputadas . Fascinação, ASCOTWorld e Produções CD são propriedade de e são dirigidas por amputadas. Elas decidem a forma de conduzir e os estatutos das organizações. Todo o lucro dos vídeos e das fotos é entregue às modelos. Waxman Fiduccia enfatiza o aspecto radical dessas empresas que é: elas possibilitaram às mulheres deficientes arrancar suas vidas sexuais do controle dos médicos, psicólogos e, por extensão, dos próprios devotees. As mulheres rstão no controle de sua própria produção.
Embora ainda sinta algum desconforto a respeito da noção de devotees, começo a sentir uma afinidade em relação às as modelos amputadas e empresáriaasr. Essas mulheres estão se recusando a aceitar em silêncio os estereótipos impostos a elas pela cultura dos não deficientes. Ao afirmar ativamente seu direito a falar sobre, usar e dispor de seus corpos da forma como consideram adequada, elas estão dando poderosos exemplos de modos alternativos de se observar o corpo feminino com deficiência.
De qualquer forma, o impacto que essas imagens causam na sociedade em geral ainda precisa ser determinado. Mesmo que a participação na comunidade dedevotees possa mudar a percepção que algumas mulheres têm de si mesmas, isto pode não ter nenhum efeito sobre o juízo que as pessoas não deficientes fazem delas. De fato, algumas pessoas podem entender a formação de grupos como ASCOTWorld como prova de que pessoas deficientes são completamente Outro. A existência da comunidade dos devotees pode levar a crer que somente eles podem achar mulheres deficientes atraentes; e que sentir desejo por uma mulher deficiente é uma "condição" que só "afeta" alguns membros "desviantes" da maioria da população. Tais pontos de vista não estão limitados aos não-deficientes. Eu, no princípio, via os sites como o ASCOTWorld não como uma prova de minha desejabilidadeda, mas de indesejabilidade. Visto dessa maneira, o envolvimento das amputadas na comunidade devotee pode reiterar a noção de que as mulheres deficientes são assexuadas e de que não são desejáveis, negando desse modo, o potencial de resistência da ASCOTWorld.
Valores e Preconceitos
A comunidade de devotees ainda reflete muitos dos valores da sociedade em geral e seus preconceitos. No vídeo "Minha Amante de Uma Perna Só", Duncan expressa sua decepção ao descobrir que os devotees são tão críticos em relação aos corpos das mulheres quanto os outros homens. Podem ir contra a corrente ao considerar cotos sensuais, mas também criticam mulheres que são gordas ou feias. Em outras palavras, os devotees não estão numa esfera utópica na qual a beleza e a aparência física sejam irrelevantes. Rrejeitando o estereótipo de que as mulheres deficientes são indesejáveis muitos devotéed perpetuam, ao mesmo tempo, os ideais hegemônicos de beleza.
Além disso, alguns segmentos dos amputados e devotees refletem o heterossexismo que permeia a cultura ocidental. Embora haja vários sites na Internet destinados a homens amputados e devotees gays, os sites destinados a lésbicas são menos comuns. Um dos poucos sites para lésbicas que descobri é freqüentado principalmente por homens devotees heterossexuais à procura de "deusas do amor lésbicas e amputadas. Esse site foi atacado, pelo menos uma vez, com comentários e desenhos homofóbicos. Outro exemplo eloquente desse preconceito é a opinião de uma mulher amputada com quem conversei: ela acha que a existência de deficientes lésbicas é uma prova da necessidade dos devotees. Segundo ela, muitas mulheres com deficiências se tornam lésbicas porque não podem encontrar parceiros masculinos. Para ela, se essas mulheres conhecessem os homens devotees não seriam "forçadas" a se tornar lésbicas para ter relacionamentos saudáveis. Seus comentários refletem o preconceito cultural segundo o qual todas as lésbicas são heterossexuais fracassadas. Embora tais crenças não sejam exclusivas da comunidade de amputadas/devotées, ela sugere que a comunidade pode ser fortalecedora apenas para algumas mulheres deficientes. Assim, nesta comunidade, a sexualidade de lésbicas deficientes é negada, patologizada e/ou ignorada.
