O tratamento não é considerado um sucesso somente quando a pessoa começa a andar, outros progressos são importantes
As lesões medulares são cada vez mais frequentes, acidentes automobilísticos, ferimentos por arma de fogo, quedas, mergulhos em águas rasas e agressões físicas têm sido as principais causas de trauma raquimedular.
Variam desde um traumatismo transitório, do qual o paciente se recupera completamente, lesões incompletas onde o retorno progressivo das funções motoras é possível, porém, difícil de determinar em quanto tempo isso irá ocorrer, até uma secção completa, tornando o paciente paralisado abaixo do nível da lesão traumática.
Tais lesões têm um prognóstico variável e podem causar perda parcial ou total da motricidade e sensibilidade, e dependendo do nível medular lesado, o indivíduo pode se tornar paraplégico ou tetraplégico.
A tetraplegia resulta na perda da função dos membros superiores, bem como tronco, membros inferiores. Já a paraplegia refere-se à perda das funções de segmentos torácicos, lombares e sacrais da medula espinhal, podendo ou não ter um comprometimento do tronco, membros inferiores.
O nível da lesão determina sua gravidade, quanto mais alta, maiores as suas consequências, podendo haver também dificuldades na fala, deglutição, sistema urinário, fecal e complicações respiratórias o que representa a maior causa de mortalidade e morbidade em pacientes tetraplégicos.
Um longo processo de reabilitação é necessário, ações que muitas vezes não levam a cura, mas à adaptação do indivíduo à sua nova condição. Para isso é necessária uma avaliação precisa, a fim de detectar todas as disfunções e ainda as funções potenciais remanescentes. Todas essas ações vão além da prevenção de danos, mas objetiva principalmente a melhora da qualidade de vida. Além disso, uma equipe que envolve diversos profissionais da área da saúde é imprescindível para englobar todos os cuidados e necessidades desses pacientes, devendo ser iniciada logo na fase aguda.
A fisioterapia tem um papel essencial e totalmente indispensável na assistência desses pacientes, deve ser intensa, seja ele vítima de uma lesão incompleta, para ou tetraplégico, pois visa principalmente à prevenção de deformidades, maximização da função muscular e respiratória, promoção da independência funcional e se possível o retorno a marcha, com ou sem auxílio. Dentre os recursos existentes na área temos:
A cinesioterapia engloba os exercícios e alongamentos, realizados de maneira lenta e suave, a fim de prevenir deformidades, rigidez e perda da mobilidade. Essas atividades estimulam ao máximo a autonomia do paciente, e quando não é possível ser realizado de forma independente, o fisioterapeuta tenta adaptar, executando com auxílio ou de forma passiva. O fortalecimento muscular deve ser iniciado nas musculaturas preservadas, assim, o indivíduo terá maior facilidade para executar suas atividades, como tocar uma cadeira de rodas, realizar transferências, trocas posturais (deitar, sentar, rolar...), dirigir veículos, praticar esportes, realizar a higiene, deambular com auxílio, ou qualquer outra atividade que esteja presente no dia a dia de cada paciente.
O treino de equilíbrio também deve ser incluso no processo de recuperação, com o objetivo de proporcionar um melhor controle de tronco. Os posicionamentos são essenciais em qualquer situação, evitando a instalação de deformidades e úlceras por pressão.
O ortostátismo, ou posição em pé, deve ser realizado de forma gradativa para que o corpo se adapte, isso traz benefícios à circulação, respiração e funcionamento dos órgãos. De início pode ser realizado com o auxílio de uma prancha ortostática (espécie de maca com amarras) que se eleva de forma progressiva até o posicionamento total na vertical.
A estimulação elétrica funcional pode ser benéfica para promover uma contração de músculos paralisados ou enfraquecidos, há um recrutamento das fibras musculares, o que pode gerar um aumento do desempenho.
Sendo assim, é função do fisioterapeuta é auxiliar na recuperação desses pacientes, com a finalidade de prevenir complicações e torná-lo o mais independente possível, contando sempre com o apoio e participação de toda a família, amigos e uma equipe multidisciplinar competente no processo de reabilitação. Vale lembrar, que muitas pessoas acham que o sucesso do tratamento é alcançado somente quando o paciente consegue voltar a andar, porém, cada conquista já é um grande passo.