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Vestida de superação: A modelo Denise Ferreira mantém o blog Vou de Saia

A modelo Denise Ferreira mantém o blog Vou de Saia e conta como passou a promover moda e beleza após uma lesão medular
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De São Paulo, Denise Ferreira, modelo, 30 anos, é cadeirante há 12, devido a uma lesão medular causada por um acidente, em 2001. Foi quando o carro em que estava capotou, na volta de uma viagem à Ilha Comprida e ela fraturou a vértebra C7 do pescoço, o que a deixou tetraplégica. Obviamente o baque foi grande: Denise e o namorado, que dirigia o carro quando tudo aconteceu, tinham pouco mais de 18 anos e uma vida sem limites pela frente. Estão juntos até hoje, são noivos e cultivam o sonho de todo casal – casar e ter filhos. Mas para chegar até aí houve muita adaptação: dos movimentos, da vida íntima e amorosa, da família. É nos detalhes do dia a dia de pessoas como Denise, no entanto, que se evidenciam outras formas de superação, coloridas e delicadas, de transformar um hobby em algo que seja útil, de uma maneira criativa. Assim surgiu o blog Vou de Saia, com dicas de moda, beleza e cosméticos, que, entre sua criação, em 2011, e o fechamento desta edição de SENTIDOS, já tinha sido visitado por 76.014 pessoas. Já contava com 1320 membros e 1159 “curtidas” no Facebook, mesmo sem muitos esforços de divulgação. O blog agora tem loja virtual e a relação de Denise com o tema da moda à leva à militância nesse campo: o blog apoia o Concurso de Moda Inclusiva da Secretaria Estadual da Pessoa Com Deficiência de São Paulo (SEPCD) e a própria modelo faz parte do circuito inclusivo sempre que possível. Após a lesão, voltou a modelar em desfiles e eventos, algo que não fazia desde a infância. A seguir, um pouco de sua história, com a moda, a beleza e a inclusão, em entrevista exclusiva para esta revista.
A relação de Denise com o tema da moda à leva à militância nesse campo: o blog apoia concurso de moda inclusiva
Fale um pouco sobre sua infância e suas maiores realizações. Antes e depois do acidente.
Sempre fui vaidosa, apesar de molecona… com uns 10 anos participei de um desfile com outras crianças, mas depois disso não fiz mais nada na área.
Com 15 anos consegui meu primeiro emprego, ganhava muito pouco, era um escritório de um bufê de festas. Sempre quis trabalhar e ter meu dinheiro, ser independente. Depois disso trabalhei em mais três lugares: uma fábrica e uma loja de bíquinis e, por último, uma loja no shopping. Ia trabalhar a pé ou de ônibus, sempre me virei sozinha.
Na época da loja do shopping, conheci meu namorado, que é meu noivo hoje. Nos conhecemos no colegial, o namoro estava a mil por hora e depois de pouco menos de um ano de namoro sofremos o acidente, eu com 18 e ele com 19 anos. Depois disso me tornei cadeirante e tive que começar tudo de novo, eu e ele! Uma nova vida…
Quando sentiu o preconceito na pele pela primeira vez? (Ou… quando presenciou algo que não gostou nesse sentido?)
Não sei se conta como preconceito, mas o que me incomodou muito, quando aconteceu pela primeira vez, foi a pessoa perguntar coisas sobre mim pra quem estava comigo e não diretamente pra mim, como se eu tivesse algum problema mental e não físico… [Risos.]
Fora isso eu não me lembro de ter sofrido preconceito, mas sei de histórias de amigos em que o taxista ou o ônibus não param quando a pessoa é cadeirante. Ou porque vai demorar pra embarcar ou porque a cadeira vai riscar o carro. Coisas simplesmente ridículas, que não dá pra acreditar que existam!
Que atividades já desenvolveu neste campo da moda? Onde entra a inclusão nessa história?
Bom, desde pequena me interessei por roupas, maquiagem, até porque minha mãe é assim… [Risos.]
Depois que comecei com o blog Vou de Saia, entrei mais a fundo no mundo da moda e da beleza, gosto de saber das tendências e novidades e escrevo sobre elas.
Além do trabalho no blog, fiz tutorial de make pra revista Quem Acontece [ed. Globo], post sobre tendência de moda pra loja Dress It, participei como modelo do 2° Concurso de Moda Inclusiva [da SEPCD], no qual o look que usava foi o vencedor. Desfilei pra uma marca de acessórios inclusivos no FashionDowntown de SP. Fui modelo de um projeto de moda festa da turma de moda da Universidade Anhembi Morumbi.
Em feiras e eventos, já fiz trabalhos como modelo pra grandes empresas como: Bradesco, Itaú, Honda, Vale do Rio Doce e fui a primeira modelo cadeirante a promover um carro no Salão do Automóvel de SP.

