"A nova geração está chegando com sede de mudar o rumo das coisas." É o que afirma o gerente executivo do Grupo RBS em Santa Cruz do Sul, Matheus Carvalho. Responsável por uma unidade da qual 60% dos integrantes são os chamados Ys, o executivo vê nesses jovens talentos pessoas em grande idealistas e que querem fazer a diferença. "Buscam, e em muitos casos conseguem, quebrar modelos mentais, inovam em processos e alteram o ritmo do dia a dia", acrescenta.
Entretanto, é justamente na energia de fazer acontecer e no idealismo de mudar o rumo das coisas que nascem os conflitos com os colegas que estão estáveis e enquadrados no processo do "é assim mesmo", "sempre foi assim", "daqui a pouco passa", expressões, segundo Carvalho, comuns para anestesiar as tentativas de fazer mudanças.
Conflitos sempre existem, garante o consultor Sidnei Oliveira, pois as diferenças de estilo, ritmo e expectativas trazem desafios para os relacionamentos. E a melhor forma de lidar com esses embates é refinar a comunicação. "Por meio dela é possível conscientizar ambos os lados de que há contribuições mútuas que podem e devem ser consideradas", diz.
Carvalho e Oliveira participaram recentemente do Seminário das Gerações, promovido pela ABRH-RS. A atividade também contou com a participação da diretora de vendas da Região Sul da Dell, Luciane Dalmolin, e do diretor de recursos humanos do LinkedIn, Alexandre Ullmann.
Relacionamentos
Para Oliveira, é importante lembrar que o mundo está bem diferente e muito mais competitivo que no passado. "Os processos de gestão estão se transformando continuamente nos últimos 20 anos, principalmente depois da reengenharia nos anos 1990. Hoje, um jovem não consegue nem se qualificar como candidato a uma vaga de emprego de qualidade se não tiver um curso superior, falar uma língua estrangeira e tiver completo domínio do computador e internet", diz. Isso certamente não era necessário há 20 anos, quando os atuais pais, professores e gestores eram jovens.
Os impactos dessas mudanças nos modelos de gestão já podem ser observados, pois os jovens da geração Y valorizam os relacionamentos e buscam participar de experiências inovadoras. "Gostam de desafios que demonstrem seu potencial e proporcionem feedbacks rápidos e constantes, bem como reconhecimento", afirma Oliveira. "Eles são questionadores, contestadores, demonstram dificuldade em lidar com fracassos, têm baixa tolerância a frustrações e falhas e, por isso, desenvolvem uma ansiedade crônica imensa", acrescenta. Portanto, o tempo agora é de inovar os modelos de gestão.
Para lidar com as diferentes formas de pensar, gerir e executar, os jovens costumam fazer questionamentos, o que muitas vezes é visto como uma contestação ou desafio ao conhecimento de seus "superiores hierárquicos", explica Oliveira. "Mas essa postura é, na verdade, uma busca de interação e tem origem na infância desenvolvida em um ambiente de constantes desafios, mesmo nos mais simples jogos de videogames. Para esses jovens, todo relacionamento é um processo de integração. Querem respostas diretas e claras, sem coisas subentendidas e obscuras. Exigem transparência de seus líderes e estão dispostos a lutar por seus sonhos."
Carvalho, do Grupo RBS, concorda. "A melhor forma de lidar com eles é dialogando constantemente e explicando o porquê das coisas. E o líder não tem opção: precisa conversar muito. Precisa contar histórias e compor cenários. O jovem precisa enxergar o que está construindo e precisa se sentir parte dessa construção", diz.
Luciane Dalmolin, da Dell, reforça o papel das lideranças em função do vivendo conjuntamente no ambiente de trabalho. "A nova geração entrante, os Ys, vem muito preparada, com muita informação e, dessa forma, muita ansiedade no início de suas carreiras. O que muda nas empresas é que os gestores devem estar preparados para lidar com esse ambiente, trabalhando com todos num processo de coaching e feedback constante, aproveitando a diversidade para amplificar o conhecimento geral de suas equipes."
Flexibilidade
Com 70% dos funcionários da geração Y, LinkedIn aposta em uma cultura moderna, que tem como valores a transformação, colaboração, integridade, humor e resultado para atrair e reter esses jovens. "Quando trabalhamos em um ambiente agradável e colaborativo, a retenção é uma consequência natural", afirma Alexandre Ullmann.
Ele conta que a geração Y, como todas as demais, tem características próprias e uma delas é a ansiedade por um rápido crescimento profissional. "O desafio das empresas é manter essa geração estimulada e fazê-la entender a importância do seu trabalho todo da organização", conta, ressaltando que reter esse pessoal não significa tratá-o de modo diferenciado. "Em termos de benefícios, a organização deve se comportar de forma igual com todos os colaboradores. O que é preciso é entender o que motiva cada pessoa e o LinkedIn é uma empresa para todas as gerações. Temos um modelo de cultura único, que atende à geração Y e também agrada às demais. O que fazemos é para todos."
Mas o que é possível fazer explorar melhor o potencial da geração Y? Sidnei Oliveira observa que flexibilidade e inovação são formas de criar novos processos que permitem isso. "Um processo que precisa ser mais bem assimilado nas empresas também é a acessibilidade que é disponibilizada para os jovens. Eles atuam totalmente conectados e cada vez mais por meio de redes sociais. Ampliar o acesso deles a essas ferramentas é absolutamente prioritário nos próximos anos", diz.
E o papel do RH, segundo o consultor, é trabalhar a interação entre veteranos e jovens para que todos se beneficiem das contribuições que cada geração pode dar, bem como avaliar modos de trabalho, como horários flexíveis, possibilidades de home office, bom ambiente de trabalho, projetos inovadores, além do auxílio no desenvolvimento da trajetória profissional com reconhecimentos e feedbacks constantes para o melhor aprendizado.
Fonte: Revista Melhor