Para muitas pessoas com deficiência, pode parecer um paradoxo que uma pessoa nas mesmas condições tenha bom humor. E se impressionam ainda mais quando uma pessoa que utiliza cadeira de rodas faz humor com situações cotidianas vividas por esse público. Flávio Chato, que, na verdade, nasceu Flávio Cecere, não se considera um humorista, mas sim um rapaz que sabe contar suas histórias de vida de uma maneira engraçada. “Todo o material das minhas apresentações é baseado em fatos que aconteceram na minha vida”, explica Flávio.
Seu interesse em fazer humor nasceu da sugestão de amigos. “A vida de um cadeirante tem muitas coisas engraçadas. A minha não é diferente e, nos churrascos, uns 10 ou 12 amigos sempre ficavam ouvindo minhas histórias. Eles davam muitas risadas e sugeriram que eu partisse para a comédia. Foi o que eu fiz”, relembra. Ele sabe que existem pessoas com deficiência que não gostam muito da forma como ele encara a sua vida de cadeirante. “Já ameaçaram me processar, mas se tocaram que um cadeirante não pode discriminar outro, já que 'desfruta' da mesma situação. Talvez sejam esquerdistas”, brinca. “Na minha opinião, piada não é preconceito. Acho ridículas as manifestações e reclamações de instituições que representam minorias”, afirma, de forma simples e direta.
No futuro, pretende criar e trabalhar com roteiros menos apelativos. “Estou reformulando meu texto, pois ele não condiz com o momento em que vivo hoje, pois a maioria das piadas que utilizo tem apelo sexual e palavrões, e isso não agrada a Deus”, explica.
Flávio não vive de contar histórias e fazer humor. É formado em Recursos Humanos e está terminando um MBA em Gestão Empresarial na Faculdade Getúlio Vargas, em São Paulo. Ele atua como bancário e trabalha em uma financeira como assistente de um superintendente. Está nessa empresa há quase cinco anos, e há um no cargo atual.
Assim como inúmeras pessoas com deficiência, encontrou dificuldade para entrar no mercado de trabalho. Mas dá uma puxada de orelha em todos que utilizam o preconceito como muleta. “O preconceito está na cabeça de quem se sente discriminado. Todos somos diferentes, mas porque a nossa diferença é mais visível, alguns deficientes - não são poucos, viu - sentem-se discriminados por brincadeiras que são feitas com todos. Se queremos tanto ser iguais, não devemos nos sentir diferentes, e não deveríamos ter essa Lei de Cotas nem ter privilégios. Mas o nível cultural do nosso País ainda está muito aquém do ideal”, afirma, propondo uma reflexão.
Antigamente
Da época em que não precisava da cadeira de rodas, Flávio diz sentir muita falta de jogar bola, surfar, dançar a dois e “outras coisinhas mais, mas o portal não é um veículo adequado para publicá-las”, brinca. “Hoje, tenho o hábito de ler a Bíblia, conversar com meu melhor amigo, que é Deus, ir à Igreja. Costumo sair para restaurantes, cinemas, teatros e pratico musculação”, enumera Flávio, hoje com 26 anos “e mentalidade de 16”, como prefere dizer.
Com cuidado para não sermos inconvenientes, procuramos saber um pouco sobre essas 'outras coisinhas mais'. “Eu já cansei de zoar. E, realmente, a vida na cadeira de rodas não é fácil, mas muitas mulheres têm a curiosidade de saber como é, e nessas horas você acaba conquistando algumas garotas. Mas, graças a Deus, não vivo mais isso”, explica.
E já que seu forte é contar histórias, perguntamos por que ele traz 'Chato' em seu nome. “Recebi esse apelido de um colega de colegial [atual Ensino Médio], Thiago Becheli, porque eu não deixava os professores lecionarem”, faz graça.
Outra atividade frequente em sua vida é a fisioterapia. Lá, conheceu Ricardo Ortuño, seu fisioterapeuta, que o ajudou - e ainda ajuda - nessa longa recuperação e reabilitação. “Ele também foi meu psicólogo, que me estimulou a ter vontade de viver novamente, tirar carta, voltar a estudar e a dirigir. Sou eternamente grato a ele. Mas, na verdade, minha aceitação completa e total aconteceu quando encontrei Deus. Ele sabe de todas as coisas. Sei que tudo o que Ricardo disse foi indispensável para minha reabilitação, mas foi Deus quem o colocou no meu caminho para que tudo isso pudesse ter acontecido”, agradece.
Todas essas novas experiências começaram em 11 de setembro de 2003, a apenas 11 dias de Flávio completar 19 anos. “Sofri um acidente de carro quando eu estava em uma rua perto de casa, e era na hora do almoço. Desmaiei no momento do acidente e acordei depois de 19 dias. Foram 19 dias em coma, mais três em coma induzido e outros 22 no quarto do hospital”, relembra. “Tomar conhecimento de que havia ficado paraplégico foi um choque para mim. Mas, com o apoio da minha família e de alguns amigos, consegui tirar de letra”, explica.
Ele também faz questão de ressaltar que seu bom humor se deve ao fato de estar vivo. Muita gente, por muito menos, morre ou fica com o cognitivo afetado. Eu acabei com um carro e com minha cabeça, mas, graças a Deus, estou numa cadeira de rodas e tenho meu cérebro preservado. Não está ótimo?”, questiona à comunidade do Vida Mais Livre. “Viva e seja feliz com a condição que você tem para viver. Deus não dá a cruz mais pesada do que você pode carregar, dê seus pulos e carregue a sua”, finaliza.