Molestamento e Agressão
Também quero ressaltar que nem todas as mulheres deficientes partilharam a experiências com devotees como receptivas e fortalecedoras. Muitas mulheres deficientes tiveram encontros assustadorres com fetichistas por deficência, inclusive sendo perseguidas por devotees que as fotografaram sem sua permissão. Outras mulheres, incluindo eu mesma, tiveram seus nomes e descrições físicas disseminados pela comunidade de devotees sem seu conhecimento ou consentimento. Embora nem todos os devotees se comportem dessa maneira excusa, alguns têm, o que faz com que algumas mulheres com deficiências desconfiem da comunidade toda. O potencial da ASCOTWorld de contribuir para a elevação da auto-estima sexual das mulheres deficientes deve ser pesado contrapondo-se-lhe o molestamento por devotées que algumas mulheres têm experimentado.
Embora estas preocupações sejam importantes e acusações de coerção e molestamento, não devam ser descartadas, os efeitos de ASCOTWorld não podem ser considerados como completamente negativos. Para Bennett e as mulheres amputadas de ASCOTWorld, sua participação na comunidade de amputados e devotees mudou totalmente sua percepção da própria deficiência. Assim, para algumas mulheresdeficientes, ASCOTWorld atua como um lugar de resistência pessoal que lhes permite restaurar a auto-estima, independência e atividade sexual. Embora posar para fotografias e participar de conferências não possa contribuir, fundamentalmente, para alterar ou desmantelar os estereótipos sobre o corpo feminino deficiente, o impacto que elad acreditam que tais atividades tiveram em suas vidas pessoais não deveria ser ignorado. Nas palavras de Lolly Gibbs: "Finalmente eu mesentia pertencer a algo, que eu era atraente e até mesmo sensual. Eu não estava mais envergonhada..."
Uma comunidade arrepiante
Tive uma estranha sensação de familiaridade, quando visitei esses sites, apesar de nunca ter ouvido falar sobre devotees antes. A familiaridade, contudo, era devida não tanto a um sentido de comunhão, mas a um sentimento de resignação. Devido aos olhares e respostas hostis que recebia nas ruas, eu me sentia perturbadoramente sem atrativos , convencida de que ninguém poderia amar alguém como eu. Ninguém - isto é - exceto um devotee. Visitando aqueles sites, percebi que as pessoas que me encaravam na rua não eram a aberração, os devotees é que eram. O mero fato de eles estarem agrupados na Internet para defenderem seu desejo por mulheres amputadas testemunhava a natureza singular de sua atração. A retórica defensiva desses sites confirmou meu temor de que a sociedade visse as mulheres como eu como sem atrativos e indesejáveis. Caso contrário - argumentei comigo mesma - por que tais organizações seriam necessárias? O descobrimento da comunidade de amputados e devotees on-line me encheu de resignação: ela parecia oferecer minha única chance de comunhão, apoio e companhia. Eu estava, subitamente, incluída numa comunidade da qual eu não queria fazer parte, uma comunidade que me arrepiava até os ossos.
Reenfocando as Mulheres
Em meus primeiros encontros com os grupos de amputados e devotees as mulheres deficientes nestas organizações eram invisíveis para mim. Apesar de minha intenção original de aprender mais sobre as mulheres amputadas, apesar do espaço na Internet dedicado às fotografias e histórias dessas mulheres, tudo o que eu podia ver eram as histórias dos devotees. A idéia de um fetichismo pela deficiência era tão nova para mim que esqueci das mulheres tentando entender os homens. Com o passar do tempo, e como eu me interessei pelas barreiras específicas que as mulheres com deficiência tinham que enfrentar, me vi retornando para as mulheres amputadas envolvidas nestes grupos. O que elas encpntravam nessa comunidade de amputados e devotees que eu não estava entendendo? Embora, eu tivesse ignorado estas mulheres em minhas primeiras inserções no grupo, agora me via compelida a conhecer suas histórias. O que motivava o envolvimento delas em organizações que muitas pessoas percebiam como exploradoras e detestáveis? Que possíveis benefícios resultariam da interação delas com outras pessoas com amputações e com os devotees?
