“O dia 10 de Abril de 2004 foi à data em que minha vida mudou totalmente... E como mudou! Estávamos retornando do feriado da semana santa de um passeio organizado pelo grupo de funcionários do Armazém Nádia com destino a Fortaleza-CE. Foi terrível! Por volta das 22h e 10min. em São Luis do Curu-CE, a cerca de 70 km de Fortaleza, o ônibus virou para lado esquerdo, em uma curva fechada e saiu se arrastando sobre as barras de ferro de proteção existentes na pista. Fui parar no hospital, em Fortaleza. Tive meu braço esquerdo amputado. Sete pessoas morreram, entre elas o Pr. Airton Agostinho. Foi horrível! O que antes era alegria, se transformou, de repente, em gritos, choro, medo, tristeza e dor... muita dor.
Parecia um sonho, ou melhor, um pesadelo sem fim. Murmurei, por um minuto... Murmurei. Queria que aquilo terminasse logo, queria acordar e mais nada. No entanto infelizmente, eu estava acordada o tempo todo. Não conseguia nem mesmo cochilar. A dor era imensa e intensa. Eu estava muito fraca. Perdi muito sangue, mas o pior não foi isso. O pior foi saber que as pessoas de quem mais gostei nesse passeio tivera seus sonhos interrompidos - Carla Ananda tinha 10 anos de idade, uma criança cheia de vida que encantava a todos. Fiquei três semanas no hospital, tendo que fazer três cirurgias. Na véspera da terceira me desesperei. Tive medo de morrer, e Jesus, que nunca nos abandona, usou alguém para cantar para mim. Um amigo cantou assim: “Pra que chorar, sofrer se há um Deus que tudo pode por você. Pra que solidão, deixe Jesus Cristo entrar no seu coração.”
Essa cirurgia eu jamais vou esquecer, pois vi claramente que O Todo Poderoso estava comigo. Quando o medo vinha logo, eu o colocava no seu devido lugar. Pedi permissão para médico para cantar, e ele me autorizou, e cantei os hinos “Sempre fiel”, de Rose Nascimento, e “Deus de Vitória”, de Bruna Carla. Engraçado uma coisa: enquanto o médico serrava meus ossos, eu cantava e louvava a Deus. Deus é maravilhoso! Depois de dois dias da cirurgia, o médico, Dr.Pierre, me deu alta, para que pudesse retornar a Imperatriz. No aeroporto tive uma surpresa: meus amigos e parentes estavam lá à minha espera, com faixas e cartazes que mais pareciam esperar alguém famoso: Foi lindo demais e ainda me lembro do rosto de todos.
Pensava que iria demorar a voltar a uma sala de cirurgia, mas me enganei. Dois meses depois retornei à sala de cirurgia. Nessa passei menos de um dia no Hospital. Encarar tudo isso foi muito difícil, ainda mais por haver perdido meu pai, que meses antes tinha sido assassinado. Foi tudo tão de repente que nem eu sei como fui capaz de ter superado, tudo de cabeça erguida. Só Jesus nos dá força e coragem, Ele é nossa fortaleza, socorro bem presente na angustia.
Hoje vivo muito bem, me adaptando à minha nova vida. Atualmente estou com um projeto de inclusão em andamento chamado Beauty and Coragem, é exclusivo para mulheres amputadas onde o intuito e mostrar as pessoas que o fato de perder um membro não altera em nada a beleza e força de alguém. Sou casada e tenho uma linda Princesa, Maria Flor, que veio para me ensinar mais a ser feliz.
Quero dizer a todos que jamais desistam de vocês mesmo; jamais desistam de quem você ama; jamais desistam de serem felizes; pois a vida é um espetáculo imperdível. Jamais desistam de Jesus, pois Ele é o caminho, a verdade e a vida.
Deficiente pode ser, porque não?! Mas muito eficiente!!!
Agradeço a Deus por mais uma oportunidade de vida que me foi dada. Agradeço à minha família, aos meus amigos por acreditarem em mim, por não me olharem como uma pessoa incapaz e sim como uma pessoa disposta a qualquer desafio. Desde que Deus esteja comigo, tudo posso naquele que me fortalece. Jesus é Fiel”.