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A inclusão pela arte

 Para Juliana Dias
  
 





   Vem do Museu do Padro, em Madri, uma notícia espetacular. Lá, acontece a inovadora exposição ‘’Hoy Toca El Prado’’ , uma daquelas propostas que de tão inventivas , podem germinar nas pessoas uma revolução . Sim, senhores. Porque esta exposição foi concebida com a finalidade de promover a inclusão das pessoas com deficiência visual a um bem cultural inestimável. Pois, com a mostra ‘’Hoy Toca El Prado’’ , os visitantes poderão passar a mão, sentir a superfície de réplicas de alguns dos quadros de verdadeiros gigantes da pintura . Nesta caprichada seleção promovida pela mostra, constam obras de Francisco De Goya, El Greco, Leonardo da Vinci e Diego Velásquez .


 É muito comum associarmos a luta pela inclusão das pessoas com deficiência à concretização de problemas imediatos, urgentes. Com a falta de uma pavimentação adequada nas ruas, o nosso pensamento atende a certas finalidades. Chegar aos locais onde pretendemos ir, sem passar por alguns sustos, é um objetivo simples para muitos, mas complicado para a gente. Pegue, por exemplo, a situação de um cadeirante enquanto trafega por uma rua estreita. A preocupação com a segurança é tamanha que produz uma tensão necessária. Quem pilotou uma cadeira sabe o quanto é desagradável sermos acometidos por um tombo. E, por isso, aprendemos a valorizar a prevenção a tais incidentes. Por enfrentarmos condições de acessibilidade precárias nas ruas, se torna natural também a elevação de um instinto protetor, capaz de nos salvaguardar em situações do cotidiano.
  
  A obrigação de andar nas ruas sempre atento, com a guarda levantada, é muito ruim. Temos também o direito de olharmos as paisagens, querer interagir melhor com as pessoas ao nos movimentarmos. Quando a rua dificulta a nossa passagem isso fica complicado. Como vamos exercer o direito de olhar para a vida com mais leveza se a realidade sempre nos convida a uma queda?
   
  Na história da humanidade, a arte sempre foi uma grande aliada. Mesmo nos momentos de crise, em tempos de guerra, a obra dos grandes gênios serviu como tradução do sentimento coletivo. A exposição ‘’Hoy Toca El Prado’’ é revolucionária por permitir esse contato, promover a apresentação de grandes pinturas a um público esquecido pelos eventos culturais. Os deficientes visuais são obrigados a desenvolverem várias estratégias de vida para poderem se orientar, terem uma existência produtiva.

   No entanto, há de se encontrar uma maneira mais justa de auxiliá-los nessa luta. Um dos caminhos possíveis para promover a inclusão passa pela universalização da arte. Eu queria estar em Madri, chamar a minha grande amiga, genial artista plástica que mora em Barcelona e juntos testemunharmos a reação de todos presentes a esse evento histórico .Tão belo quanto um quadro de Da Vinci, ou um painel criado por Goya será a reação de uma pessoa ao descobrir pelo próprio tato a maravilha dessas criações.

  Antes de me despedir, cabe aqui uma pergunta:

 ’’ Apesar da cegueira dos nossos governantes, da classe política em geral, por não promoverem ações capazes de melhorarem a nossa circulação pela cidade, circular tenso pelas ruas também não nos torna míopes?’’

Um abraço para todos ,

André Nóbrega


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