Acho este tipo de pergunta intrigante porque a maioria das pesquisas publicadas sobre a comunidade de amputados e devotees focalizou exclusivamente os devotees. Não foram levantadas questões sobre as experiências e motivações das mulheres amputadas envolvidas em tais grupos e elas constituem a inspiração para este artigo. No outono de 1999, voltei à comunidade de amputados e devotees e perguntei a Jama Bennett, a fundadora da Coalizão Mundial de Apoio aos Amputados (ASCOTWorld), se ela estava disposta a discutir o grupo e sua participação nessa comunidade. Comecei uma exploração preliminar entre as mulheres amputadas para descobrir como elas percebiam a ASCOTWorld e sua função na vida delas. A própria Bennett sugere que a ASCOTWorld é um lugar de empoderamento para mulheres amputadas, resistindo aos estereótipos culturais dominantes sobre a assexualidadee das mulheres deficientes.
Neste artigo, discuto este potencial de resistência. Argumento que, embora a participação de mulheres deficientes na ASCOTWorld possa não romper fundamentalmente com o discursos dominante a respeito da assexualidade das mulheres com deficiências, essa participação tem um efeito positivo em suas vidas. O potencial de resistênciada ASCOTWorld deve ser entendido como uma negociação entre seus efeitos na cultura envolvente e seu impacto na vida pessoal de cada mulher deficiente.
Estereótipos ePatologia
Discutindo as presuposições das pessoas não-deficientes em relação às portadoras de deficiências, Jama Bennett afirma que "há uma devastadora percepção, por parte da comunidade temporariamente não-deficiente, de que as pessoas deficientescias são assexuadas e eternamente infantis". Devido a este estereótipo, acrescenta ela, "muitas mulheresque tiveram amputações recentes (incluindo eu mesma) imaginam se ainda podem ser desejáveis ou atraentes para um homem novamente". As observações de Bennett originam-se em suas próprias experiências, numa cultura na qual a sexualidade do corpo deficiente, particularmente do corpo feminino deficiente, é continuamente ignorada, negada ou patologizada.
A maioria da literatura sobre a comunidade de amputados e devotees perpetua estes estereótipos. A maior parte dos estudos focaliza, principalmente os devotees retratando as amputadas como silenciosos e passivos objetos do desejo masculino. Além disso, porque esta literatura, analisa as causas e as repercussões da atração dos devotees por amputadas, isto elenca a atração como uma patologia, que deve ser tratada ou eliminada. Não quero debater o mérito médico desse diagnóstico. Particularmente, quero iluminae as concepções culturais sobre a sexualidade das mulheres deficientes que subjazem a tal caracterização. Se classificamos os devotees como "doentes", o que estamos dizendo a respeito da desejabilidade de mulheres deficientes? É patológico achar atraente uma mulher deficiente? Mulheres amputadas não são vistas nessas discussões destas questões e quando aparecem é apenas como vítimas que foram molestadas ou enganadas por devotees.
Fetiche, Pornografia Ou?
Algumas feministas reforçam esta tendência quando vêem os devotees como praticantes de uma forma perigosa de pornografia. R. Amy Elman, por exemplo, afirma que as publicações de devotees contribuem "para que as mulheres e meninas, particularmente as deficientes, continuem a ser consideradas e tratadas como de segunda categoria" . Ela examina várias edições da Amputee Times, revista dirigida aosdevotees, que focaliza "a fetichização da vulnerabilidade feminina" e os comentários de devotees a respeito da compilação de um catálogo de mulheres deficientes atraentes. Embora eu concorde com Elman que o comportamento de alguns devotees é preocupante, particularmente a intenção de criar um banco de dados de amputadas "disponíveis", alguns dos comentários dela também me preocupam. Elman vê as mulheres deficientes apenas como vítimas objetificadas, carentes de proteção; não como agentes ou sujeitos. Além disso, ela ignora as mulheres que se vê na pornografia com deficientes e só discute os fotógrafos e editores dessa imaginária. Ao fazer isso ela sugere que as mulheres deficientes só estariam interessadas em posar para imagens "sexy" se fossem enganadas ou coagidas a fazê-lo.
