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A consolidação da cultura do improviso

   

  

  

  No Brasil, falar em arquitetura inclusiva ainda é navegar em uma maré de sonho. Porque , dentre o conjunto de regras, entre as medidas padrão a compor as normas de acessibilidade e a efetividade de tais propostas , existe ainda um abismo. Predomina uma cultura do improviso, um pensamento que só o esforço de construir uma rampa mal feita, fazer de qualquer maneira um banheiro adaptado já seria o bastante para nos atender. 

   Fazer obras de acessibilidade em locais públicos com descaso, com pouca preocupação ao cumprimento das regras determinadas, revela muitas coisas. Uma delas, sinaliza o enfraquecimento da nossa prática democrática. A integração da pessoa com deficiência não é uma pauta da sociedade. Como discutir aspectos da cidadania por aqui, quando não há no país o esforço para melhorar a vida das 45 milhões de pessoas com deficiência?
  
   Não existe marketing político enganoso o suficiente, capaz de mudar a realidade de uma calçada ruim. Então, fica sobressaltada uma condição necessária à sobrevivência. Já que o Estado não nos oferece o mínimo para circularmos pelas ruas, trabalharmos com dignidade e vivermos bem, acabamos por elevar ao máximo algumas condições básicas da vida cotidiana. Precisamos forçar muito o corpo, e, mesmo com todos os pesares e revezes, apresentarmos um funcionamento produtivo da mente. Manter mente e corpo sãos em meio a uma realidade insana .
    
   Sempre recebemos muitos ‘’ nãos’’ da vida. Sem dúvidas, essa é uma situação inevitável a se estabelecer em nossa estrada. Cada um combate isso de acordo com as possibilidades de defesa disponibilizadas. Porém, quanto o simples movimento de atravessar a rua não se estabelece como um ato seguro, alguns conceitos precisam ser revisitados.
   
   Incluir noções de arquitetura inclusiva ao planejamento das cidades não é pedir muito. É aprender a seguir a determinação das leis já existentes. Por tradição, a nossa noção de fazer as coisas de qualquer maneira é forte. Se isso está enraizado com a nossa maneira de realizar coisas, eu não sei . Se isso ocorre devido a um comportamento ancestral inato, acontece pelo jeito do brasileiro em cumprir as tarefas a ele pedidas, também desconheço. Só estou cansado de andar em rampas ''adaptadas'' que mais se parecem com  pistas de skate. Chega de improvisar, a segurança de muitos depende de um compromisso em fazer bem feito as coisas.

Um abraço para todos.


André Nóbrega.

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