O sexo pode provocar reações que variam desde um grau extremo de aversão (grau extremo de “erotofobia”) passando por um ponto neutro e chegando até um grau extremo de atração (grau extremo de “erotofilia”).
Os diversos graus de erotofilia e erotofobia de uma pessoa podem ser identificados através de várias das suas atitudes, valores e comportamentos. Por exemplo, os erotofóbicos têm maior propensão para o autoritarismo, apresentam papéis sexuais mais tradicionais, sentem mais culpa quando se envolvem em certas práticas sexuais e têm mais preconceito contra os homossexuais do que os erotófilos. Os erotófilos tendem a se masturbar, a desenvolver fantasias sexuais e a pensar em sexo com mais frequência do que os erotofóbicos. Os erotófilos também iniciam a vida sexual cedo e têm um maior número de parceiros sexuais do que os erotofóbicos. Os erotófilos também tomam mais cuidados com a saúde na área sexual (fazem mais exames preventivos, por exemplo). (Veja mais detalhes no artigo de William A. Fisher e colaboradores – a citação completa é fornecida na Nota 1, no final deste artigo).
O grau de erotofilia pode ser aumentado
William A. Fisher e colaboradores também afirmam que as atitudes quanto ao sexo são em grande parte aprendidas: aqueles indivíduos que foram criados por pessoas que tinham uma atitude positiva e natural quanto ao sexo são aquelas que mais gostam de sexo. Por outro lado, pessoas que foram criadas em um meio repressor, que tiveram uma forte educação religiosa ou que sofreram traumas na área sexual têm mais chance de terem se tornado erotofóbicos (por exemplo, estas pessoas podem evitar o sexo, falar de sexo e encontros amorosos que aumentem a probabilidade de atividades sexuais) ou, pelo menos, um baixo grau de erotofilia.
O gosto de sexo por sexo pode ser desenvolvido e até superdesenvolvido posteriormente, na idade adulta, como acontece, por exemplo, com aquelas pessoas que se viciaram em sexo. Já entrevistei e atendi muitas pessoas que até certa idade não gostavam de sexo e ai aconteceu algo que despertou seus gostos neste setor. Por exemplo, algumas delas começaram a namorar um parceiro que tinha uma ótima atitude e muito gosto por sexo e que lhes serviu de modelo, incentivador e professor neste setor. A terapia sexual pode ser necessária para aqueles que desenvolveram erotofobia ou para aqueles que têm fortes inibições sexuais e querem aumentar seus graus de erotofilia. Vamos examinar agora um pouco a resposta sexual humana e o desejo sexual para que possamos entender melhor a erotofilia e a erotofobia.
A resposta sexual humana
Um episódio sexual completo e bem sucedido passa por quatro fases: desejo (fantasias acerca da atividade sexual e desejo de ter atividade sexual), excitação(sentimento de prazer e alterações fisiológicas concomitantes. A excitação consiste, por exemplo, na ereção peniana e na lubrificação e na expansão da vagina), orgasmo (clímax sexual, com liberação da tensão sexual e contração rítmica dos músculos do períneo) eresolução (sensação de relaxamento muscular e bem-estar geral). (Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Sexuais – 4a. Edição, pp. 467 - 468).Em seguida vamos abordar mais detalhadamente a primeira destas fases – o desejo sexual.
Determinantes do desejo sexual
Stephen B. Levine, professor da Case Western Reserve University School of Medicine, apresentou uma teoria que ajuda muito a entender o desejo sexual. Segundo este autor, o desejo tem três componentes positivos (aumentam o desejo) - o impulso, a motivação e o querer - e um negativo (diminui o desejo), os inibidores sexuais . Vamos apresentar agora um resumo desta teoria.
O impulso sexual
O impulso é o componente biológico do desejo. A sua intensidade aumenta à medida que vai passando o tempo desde o último orgasmo. Funciona de forma semelhante à fome: no momento em que há ingestão suficiente de comida, ela é saciada. À medida que vai passando o tempo desde a última refeição, ela vai aumentando novamente. Outros fatores também afetam a fome: a energia gasta (por exemplo, atividades físicas e das tensões psicológicas queimam mais energia e aumentam a fome), a velocidade do metabolismo e o tipo de alimento ingerido na última refeição. Algo semelhante ocorre com o impulso sexual: quando acontece um bom encontro sexual, ele fica temporariamente saciado. À medida que vai passando o tempo após este encontro, a intensidade do desejo vai aumentando novamente.
A intensidade do impulso sexual está relacionada com a quantidade de hormônios sexuais que é produzida pelo organismo. A produção de hormônios sexuais é mínima na infância, atinge o ápice na adolescência, permanece alta até mais ou menos aos quarenta anos e, então, começa a diminuir lentamente. Devido à saturação destes hormônios, os adolescentes, principalmente os homens, são tomados por uma espécie de furor sexual: eles pensam muito em sexo, masturbam-se frequentemente, interessam por pornografia, querem transar com quase tudo que lembre os objetos sexuais de seus interesses. A partir desta idade, a quantidade de hormônios sexuais começa a diminuir. No entanto, felizmente, o desempenho sexual não decresce proporcionalmente à idade ou ao nível hormonal. Esta ausência de proporção acontece devido às contribuições independentes dos outros três componentes do desejo sexual – a motivação, o querer e as inibições.