Freqüentemente, as mulheres deficientes são dissuadidas de qualquer forma de expressão sexual, e as mulheres que residem em instituições enfrentam censuras particularmente rudes à sua exualidade. Gayla Frank discute a experiência de Dianne DeVries, uma amputada quadrilateral que frequentemente encontrou críticas sobre suas escolhas de vestuário no centro de reabilitação. Frank explica que a equipe médica designada para DeVries queria que el\a usasse cosméticas pernas protéticas e braços braços protéticos, mangas compridas e saias largas e longas para diminuir sua aparência de deficiente. Sua recusa em usar estes dispositivos consternava seus médicos, que consideravam sua decisão como um sinal "desajustamento" mais do que de independência. Sua preferência por vestidos sem manga e tops de mangas curtas eram ainda mais enervantes para a equipe, que considerava sua aparência "sem atrativos e possivelmenteperturbadora". Sua equipe médica sugeria roupas mais discretas não para facilitar suas funções físicas, mas para tornar sua aparência menos chocante para os outros. No intuito de tornar invisíveis as deficiências de DeVries, seus médicos efetivamente tornaram DeVries invisível: suas opiniões e desejos sobre seu próprio corpo e deficiência foram ignorados no julgamentos deles de suas escolhas e ações, consideradas desviantes, mal ajustadas e sem sem atrativo.
Escondendo e Disfarçando
O impulso para esconder a deficiência é forte. Embora DeVries tenha se rebelado contra os pedidos de seus doutores para que ela cobrisse seus cotos com roupas e próteses cosméticas, muitos amputados voluntariamente usam roupas folgadas como camuflagem para suas deficiências. A atitude expressa pelos médicos de DeVries - de que um coto amputado visível é "sem atrativo e perturbador" é a única que muitos amputados têm encontrado. Este ponto de vista dos "especialistas", combinadose com a relativa ausência de imagens de amputados na mídia e na esfera pública, desencoraja os amputados de tornar visíveis os seus corpos alterados ou abreviados. A construção cultural das mulheres com deficiências como assexuadas, desviantes e e sem atrativos afeta sua auto-percepçãao e sua auto-representação, impelindo-as a disfarçar - e se envergonhar de - suas deficiências. Como a própria Bennett declara: "Eu usei saias e vestidos longos durante dez anos, nunca shorts ou bermudas, para esconder meu coto, porque eu sentia que devria mantê-lo escondido" .
No correr de sete anos, desde o seu primeiro encontro com a comunidade de devotees, Bennett mudou dramaticamente, sua atitude em relação ao próprio corpo. "Depois que eu descobri sobre os devotees", ela explica, "comecei a usar bermudas, shorts e maiôs que deixam à mostra meu coto. Eu me dei conta de que esta é apenas minha perna, e se alguém prefere não vê-la, pode simplesmente não olhar" . Os comentários de Bennett revelam o impacto imediato que a comunidade de devotees causou em sua autoconfiança. Simplesmente saber da existência de homens que a achariam atraente por sua amputação, e não apesar dela, fez com que mudasse radicalmente a compreensão de sua deficiência e foi essa mudança que a levou a se envolver na ASCOTWorld e à sua interpretação da organização como um lugar de resistência.
Lolly Gibbs, uma amputada por problemas com diabetes, envolveu-se com a ASCOTWorld logo após perder seu noivo. Ele a deixou após a amputaçãao porque não conseguiu adaptar-se à sua dependência de uma cadeira de rodas. Gibbs, eventualmente, encontrou dois membros da comunidade de devotees, através de um anúncio em um jornal local. "Nunca tinhaouvido falar de devotees", explica, "mas os dois homens eram muito simpáticos, atenciosos e compreensivos. Eles me deram muito o que ler e aprender sobre suas preferências e me falaram dos Fins-de-Semana Fascinação". Após ir a uma série de Fins de Semana e freqüentar a ASCOTWorld, Gibbs apresentou uma transformação como a de Bennett: "Finalmente me senti fazendo parte...atraente e até mesmo sexy. Não me envergonhava mais de ser vista em público" .
Empoderamento e Valorização
Ambas, Gibbs e Bennett, descrevem seus encontros com os devotees como experiências fortalecedoras. Após serem tratadas constantemente como feiaas e assexuadas, essas mulheres encontraram homens que as achavam mais desejáveis que as mulheres não deficientes. Valorizando as mulheres com deficiências, os devotees parecem ignorar os ideais dominantes de beleza, escolhendo mulheres que outros homens rejeitaram como sendo não-sexy e não-desejáveis. Bennett explica que qualquer coisa que dê às mulheres deficientes mais confiança ou crença em sua sexualidade é positiva e ela confia em organizações como aASCOTWorld para fazer exatamente isto por ela e para inúmeras outras mulheres.
