Garoto venceu câncer quando bebê; agora, prepara-se para 'Carrossel'
Incluído desde cedo na escola e em atividades de lazer, João quebra visão de fragilidade e de dependência
JAIRO MARQUES
DE SÃO PAULO
João Lucas Dutra Takaki era o maior e mais birrento bebê da UTI neonatal para onde foi logo ao nascer para combater um câncer na coluna. Ali, a mãe, Adriana Dutra, 35, já imaginou que o guri seria parada dura.
Nove anos depois, o moleque se prepara agora para estrear como ator mirim na novela "Carrossel", do SBT, e é uma das primeiras crianças "cadeirantinhas" a treinar manobras radicais em cadeira de rodas.
Apesar de o câncer ter sido vencido, a doença causou uma lesão na medula, o que acabou por levar os movimentos das pernas e também comprometer a sensibilidade abaixo da cintura e as funções fisiológicas do menino.
João viveu por seis meses em um hospital - após o tumor, ele teve hidrocefalia, acúmulo excessivo de líquido na cabeça.
Mas tudo isso ficou no passado. Com a chance de ser incluído e aceito, tanto na escola como em atividades diversas de lazer, o garoto quebra conceitos de fragilidade e de dependência de uma criança com deficiência.
É assim quando ele encara rampas íngremes de pistas de skate onde pratica um novo esporte radical no Brasil, o "hardcore sitting".
João também nada muito bem, pratica arco e flecha, vôlei, basquete e é goleiro do time da escola. Gosta ainda de dançar e de videogame.
"Às vezes, eu me esqueço de que ele não anda. É tanta estripulia que esse menino faz que a gente perde a noção daquilo que não pode fazer", conta Maria Lúcia Ferrari Dutra, 65, a avó do garoto.
"Ele veio ao mundo para me ensinar valores humanos, a olhar a diversidade das pessoas com respeito", diz.
A estreia de João Lucas com ator está programada para outubro. Atualmente, ele faz aulas de interpretação e de uso correto da voz.
"O Tom [personagem de João] será uma criança arredia, que não quer contato com ninguém. Não se diverte. A mãe quer ver o filho com outras crianças. Vai ser difícil ele concordar. Mas a turma da escola irá dar um jeito", diz o diretor da novela, Reynaldo Boury, sobre o papel do garoto.
Esbaforido após um treino intensivo de saltos, João foi breve nas palavras em entrevista à reportagem.
"A novela vai dar mais trabalho porque tem que decorar texto, fazer tudo certinho. Mas é muito legal de fazer. O 'hardcore' é cansativo, mas dá um friozinho na barriga. Eu adoro adrenalina."
João Lucas Dutra, 9, cadeirante, no parque Zilda Natel. Ele está começando a treinar manobras com sua nova cadeira
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Fonte: Uol