Rapidamente muitos de nós adotamos esse estilo, pois era um jeito de nos identificarmos com ele e com seu jeito de ser.
Voltando ao primeiro parágrafo: não, nem sempre MAQ era o carioca de bem com a vida. Tinha opiniões fortes e arraigadas e lutava por elas. Porém, tinha uma qualidade que infelizmente encontrei em pouquíssimas pessoas: sabia reconhecer quando o outro estava com a razão e pedia desculpas. Tinha a coragem de rever seus pontos de vista e a honestidade de admitir isso em público.
Ou seja: era íntegro.
A integridade também era a marca registrada de seu trabalho: MAQ era um estudioso incansável da Acessibilidade Digital; nunca se acomodou, estava sempre pesquisando e trocando informações com pessoas no Brasil, em Portugal, Espanha e Argentina. O que aprendia, partilhava generosamente e sempre usando o humor, outra marca registrada. MAQ era um professor nato, que sabia explicar de modo simples o conceito de acessibilidade digital, mostrando que não era um bicho de 7 cabeças – ao contrário, era parte do cotidiano e, mais ainda, motivo para festejar. Sua assinatura eletrônica era uma aula de inclusão, civilidade e acessibilidade: seu celular estava lá, pra quem quisesse falar com ele:
P. S.: Você está recebendo um e-mail de uma pessoa cega. Isto é inclusão digital! Comemore conosco. Uma sociedade inclusiva é aquela que reconhece, respeita e valoriza a diversidade humana.
MAQ - Rio de Janeiro - CEL: (21) 9912-0000.
MAQ - Rio de Janeiro - CEL: (21) 9912-0000.
Seu conhecimento, suas qualidades pessoais e sua paixão foram reconhecidos pela revista ARede, publicação nacional que é referência em acessibilidade, já nos idos de 2006: MAQ – ou Marco Antonio de Queiroz, como consta na sua certidão de nascimento foi capa do número de março cujo tema era “Um desenho universal para a rede”1 .
Posteriormente, seu trabalho foi mencionado em outros números dessa revista2.
MAQ atuou intensamente em várias frentes: em 2000, criou o site Bengala Legal (www.bengalalegal.com); em 2009, foi a vez do blog Bengala Legal; deu inúmeros cursos sobre acessibilidade digital, presencialmente ou pelo Skype; foi o primeiro cego a ser jurado de filmes com audiodescrição, no Festival Assim Vivemos; escreveu o livro Sopro no corpo: vive-se de sonhos (1986) e também muitos textos, que são uma delícia de ler. Não tinha ninguém melhor do que ele para prefaciar o livro Audiodescrição: transformando imagens em palavras, organizado por Lívia Motta e Paulo Romeu Filho – essa era outra de suas paixões.
Em 2012, o Blog Bengala Legal ganhou o segundo lugar do 1º Prêmio Nacional de Acessibilidade na Web – Todos@web, promovido pelo W3C Brasil, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil e o NIC.br, e empatou em primeiro lugar com Hudson Augusto na categoria "Personalidade do ano" (Acessibilidade Digital do Governo do Estado de São Paulo)3.
Dentre tantas manifestações e homenagens que MAQ recebeu destaco duas: uma da revista ARede (dia 28 de outubro) e a outra foi do W3C (03 de dezembro). Sonia, sua esposa e Tadzo, seu filho, receberam a placa “Homenagem Especial MAQ Destaque da Inclusão Digital"4. Nas palavras de Sonia:
Acho que foi o momento mais comovente da cerimônia. Eu fiquei muito emocionada. Li um texto que agradecia a homenagem, dava a minha visão sobre a pessoa e o trabalho do Marco, a grave debilidade de seu organismo nos últimos meses e, por fim, celebrava a sua vida. Minha emoção aliada à importância do Marco contagiou os presentes, que aplaudiram de pé!
Dia 3 de Dezembro, data em que se comemora o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência também assinalou outra homenagem: o W3C (World Wide Web Consortium), responsável pelo estabelecimento de diretrizes de acessibilidade para navegar na Internet decidiu renomear a categoria de prêmios “Projetos Web” como "Projetos Web - Prêmio MAQ de Acessibilidade", iniciativa que Sonia considerou uma honra – e que certamente é.
MAQ faleceu dia 2 de julho de 2013 e ainda é difícil escrever esta frase, pois ele continua presente, em nossos corações, nas homenagens que recebeu e nos ensinamentos que nos deixou.
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