Bennett considera que na ASCOTWorld, a refutação da assexualidade das mulheres deficientes extende-se paraa vendas de suas fotos e vídeos e a veiculação de suas imagens em sites da Internet, acessados só por assinantes. Bennett estima que existam mais de 28.000 instantâneos de mulheres deficientes. Qualquer amputada que queira posar para fotos ou participar de vídeos recebe assistência de Bennet e daASCOTWorld. Muitos desses vídeos são vendidos por US$100,00, dos quais 60% vão para a modelo e 40% ficam na Associação para cobrir custos de "reprodução, postagem,mão-de-obra e propaganda". Os vídeos são destinados à promoção pessoal, apresentando "mulheres solteiras para devotees que possam querer conhecê-las nas reuniões de fim de semana" . ASCOTWorld não é o único grupo a oferecer tais serviços. A CD Produções, operada por Carol Davis é outra organização que produz e distribui fotos e vídeos de mulheres amputadas.
Amante de Uma Perna Só
Ambas, Davis e Bennett, asseguram que estas fotos e vídeos são benéficos para as modelos não só do ponto de vista financeiro como também por promover um aumento em sua autoconfiança e maior consciência de sua sexualidade. Joy, uma das modelos da CD, explica: "Eu sei o que é ser rejeitada por homens por causa da falta de um membro. Sinto-me gratificada por ser admirada como eu sou" . Outras mulheres fazem eco a Joy. Kath Duncan, em seu VT "Minha Amante de Uma Perna Só", comenta como foi excitante essa sessão de fotos, pois foi capaz de colocar todo seu corpo à mostra e sentir seus cotos como sendo sexy. Estes comentários sugerem que encontrar um ambiente no qual seus corpos sejam não apenas aceitos mas apreciados parece produzir um formidável impacto na auto-estima das mulheres deficientes.
A proliferação de imagens representando deficientes como sexy e atraentes poderá ser benéfica não só para as modelos mas também para todas as deficientes. Jane Elder Bogle e Susan L. Shaul contam que um dos maiores problemas para a expressão da sexualidade das mulheres com deficiência é a falta de exemplos. Para muitas mulheres, particularmente as que sofrem amputações em uma idade mais avançada, é difícil aprender a incorporar cadeira de rodas, próteses, cicatrizes e braçadeiras à idéia das coisas "sexies" . ASCOTWorld é um dos poucos lugares onde uma mulher amputada encontra imagens de mulheres que são iguais a ela e que estão incorporando suas deficiências às suas noções de sexy. Ao divulgar essas imagens, ASCOTWorld as provê de com modelos de integração entre sexualidade e deficiência para resistir à assexualizaação imposta sobre elas pela cultura não deficiente .
Propriedade e Gerencia de Mulheres
Além disso, como notou Barbara Waxman Fiduccia, muitas das organizações de devotees são dirigidas atualmente por amputadas . Fascinação, ASCOTWorld e Produções CD são propriedade de e são dirigidas por amputadas. Elas decidem a forma de conduzir e os estatutos das organizações. Todo o lucro dos vídeos e das fotos é entregue às modelos. Waxman Fiduccia enfatiza o aspecto radical dessas empresas que é: elas possibilitaram às mulheres deficientes arrancar suas vidas sexuais do controle dos médicos, psicólogos e, por extensão, dos próprios devotees. As mulheres rstão no controle de sua própria produção.
Embora ainda sinta algum desconforto a respeito da noção de devotees, começo a sentir uma afinidade em relação às as modelos amputadas e empresáriaasr. Essas mulheres estão se recusando a aceitar em silêncio os estereótipos impostos a elas pela cultura dos não deficientes. Ao afirmar ativamente seu direito a falar sobre, usar e dispor de seus corpos da forma como consideram adequada, elas estão dando poderosos exemplos de modos alternativos de se observar o corpo feminino com deficiência.
De qualquer forma, o impacto que essas imagens causam na sociedade em geral ainda precisa ser determinado. Mesmo que a participação na comunidade dedevotees possa mudar a percepção que algumas mulheres têm de si mesmas, isto pode não ter nenhum efeito sobre o juízo que as pessoas não deficientes fazem delas. De fato, algumas pessoas podem entender a formação de grupos como ASCOTWorld como prova de que pessoas deficientes são completamente Outro. A existência da comunidade dos devotees pode levar a crer que somente eles podem achar mulheres deficientes atraentes; e que sentir desejo por uma mulher deficiente é uma "condição" que só "afeta" alguns membros "desviantes" da maioria da população. Tais pontos de vista não estão limitados aos não-deficientes. Eu, no princípio, via os sites como o ASCOTWorld não como uma prova de minha desejabilidadeda, mas de indesejabilidade. Visto dessa maneira, o envolvimento das amputadas na comunidade devotee pode reiterar a noção de que as mulheres deficientes são assexuadas e de que não são desejáveis, negando desse modo, o potencial de resistência da ASCOTWorld.
