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"A vida sempre me responde as perguntas que esqueci de fazer"


Desde a gravidez, eu pensava em como seria explicar a minha deficiência para os meus filhos e como eles se sentiriam diante das minhas limitações. Ensaiei tantos jeitos de explicar, tantas metáforas, li tanta coisa a respeito! Mas quando eles tinham dois anos, Mariana perguntou: "mamãe, por que você não anda de pé?". Gelei. Iniciei o raciocínio das diferenças, mas ela me interrompeu: "Por que, mamãe? Por que você não anda de pé?". Entendi que ela queria saber sobre o acidente e eu contei. "Então você vai andar de cadeira para sempre?". Respondi apenas "sim" e ela reagiu sem nenhuma surpresa.

Provavelmente eles nem se lembram dessa conversa, mas eu nunca vou esquecer o frio que senti na barriga naquela hora. Eu tinha me preparado tanto e na hora H foi tudo diferente! Foi do jeito deles.

A vida não para de me ensinar que é perda de tempo tentar antecipar soluções para dificuldades que eu acho que vão surgir. Mas, mentalmente, eu sempre tento prever problemas para ter na manga as soluções. Pura ilusão. Sou sempre surpreendida com dificuldades que eu não previ e com soluções que eu não seria capaz de imaginar.

Quando eles começaram a engatinhar, passei noites em claro pensando num jeito de ensiná-los a andar. Não conseguiria segurá-los e não queria delegar essa tarefa. Um dia, no meio da brincadeira, Mateus veio por trás de mim, se apoiou na barra horizontal da estrutura da minha cadeira e ficou em pé. Tomei um susto, com medo dele cair. Logo Mariana também quis experimentar. Em pouco tempo, esse apoio serviu para eles firmarem os primeiros passos... empurrando minha cadeira! Foi assim que começaram a caminhar ao meu lado. 

Na escola, com os amiguinhos, minha cadeira virou brinquedo e, às vezes, é difícil administrar tantas mãozinhas querendo apertar meus botões e subir no meu colo. Como todas as mães que conheço, às vezes eu sofro por não ter todas as certezas, todas as respostas, todas as soluções. 

Fui buscá-los na escola em um dia especial em que todas as crianças puderam ir fantasiadas. Meus pequenos quiseram se vestir de super-heróis. A professora, ao se despedir, disse "tchau, mulher-maravilha!". Ela respondeu "Eu sou a filha da mulher-maravilha!", correndo para me dar o abraço mais gostos que já ganhei na vida. E, nessa hora, eu me senti a pessoa mais importante do mundo.

Coluna escrita por Flávia Cintra para a Revista Incluir. Flávia é jornalista, tem 40 anos, é mãe dos gêmeos Mateus e Mariana. Trabalhou em diversas ONGs em defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Foi consultora de Manoel Carlos, autor da novela "Viver a Vida", que teve a personagem Luciana, interpretada por Alinne Moraes, inspirada em sua história de vida. Desde 2010, é repórter do programa Fantástico da TV Globo. É uma das autoras do livro "Maria de Rodas - Delícias e Desafios na Maternidade de Mulheres Cadeirantes".
Wilson Faustino

Wilson Faustino 43 anos casado, cadeirante empreendedor, trabalho com marketing e vendas diretas e virtuais. Atuando também como afiliado em plataformas como Hotmart, Eduzz, Monetizze e Lomadee. Trago todo o meu conhecimento para ajudar aqueles que pretendem trabalhar do conforto da sua casa e conquistar a independência financeira e geográfica.

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