O relato da colunista que aos 26 anos ficou tetraplégica e não parou mais de se mexer
byWilson Faustino•
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Aos 26 anos ela ficou tetraplégica. Desde então, não parou mais de se mexer. A história de Mara Gabrilli poderia ser apenas inspiradora. Mas talvez seja mais do que isso. Talvez ela nos mostre que sentir dor, e dar ao sofrimento uma cadeira cativa na sala de nossas emoções, possa ser uma das melhores coisas da vida.
No dia 21 de agosto de 1994, Mara estava em Trindade, Rio de Janeiro, acompanhada do namorado e do melhor amigo numa viagem de fim de semana. A moça de 26 anos acordou mais cedo e foi sozinha até a praia. Estava triste. Entre outras queixas, o relacionamento não ia bem. Sentada na areia, olhando fixamente para o sol, pediu a Deus para que sua vida mudasse de rumo. Cerca de 12 horas depois o pedido foi atendido.
"Eu costumo dizer que “tive a sorte” de sofrer o acidente quando já era formada em publicidade e psicologia. O acidente aconteceu em agosto de 1994. Estava voltando de uma viagem de final de semana para o litoral paulista, com meu ex-namorado. Na volta, na serra entre Ubatuba e Taubaté, o Paulo estava correndo muito. Havíamos brigado e sempre que isso ocorria, ele gostava de acelerar o carro. Ele perdeu o controle do carro, que rodou na pista e caiu cerca de 20 metros barranco abaixo, capotando. Eu fiquei presa nas ferragens, com a cabeça para fora do carro.
Sentia uma dor insuportável no pescoço. Enquanto esperava socorro, eu ainda podia mover os braços. Depois, os movimentos foram diminuindo. Quando acordei, horas depois já no hospital, eu já não tinha nenhum tipo de movimento do pescoço para baixo.Tive fraturas nas vértebras C3 e C4 da coluna, o que me deixou tetraplégica. Perdi os movimentos do pescoço para baixo. Nos primeiros dias, fiquei sob observação no hospital Albert Einstein. Eu já não me mexia e, além disso, também não conseguia falar, pois fui submetida a uma traqueostomia e só conseguia respirar com a ajuda de aparelhos. Havia risco de continuar assim para sempre. Eu me comunicava através de uma tabela com letras, na qual alguém ia apontando as letras e eu ia fazendo que “sim” ou “não” com a cabeça, letra a letra, até que fossem formadas palavras e frases.Um tempo depois, quando eu pude respirar sem aparelho e voltar a falar, senti uma sensação de liberdade muito grande.
E até por isso, acho que o fato de eu não andar mais não pesou tanto. Após um tempo, quando já tinha condição, fui transferida para os Estados Unidos. Primeiro, para um centro de reabilitação em Boston. Depois, para uma clínica especializada em Pittsburgh, onde fiquei por mais três meses. Acho que uma das minhas grandes virtudes foi nunca olhar para trás e ficar pensando no que eu perdi após o acidente. Eu sempre batalhei para melhorar. Não deixei de viver após o acidente. Fundei uma ONG, continuei a trabalhar, malho todos os dias, vou a festas, gosto de namorar, fui secretária da prefeitura em São Paulo, consegui me eleger vereadora e deputada federal.
Tenho minha cadeira, que me leva para cima e para baixo, e que é flexível, podendo me deixar em pé quando eu quiser. Na Câmara dos Deputados, como não mexo as mãos, utilizo um sistema pelo qual posso votar através da leitura facial. Sou a maior prova de que ninguém faz nada sozinho. Como não tenho movimento de nada abaixo do pescoço, conto com uma cuidadora 24 horas ao meu lado, para me auxiliar em todas as atividades que faço, desde empurrar minha cadeira até tomar banho."
Por Laura Marcon de Azevedo, com informações dos sites
http://saude.terra.com.br/ e http://revistatpm.uol.com.br/