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Não somos heróis.

   A pessoa com deficiência precisa ser aguerrida. Ter um ímpeto acima do normal para suportar desafios. Porque as ruas das cidades onde moramos nos defrontam com uma infraestrutura precária, uma arquitetura sem muita humanidade, que desconsidera as nossas limitações. Assim sendo, somos obrigados a atravessarmos resignados as calçadas sem adaptação, a encararmos sinalizações de trânsito mal sincronizadas com o tempo necessário para nos locomovermos. Portanto, somos resistentes pelo efeito das circunstâncias, por não nos sobrar outra alternativa a não ser cultivarmos o hábito da perseverança.
  
   Essa ideia, da qual somos super-heróis da vontade, modelos que contagiam os outros pelo ímpeto das ações, é propagada de forma comum. O que muita gente não pensa, é se que dermos um vacilo na condução da cadeira, ou enquanto manuseamos um andador, podemos cair, e aí rodarmos de forma categórica. E, convenhamos, nem todas as quedas produzem um efeito prazeroso. Em um filme da sessão da tarde, o herói já se levanta rindo, pronto para encarar o próximo desafio. Na vida real, isso implica em hematomas, dores e uma constatação revoltante: ‘’ mas, e se o lugar onde nós caímos tivesse uma acessibilidade melhor? Poderia a queda ter sido evitada? Ou então, os efeitos do recém tomado tombo estariam amenizados caso a rua estive asfaltada corretamente?’’
  
  Se o papel de campeão da superação nos é colocado, muitas vezes o fazemos por merecer. No entanto, esse excesso de energia colocado para exercer as tarefas mais simples, às vezes, sobrecarrega o HD e influencia no funcionamento da nossa máquina. Afinal, existe um limite para o nosso corpo. Não somos heróis, sentimos cansaço, temos o direito a manifestarmos raiva. Imagine como é sentir no dia a dia as condições de um mundo onde para nós interagirmos precisamos encarar situações sempre desiguais? Saber que basta sairmos de casa, atravessarmos algumas ruas para sentirmos emoção, acompanhada por alguns momentos de perigo. Ao invés de termos a obrigação de tornar a nossa vida exemplar, por que não exigir do Estado condições mais justas para exercermos a nossa cidadania? 

  O privilégio de desenvolvermos habilidades especificas, algumas aptidões, acompanha a trajetória humana desde quando nossos antepassados precisavam sobreviver aos dinossauros. Nenhuma pessoa com deficiência precisa matar um Tiranossauro Rex por dia (embora muitos consigam), apenas queremos prosseguir com nossas vidas em iguais condições com as quais nossos amigos andantes vivem. Assim, damos prosseguimento a uma condição essencial, presente à condição humana: a da adaptação e consequente evolução a um ambiente hostil. Essas características são pré-requisitos fundamentais a todas as pessoas com deficiência. Temos muita luta pela frente. A preocupação do Super-Homem,do Homem Aranha e da Mulher Maravilha talvez seja a de salvar o mundo. Quanta responsabilidade.  Bom, ao invés de salvar o universo, prefiro mil vezes oferecer empenho e paixão por esta causa, pois poder lutar pelas pessoas com deficiência, é uma tarefa que Magneto nenhum fará diminuir a minha vontade.

Um abraço para todos,

 André Nóbrega.


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