Hoje em dia, saber viver em sociedade
implica em administrar uma série de fatores. Um deles, podemos ressaltar, é o
bom uso do nosso tempo produtivo. Ultimamente, muitos pesquisadores ligados à
área comportamental questionam isso. Nesse debate, tem sido recorrente um
pensamento desanimador. A vida das pessoas, a luta pela sobrevivência em um cotidiano
atribulado nos produz uma série de inevitáveis desgastes .
É um viver
condicionado sob a urgência dos prazos. Estar sempre atento, preocupado em
cumprir as metas que nos são impostas. Porque, atualmente, tudo precisa ser
feito para ontem, e com muita pressa.
Esse panorama favorece o aparecimento de muitos transtornos ligados com a ansiedade, a elevação do nível de estresse . E, já tem servido de temas para escritores, sociólogos e gurus desenvolverem teses sobre o fato. Em muito se fala à respeito de alguns perigos , trazidos por essa condição da
nossa vida cotidiana. Ser produtivo, conseguir levar uma vida capaz de nos
render satisfação, com extensas doses de felicidades , é um desafio .
Bom, isso não é uma recita de bolo,
embora muitos queiram vender a própria fórmula. Se for assim, queria muito ler
uma obra, cujo enredo não contenha nenhum procedimento mágico, capaz de operar milagres.
Seria ótimo ver alguns livros capazes de explicarem, com linguagem simples e
didática , um tema que me é valioso. Como explicar para o resto do mundo o tempo
de uma pessoa com deficiência ?
Por não termos as mesmas condições físicas da
maioria, precisamos executar as tarefas com mais cuidado.Parece uma condição óbvia,
de fácil entendimento geral, mas o dia a dia costuma comprovar o contrário.
Isso fica nítido pela reação de muitos motoristas de ônibus, quando nos ignoram.
Além de não pararem, muitas vezes não oferecem ajuda, querem que a gente entre
logo no veículo, como se pudéssemos pular até o banco especial. Queria um
manual capaz de sensibilizar todos os engenheiros de tráfego, e lhes dizer que
o tempo para algum pedestre atravessar a rua difere do nosso. É uma questão de
segundos e bom senso, apenas.
O mesmo manual mágico teria outra função.
Também servisse para informar aos nossos parentes, conjugues e afins que não
queremos atrasar ninguém. Muitas vezes, tarefas simples requerem uma atenção
redobrada da nossa parte. O tempo que eu gasto ao abotoar uma camisa é superior
ao do banho, por exemplo. Nas baladas, o manual poderia virar um pôster com
fita autoadesiva, pronto para ser colocado na porta dos banheiros. Neles, haveria
esta explicação:’ Pessoa com Deficiência em chamado de urgência. Favor esperar’’
Dificilmente haverá banheiros acessíveis em boates. Falar em acessibilidade na
noite ainda parece uma fantasia, infelizmente. Talvez, muitos ainda não tiveram
tempo de considerar o óbvio. Eles não percebem o quanto adoramos nos divertir,
do nosso potencial enquanto mercado consumidor. Senhor, além do tempo, dai muita
paciência e visão aos empresários da noite.
Por fim,
chego a uma conclusão. Toda pessoa com deficiência tem que escrever o seu
próprio livro de autoajuda. A resposta para cada dificuldade, o modo de reação diante
de cada obstáculo vai variar. Isso depende de muitas coisas. Desde o tipo de
lesão que temos, as condições materiais a nós oferecidas para lidarmos com os problemas,
e de como manteremos a nossa motivação interna alimentada.
No caminho, cada um vai descobrindo as
estratégias válidas, o que precisa ou não de ajuste. A leitura de livros ajuda,
complementa o valor essencial das nossas experiências. O contato com pessoas a viverem situações semelhantes nos alimenta. Porém, precisamos aceitar
o nosso próprio tempo. Não conseguimos correr, mas podemos achar diversas
formas de fazer com que a nossa vida renda .
Missão ingrata a que temos, em um mundo
regulado pela pressa. Fazer esse relógio frenético do cotidiano contar ao nosso
favor. Mas como? Não existe fórmula pronta.
Não funcionaremos com a velocidade de um cronômetro, quem sabe possamos
conseguir aperfeiçoar o nosso termômetro interno. Aí, de acordo com as
temperaturas exigidas pelas circunstâncias, tentar agir com a proporção devida.
Na falta de um livro a ensinar tudo isso, entre erros e acertos, haja tempo
para regulamos tantos ponteiros. Mesmo em meio a tantas condições deficientes,
é possível levar uma vida feliz, e com muita eficiência .
Um abraço para todos ,
André Nóbrega.
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Crônica