Foto: Francisco Galvão / Tribuna da Bahia
Elizete deixou o trabalho para cuidar da mãe que sofre da doença há mais de 10 anos
Uma vida sem passado e sem presente. Assim é a realidade de quem sofre de Alzheimer. No Brasil, existem cerca de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade. Seis por cento delas sofrem do mal, segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). No entanto, apesar de ser uma doença degenerativa atualmente incurável, o apoio da familia e o tratamento adequado pode manter a doenca estabilizada.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela perda de uma ou mais funções cognitivas. Ela é progressiva e provoca o declínio das funções intelectuais, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social. A doença passa por três estágios: leve, moderado e grave. Nessa última fase, o paciente não reconhece mais ninguém e perde totalmente a autonomia. Explicou Josecy Peixoto, médica e coordenadora do núcleo de residência de geriatria do Hospital de Irmã Dulce.
Causas
De acordo com a especialista, a doença pode se manifestar em indivíduos a partir dos 50 anos. No entanto, a predominância em idosos acima dos 80 anos é de 20%. As causas da doença ainda não são consenso na ciência. “O Alzheimer é resultado da genética e fatores ambientais, ou seja, a forma de vida do individuo. Por ser uma doença degenerativa, os sintomas podem aparecer de muitas formas desde um pequeno esquecimento que pode se confundir com os sintomas típicos do envelhecimento até alterações comportamentais que variam da agressividade até a perda total da memória. Por isso, é de fundamental importância que o idoso e os familiares fiquem atentos aos sintomas e busque uma avaliação clinica que é a forma mais soberana de diagnostico”, orientou.
Uma das explicações para a doença se manifestar em pessoas com mais idade é porque nessa fase da vida ocorre a morte dos neurônios, levando a uma disfunção cerebral. Algumas manifestam os sintomas de forma mais leves, outras mais graves. Segundo a médica, o tratamento realizado atualmente a base de medicamentos, não é curativo mais estabilizador.
“O tratamento permite melhorar a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e sua família. Mas, vale salientar que o afeto das pessoas mais proximas é o mais benefico”.
Na Bahia, segundo Peixoto, da população de idosos do Estado estimada em mais de 1milhão, cerca de 6% sofre de Alzheimer. Segundo informações do Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (Creasi), de janeiro a dezembro de 2013 foram realizados num total de 4.658 atendimentos na capital de geriatria ou gerontologia, destes 36% são casos de Alzheimer.
A unidade além de assistência médica também tem uma equipe multidisciplinar com assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos e núcleos de apoio aos familiares e cuidadores. Os medicamentos para portadores da doença de Alzheimer são distribuídos gratuitamente pela unidade na capital e interior do Estado.
Amor é o melhor tratamento
Geralmente o que o inconsciente coletivo está habituado a visualizar são mães abdicando do trabalho, e em muitos casos da vida pessoal, para cuidar dos filhos. Mas com a auxiliar de serviços gerais, Elizete Farias de Souza, de 55 anos, foi diferente. Ela deixou trabalho e projetos pessoais para se dedicar a mãe que há mais de que dez anos sofre de Alzheimer.
Segundo Elizete, a mãe, dona Odete Farias, de 88 anos, carinhosamente chamada por ela de “Minha Veinha”, começou a apresentar alguns sintomas de esquecimento, mas a família achava que era da idade e deixava passar. Ela conta que quando dona Odete começou a esconder objetos e a ficar agressiva que ela percebeu que precisava investigar o quadro de saúde da mãe.
”Minha mãe teve dez filhos. Sempre foi uma mulher ativa cuidava dos netos e de repente ficou distante esqueceu de tudo. Ela não fala, não anda, não reconhece mais nenhum dos filhos depende de alguém para alimentá-la, dar banho ou seja para tudo. É uma doença cruel, a pessoa fica sem história. Não podia deixar ela passar por esse processo tão difícil com alguém desconhecido. Essa foi a forma que encontrei de retribuir tudo que ela já fez por mim”, disse.
No caso do aposentado José Lourenço da Silva, de 83 anos, a doença não lhe tirou toda a memoria. Com muita dificuldade na fala ele diz que lembra dos filhos e da esposa, mas que fica nervoso quando não consegue lembrar de coisas recentes. A esposa, Juraci Oliveira da Silva diz que a família sofreu muito no início por não saber do que se tratava. “Ele ficava nervoso por causa dos tremores nas mãos e do esquecimento. Fomos tentando nos acostumar com a nova realidade. Atualmente ele faz tratamento de fisioterapia e faz usos de medicamentos. Mas o apoio dos filhos e o meu é o melhor remédio que ele tem”, afirmou.
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