Utilizando apenas a boca, Eva Leite retrata o estádio em tela com a temática da Copa do Mundo. Artista visita a arena e elogia a acessibilidade.
Após perder os movimentos dos braços e das pernas por conta de um grave acidente automobilístico ocorrido há 25 anos, a piauiense Eva Leite desenvolveu uma rara habilidade: é capaz de pintar utilizando apenas a boca. Na última semana, a artista plástica, que mora em Brasília desde criança, visitou o novo Mané Garrincha e homenageou a arena com um quadro retratando a Copa do Mundo.
- Me surpreendeu com a preocupação de dar acesso e conforto aos cadeirantes, algo difícil de se ver em outros lugares. Fiquei tão lisonjeada, que pintei uma tela do novo estádio – elogiou Eva em entrevista ao portal Brasília na Copa.
artista plástica homenagem estádio mané garrincha (Foto: Andre Borges / GDF)Eva pintou quadro em homenagem ao novo Mané Garrincha (Foto: Andre Borges / Portal Brasília na Copa)
Durante a visita, a artista se lembrou de uma das vezes que foi ao estádio antes do acidente que transformou sua vida.
- Um ano antes de sofrer o acidente, eu estava no show do rei Roberto Carlos, neste estádio. É como se passasse um filme na minha memória, foi uma alegria intensa. O que muda de hoje para tempos atrás não é porque fiquei tetraplégica. É que hoje minha cadeira tem rodas e meus sonhos têm asas.
Eva é uma dos 66 artistas do mundo aceitas pela Associação dos Pintores Com Boca e Pés da Suíça, entidade que expõe os trabalhos em vários países, além de selecioná-los para catálogos e cartões-postais. Todo dinheiro arrecadado é revertido para a compra de produtos de pintura como telas, pincéis e tintas.
A artista já esteve três vezes no novo Mané Garrincha. Em uma das ocasiões, foi para ver o Vasco – time do coração – jogar pelo Campeonato Brasileiro. Depois do acidente, Eva frequentou poucos espaços com grande aglomeração de pessoas. Mesmo expondo os trabalhos em feiras e associações, ela comenta que é diferente de ir a um estádio com milhares de torcedores.
- Sempre procurei lugares onde posso ter total acessibilidade. No caso do novo Mané Garrincha foi um grande presente. Aqui, me senti respeitada e como uma cidadã que também tem direito a usufruir das coisas boas da cidade como shows e partidas de futebol – elogiou.
Hoje, Eva se esforça para ter uma rotina normal. Mas chegar a esse ponto não foi fácil. A artista conta que teve de percorrer um longo caminho de obstáculos para aceitar a nova realidade após o acidente.
- O médico disse que eu tinha de ser forte. Respirei fundo e os segundos pareciam ser horas. Aí, disse para mim mesmo que nada estava perdido e que tudo poderia ter sido bem pior. Eu poderia ter perdido o bem mais precioso que temos: a vida.
Com apoio do hospital Sarah Kubitschek, aprendeu a digitar com a boca. Um processo de disciplina e persistência que a levou, em 2004, a publicar o primeiro livro: a autobiografia “Minha vida tem rodas; meus sonhos, asas”.
Há dez anos, começou também a participar das oficinas de pintura no hospital e não parou mais. Lançou um segundo livro, traduzido para diferentes idiomas, e suas pinturas já foram expostas em países como
Suíça, Alemanha, Argentina e França.
Fonte: Ser Lesado