Seu interesse em fazer humor nasceu da sugestão de amigos. “A vida de um cadeirante tem muitas coisas engraçadas. A minha não é diferente e, nos churrascos, uns 10 ou 12 amigos sempre ficavam ouvindo minhas histórias. Eles davam muitas risadas e sugeriram que eu partisse para a comédia. Foi o que eu fiz”, relembra. Ele sabe que existem pessoas com deficiência que não gostam muito da forma como ele encara a sua vida de cadeirante. “Já ameaçaram me processar, mas se tocaram que um cadeirante não pode discriminar outro, já que 'desfruta' da mesma situação. Talvez sejam esquerdistas”, brinca. “Na minha opinião, piada não é preconceito. Acho ridículas as manifestações e reclamações de instituições que representam minorias”, afirma, de forma simples e direta.
No futuro, pretende criar e trabalhar com roteiros menos apelativos. “Estou reformulando meu texto, pois ele não condiz com o momento em que vivo hoje, pois a maioria das piadas que utilizo tem apelo sexual e palavrões, e isso não agrada a Deus”, explica.
Flávio não vive de contar histórias e fazer humor. É formado em Recursos Humanos e está terminando um MBA em Gestão Empresarial na Faculdade Getúlio Vargas, em São Paulo. Ele atua como bancário e trabalha em uma financeira como assistente de um superintendente. Está nessa empresa há quase cinco anos, e há um no cargo atual.
Assim como inúmeras pessoas com deficiência, encontrou dificuldade para entrar no mercado de trabalho. Mas dá uma puxada de orelha em todos que utilizam o preconceito como muleta. “O preconceito está na cabeça de quem se sente discriminado. Todos somos diferentes, mas porque a nossa diferença é mais visível, alguns deficientes - não são poucos, viu - sentem-se discriminados por brincadeiras que são feitas com todos. Se queremos tanto ser iguais, não devemos nos sentir diferentes, e não deveríamos ter essa Lei de Cotas nem ter privilégios. Mas o nível cultural do nosso País ainda está muito aquém do ideal”, afirma, propondo uma reflexão.
Antigamente
Da época em que não precisava da cadeira de rodas, Flávio diz sentir muita falta de jogar bola, surfar, dançar a dois e “outras coisinhas mais, mas o portal não é um veículo adequado para publicá-las”, brinca. “Hoje, tenho o hábito de ler a Bíblia, conversar com meu melhor amigo, que é Deus, ir à Igreja. Costumo sair para restaurantes, cinemas, teatros e pratico musculação”, enumera Flávio, hoje com 26 anos “e mentalidade de 16”, como prefere dizer.
Com cuidado para não sermos inconvenientes, procuramos saber um pouco sobre essas 'outras coisinhas mais'. “Eu já cansei de zoar. E, realmente, a vida na cadeira de rodas não é fácil, mas muitas mulheres têm a curiosidade de saber como é, e nessas horas você acaba conquistando algumas garotas. Mas, graças a Deus, não vivo mais isso”, explica.
E já que seu forte é contar histórias, perguntamos por que ele traz 'Chato' em seu nome. “Recebi esse apelido de um colega de colegial [atual Ensino Médio], Thiago Becheli, porque eu não deixava os professores lecionarem”, faz graça.
Outra atividade frequente em sua vida é a fisioterapia. Lá, conheceu Ricardo Ortuño, seu fisioterapeuta, que o ajudou - e ainda ajuda - nessa longa recuperação e reabilitação. “Ele também foi meu psicólogo, que me estimulou a ter vontade de viver novamente, tirar carta, voltar a estudar e a dirigir. Sou eternamente grato a ele. Mas, na verdade, minha aceitação completa e total aconteceu quando encontrei Deus. Ele sabe de todas as coisas. Sei que tudo o que Ricardo disse foi indispensável para minha reabilitação, mas foi Deus quem o colocou no meu caminho para que tudo isso pudesse ter acontecido”, agradece.
Todas essas novas experiências começaram em 11 de setembro de 2003, a apenas 11 dias de Flávio completar 19 anos. “Sofri um acidente de carro quando eu estava em uma rua perto de casa, e era na hora do almoço. Desmaiei no momento do acidente e acordei depois de 19 dias. Foram 19 dias em coma, mais três em coma induzido e outros 22 no quarto do hospital”, relembra. “Tomar conhecimento de que havia ficado paraplégico foi um choque para mim. Mas, com o apoio da minha família e de alguns amigos, consegui tirar de letra”, explica.
Ele também faz questão de ressaltar que seu bom humor se deve ao fato de estar vivo. Muita gente, por muito menos, morre ou fica com o cognitivo afetado. Eu acabei com um carro e com minha cabeça, mas, graças a Deus, estou numa cadeira de rodas e tenho meu cérebro preservado. Não está ótimo?”, questiona à comunidade do Vida Mais Livre. “Viva e seja feliz com a condição que você tem para viver. Deus não dá a cruz mais pesada do que você pode carregar, dê seus pulos e carregue a sua”, finaliza.
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