Como ficou a sua rotina de beleza e o vestir-se, manter um certo estilo logo após o acidente?
Logo após o acidente, praticamente não usava nada de que gostava… usava roupas largas, até por falta de conhecimento, por ter ficado sem os movimentos e achar que roupa justa poderia machucar. Pra ter uma idéia, eu saía de meia e não colocava nenhum calçado também por essa falta de noção!
Mas também fiquei desanimada, não tinha vontade de me arrumar, me maquiar. Isso só foi voltar depois que realmente me deu um “clique” e aceitei o que tinha acontecido, quando aceitei minha nova situação, minha nova vida. Então, se tinha que ser desse jeito, que fosse da melhor forma! E comecei a ser vaidosa de novo, a me vestir como gostava. Isso ao retomar a vida, sair, conhecer outras pessoas que também eram cadeirantes e que tinham uma vida normal e eram bonitas e estilosas. Perdi o medo do mundo lá fora e recuperei esse meu lado.

Quais peças você tem mais dificuldade de vestir hoje? É possível dar um conselho a quem tem de usá-la e não encontra alternativas adaptadas?
Pra mim, a peça mais díficil de vestir, sem dúvida, é a calça, principalmente o jeans ou os tecidos mais encorpados. Hoje em dia, a calça jeans foi literalmente excluída do meu guarda-roupas [risos]… Além de ser difícil de vestir, acho que é uma peça que acaba machucando e incomodando, só se a pessoa usar ela larguinha, aí acho que tudo bem… mas eu gosto das justinhas, acho mais feminino. Então acabo usando leggings. Por isso tô sempre em busca da legging perfeita, que não fique curta, que fique justinha, e fico ligada em cores e estampas diferentes.
Eu acho que se a pessoa não consegue usar certo tipo de roupa, pode procurar usar outras peças, não precisa ficar preso àquilo ou querer usar de qualquer forma porque tá na moda e tal. Tem que usar o que fica legal e que seja confortável. Mas também acho que, levando isso às pessoas que desenvolvem as peças, é um jeito de abrir a visão, fazer pensar: “Pôxa, se eu criar a mesma peça com um adereço que facilite, a pessoa com deficiência também vai poder usar”.
Às vezes, o assunto parece ser um bicho de sete cabeças pra quem não trabalha com esse público, e quem cria acha que vai ter muito trabalho pra desenhar uma peça acessível. Mas um simples zíper, ou um botão estratégico, já facilita e torna aquela peça acessível.

Quando surgiu a ideia do seu blog?
Eu que faço minhas unhas e, quando fazia, postava nas redes sociais falando o nome do esmalte… aí uma amiga, a Tabata Contri, veio até mim e falou: “Dê, porque você não escreve em um blog?”. E foi aí que o blog nasceu. Além de falar sobre unhas, falo sobre moda, maquiagem e cosméticos. Faço resenhas de produtos que uso relatando o resultado para as leitoras e divulgo produtos enviados pelas parcerias do blog como com a Óceane Femme, Avon, Beauty Color, dentre outras.
Pra mim o blog é um hobby, em que falo sobre coisas de que gosto e com as quais acredito ajudar as leitoras com minhas experiências e trazendo as novidades e tendências do mercado da moda e da beleza.
“Depois que comecei com o blog Vou de Saia, entrei mais a fundo no mundo da moda e da beleza, gosto de saber das tendências”

Quais são os próximos passos com a iniciativa?
Depois do blog, montei uma loja virtual de bijouterias e acessórios, a Vou de Saia Store.
Mas pretendo, ainda, com o trabalho que faço no blog, levar isso pra outras mídias, como sites e revistas que falam sobre o assunto.

