*Por José Petrola
Em primeiro lugar, isto mostra que pessoas com deficiência também são capazes e muitas vezes se destacam – desde que, na avaliação, não se veja a “cara” do candidato, como ocorre em vestibulares, concursos públicos e outras provas. O que também serve como uma medida do preconceito existente na sociedade.
Isto também desmente um mito sobre a incapacidade dos surdos de aprenderem a se expressar corretamente em português. É comum que surdos usuários de Libras aleguem que, para eles, a redação deveria ser corrigida com critérios diferentes, devido à maior dificuldade que têm para aprender o português (http://www.ebc.com.br/educacao/2014/11/estudantes-surdos-tem-dificuldade-para-se-preparar-para-o-enem). Isto pode até ser válido para os surdos sinalizados, mas não para os oralizados.
Um ponto em comum entre os surdos que conseguiram boas notas no Enem é que todos tiveram de enfrentar preconceito na escola, em maior ou menor grau, porém contaram com professores compreensivos, que procuraram tornar suas aulas mais acessíveis. Pequenas mudanças, como colocar o aluno surdo na fileira da frente e dar as explicações sempre de frente para os alunos, em vez de olhar para o quadro-negro, fazem toda a diferença.
Outro fator que contribuiu para estes sucessos no Enem foi a intimidade com a leitura. Para quem tem alguma dificuldade de audição, o texto escrito acaba se tornando uma espécie de porto seguro, e isto é muito importante. Só pode escrever uma boa redação alguém que lê muito e vê a linguagem escrita como uma aliada.
O importante agora é que estes jovens continuem chutando a porta do preconceito em suas vidas, pois a inclusão só será possível com muitos Cezares e Ozianys brigando por seus direitos.