A motivação
A motivação pode ser comparada ao apetite pela comida. Quando a comida é boa, atraente e gostosa, aumenta a nossa vontade de comer e tendemos a comer mais do que comeríamos caso a comida fosse menos atraente. No caso do apetite sexual, contribui muito o fato de amarmos o parceiro, dele ser bonito e se comportar de uma forma sensual. Diversos outros fatores também ajudam a aumentar o desejo. Por exemplo, estar livre de preocupações e se encontrar com o parceiro em um ambiente apropriado e seguro para sexo pode contribuir para que o desejo se manifeste mais livre e intensamente. Uma das coisas que mais provoca o desejo é a manifestação de desejo por parte do parceiro.
Muitas pessoas também aprendem a “pegar carona” em excitações produzidas por outros acontecimentos que, em si, nada têm de sexual ou erótico. Várias das alterações fisiológicas que são produzidas por estes fenômenos são do mesmo tipo produzido pela excitação sexual e, por isso, podem ser capitalizados para aumentar esta excitação. Por exemplo, transar em locais onde haja o risco de ser flagrado por outras pessoas (elevadores, vestiários de lojas, praia) pode aumentar o ritmo cardíaco e a adrenalina no sangue. Essas alterações também são produzidas pela atividade sexual. Como não dá para distinguir as origens destas alterações, fica mais fácil atribuir tudo à excitação sexual. Por este motivo, algumas pessoas procuram fazer ou dizer coisas “proibidas” ou arriscadas para aumentar seus desejos e excitações.
O querer
O querer é a parte racional do desejo. A analogia com a ingestão de alimentos continua útil aqui: podemos comer algo porque sabemos que faz bem, mesmo quando não estamos com fome e não gostemos daquele alimento. No caso do sexo, podemos transar porque queremos contentar a parceira, porque achamos que é nosso dever conjugal ou para que a parceira “não procure em outro lugar o que está faltando em casa”.
“Pegar no tranco”
Muitas vezes o sexo é iniciado sem desejo ou com pouco desejo, mas o desejo surge durante as práticas sexuais. Este desejo surge ou é aumentado tanto pela estimulação das zonas erógenas como pelas propriedades excitatórias das práticas sexuais (por exemplo, ver os sinais de excitação do parceiro e provocá-lo pode excitar muito certas pessoas). Uma pessoa que conheço deu o nome para o desejo que só depois que as atividades sexuais já começaram “pegar no tranco”. Esta expressão é mais comumente usada quando um carro não pega pelo acionamento da partida, mas só quando é empurrado. Neste caso, o condutor engata uma segunda, o carro é empurrado e quando ganha velocidade, o condutor tira abruptamente o pé da embreagem. Nesta hora o carro dá um tranco e pode pegar. No sexo, esta via para o nascimento do desejo pode ser utilizada de vez em quando como, por exemplo, quando um dos parceiros está dormindo e o outro começa a estimulá-lo sexualmente. No entanto, nunca sentir desejo pelo parceiro sem este tipo de provocação sensorial é um sinal de que ele não é um bom objeto de desejo.
A inibição Sexual
O sexo é carregado de significados em todas as culturas. A sua prática é regulada por normas determinadas principalmente pela religião e pela moral e, muitas vezes pela legislação. Por exemplo, existem leis que determinam quais são as práticas ou tipos de parceiros que são “legais” ou “ilegais” (sedução de menores, assédio, etc.) e passíveis de sanções penais. As pessoas são educadas para sentir culpa, vergonha e outros tipos de desconforto quando o sexo não é praticado segundo as normas aceitáveis pela sociedade.
Poucas pessoas podem afirmar que não têm nenhuma inibição para falar de sexo e para expressar o que sentem, desejam ou não desejam durante a prática sexual. Essas normas também são uma das razões pelas quais muitas pessoas só ficam à vontade para praticar sexo no escuro.
Aumentando o grau de erotofilia
O grau de erotofilia varia muito entre as pessoas. Algumas das causas dessa variação não são psicológicas como, por exemplo, a idade, as doenças crônicas e certos medicamentos. Outro grupo de causas do baixo grau de erotofilia também não é de origem psicológica, mas depende de motivações psicológicas para que possa ser alterado como, por exemplo, o estresse a exaustão pelo trabalho excessivo e tenso.
Embora os dois grupos de causas acima possam eventualmente ser os mais importantes, geralmente eles não são os principais determinantes da erotofilia ou erotofobia. Os maiores determinantes da erotofilia ou da erotofobia são as atitudes e valores diante das práticas sexuais e as experiências que propiciam o autoconhecimento na área sexual e as habilidades para obter e fornecer prazer.
Você gosta pouco de sexo? Você teme o sexo? Procure a ajuda de um psicólogo.
Por Ailton Amélio http://ailtonamelio.blog.uol.com.br/