Qual o seu conceito de moda acessível? Você acredita que ele está contemplado no mercado?
A moda acessível ainda não foi pro mercado, mas é mais divulgada hoje, fazendo com que as pessoas conheçam e percebam que é algo importante, que facilita a vida de pessoas que têm algum tipo de deficiência e que essas pessoas também são consumidores como qualquer outro.
Mas falta as marcas, lojas e estilistas perceberem que, desenvolvendo e tendo esse produto à venda, terão um público a mais. Por isso, temos de levar o conceito até eles, e divulgar mais.

Que iniciativas em termos de moda acessível seu blog apoia, ou você mesma acredita ser uma alternativa interessante no mercado?
O blog apoia o Concurso de Moda Inclusiva, já divulgamos as inscrições pra quem tem interesse em participar e pretendo cobrir o evento este ano. Acredito, sim, ser uma alternativa interessante desde de que sejam criadas roupas usáveis no dia a dia, peças que realmente tenham um adereço ou corte que vão facilitar à pessoa vestir.
A loja, assim como o blog, é voltada pra todo público feminino e não só para mulheres com deficiência. Tenho clientes com e sem deficiência. Com certeza, se surgisse algum projeto, alguém da área de moda ou alguma marca com roupas acessíveis e que eu realmente ache bonita e usável, acrescentaria à minha loja, sim.

O que é preciso fazer para que beleza e moda, em geral, não deixem de fazer parte do universo da pessoa com deficiência?
Isso depende, antes de tudo, da própria pessoa ser vaidosa e querer estar bem vestida. Mas, por conta de não existir tal peça adaptada, a pessoa acaba não usando por ser difícil de vestir. Isso acontece comigo, inclusive.
Temos de aproveitar o interesse de estudantes em criar esse tipo de roupa, e de pessoas que já trabalham com isso. E acho que seria bem legal as próprias marcas terem como modelo uma pessoa com deficiência. Porque não uma cadeirante linda ser modelo de tal marca e estar nos catálogos e banners divulgando o produto?

Você acredita que a autoestima é peça essencial em um processo de reabilitação da pessoa com deficiência? E na convivência diária com limitações e preconceitos?
É essencial sim, embora se perca principalmente quando a pessoa adquire uma deficiência. Porque ela não está acostumada com a diferença desde sempre, como uma pessoa que já nasceu com deficiência. Tem todo um processo de aceitação e de adaptação até que a pessoa realmente se sinta bem, bonita e novamente comece a viver a vida normalmente.
Mas todos nós somos diferentes, independente de termos uma deficiência ou não.

Quais são os próximos passos da Denise, mulher, modelo e blogueira?
Pretendo investir mais no trabalho no blog e na loja, conquistando mais clientes e leitores e continuar com meu trabalho como modelo, mas também tenho algumas idéias de negócio próprio que estou estudando pra poder realizar, também voltado pra área da beleza.
Como mulher, meus planos são casar e ter filhos, só tenho que conseguir fazer tudo isso junto! [Risos.]
Fonte: Revista Sentidos
Wilson Faustino

Wilson Faustino 43 anos casado, cadeirante empreendedor, trabalho com marketing e vendas diretas e virtuais. Atuando também como afiliado em plataformas como Hotmart, Eduzz, Monetizze e Lomadee. Trago todo o meu conhecimento para ajudar aqueles que pretendem trabalhar do conforto da sua casa e conquistar a independência financeira e geográfica.

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