Valores e Preconceitos
A comunidade de devotees ainda reflete muitos dos valores da sociedade em geral e seus preconceitos. No vídeo "Minha Amante de Uma Perna Só", Duncan expressa sua decepção ao descobrir que os devotees são tão críticos em relação aos corpos das mulheres quanto os outros homens. Podem ir contra a corrente ao considerar cotos sensuais, mas também criticam mulheres que são gordas ou feias. Em outras palavras, os devotees não estão numa esfera utópica na qual a beleza e a aparência física sejam irrelevantes. Rrejeitando o estereótipo de que as mulheres deficientes são indesejáveis muitos devotéed perpetuam, ao mesmo tempo, os ideais hegemônicos de beleza.
Além disso, alguns segmentos dos amputados e devotees refletem o heterossexismo que permeia a cultura ocidental. Embora haja vários sites na Internet destinados a homens amputados e devotees gays, os sites destinados a lésbicas são menos comuns. Um dos poucos sites para lésbicas que descobri é freqüentado principalmente por homens devotees heterossexuais à procura de "deusas do amor lésbicas e amputadas. Esse site foi atacado, pelo menos uma vez, com comentários e desenhos homofóbicos. Outro exemplo eloquente desse preconceito é a opinião de uma mulher amputada com quem conversei: ela acha que a existência de deficientes lésbicas é uma prova da necessidade dos devotees. Segundo ela, muitas mulheres com deficiências se tornam lésbicas porque não podem encontrar parceiros masculinos. Para ela, se essas mulheres conhecessem os homens devotees não seriam "forçadas" a se tornar lésbicas para ter relacionamentos saudáveis. Seus comentários refletem o preconceito cultural segundo o qual todas as lésbicas são heterossexuais fracassadas. Embora tais crenças não sejam exclusivas da comunidade de amputadas/devotées, ela sugere que a comunidade pode ser fortalecedora apenas para algumas mulheres deficientes. Assim, nesta comunidade, a sexualidade de lésbicas deficientes é negada, patologizada e/ou ignorada.
Molestamento e Agressão
Também quero ressaltar que nem todas as mulheres deficientes partilharam a experiências com devotees como receptivas e fortalecedoras. Muitas mulheres deficientes tiveram encontros assustadorres com fetichistas por deficência, inclusive sendo perseguidas por devotees que as fotografaram sem sua permissão. Outras mulheres, incluindo eu mesma, tiveram seus nomes e descrições físicas disseminados pela comunidade de devotees sem seu conhecimento ou consentimento. Embora nem todos os devotees se comportem dessa maneira excusa, alguns têm, o que faz com que algumas mulheres com deficiências desconfiem da comunidade toda. O potencial da ASCOTWorld de contribuir para a elevação da auto-estima sexual das mulheres deficientes deve ser pesado contrapondo-se-lhe o molestamento por devotées que algumas mulheres têm experimentado.
Embora estas preocupações sejam importantes e acusações de coerção e molestamento, não devam ser descartadas, os efeitos de ASCOTWorld não podem ser considerados como completamente negativos. Para Bennett e as mulheres amputadas de ASCOTWorld, sua participação na comunidade de amputados e devotees mudou totalmente sua percepção da própria deficiência. Assim, para algumas mulheresdeficientes, ASCOTWorld atua como um lugar de resistência pessoal que lhes permite restaurar a auto-estima, independência e atividade sexual. Embora posar para fotografias e participar de conferências não possa contribuir, fundamentalmente, para alterar ou desmantelar os estereótipos sobre o corpo feminino deficiente, o impacto que elad acreditam que tais atividades tiveram em suas vidas pessoais não deveria ser ignorado. Nas palavras de Lolly Gibbs: "Finalmente eu mesentia pertencer a algo, que eu era atraente e até mesmo sensual. Eu não estava mais envergonhada..."