Créditos a:
Dr. Aramis Pedro Teixeira - Neurocirurgião (CRM 15844)
Ine - Instituto de Neurocirurgia Evoluir
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Perda auditiva/ Surdez
Por ser um defeito invisível, a surdez não recebe da sociedade a mesma atenção que é dada a portadores de outras deficiências. O deficiente auditivo deve receber um cuidado especial, pois tende a separar-se de outras pessoas devido a dificuldade com a comunicação, trazendo para si as consequências do isolamento.
A surdez é uma perda profunda da audição, onde há uma deterioração deste sentido. Pode ser causada pelos seguintes fatores: problema mecânico no canal auditivo ou no ouvido médio que causa obstrução da condução do som, ou lesão no ouvido interno, no nervo auditivo ou nas vias do nervo auditivo no cérebro (perda neuro-sensorial da audição).
É categorizada em níveis do ligeiro ao profundo. É também classificada de deficiência auditiva, ou hipoacúsia. Os tipos de surdez quanto ao grau de perda auditiva são:
- Perda auditiva leve: não tem efeito significativo no desenvolvimento desde que não progrida, geralmente não é necessário uso de aparelho auditivo.
- Perda auditiva moderada: pode interferir no desenvolvimento da fala e linguagem, mas não chega a impedir que o individuo fale.
- Perda auditiva severa: interfere no desenvolvimento da fala e linguagem, mas com o uso de aparelho auditivo poderá receber informações utilizando a audição para o desenvolvimento da fala e linguagem.
- Perda auditiva profunda: sem intervenção, a fala e a linguagem dificilmente irão ocorrer.
Já quanto à perda de audição pode ser dividada em dois tipos, definidos pela forma como a doença acontece:
- Perda auditiva sensorial, quando afeta o ouvido interno. Pode ser hereditária, ser provocada por ruídos muito intensos (trauma acústico), por uma infecção viral do ouvido interno, por certos fármacos ou pela doença de Ménière.
- Perda auditiva neural, quando afeta o nervo auditivo ou as vias do nervo auditivo localizadas no cérebro. Pode ser causada por tumores cerebrais que danificam os nervos circundantes e o tronco cerebral. Outras causas são as infecções, perturbações cerebrais e nervosas (como um acidente vascular cerebral) e algumas doenças hereditárias (doença de Refsum). Na infância, o nervo auditivo pode ficar danificado pela parotidite, pela rubéola, pela meningite ou por uma infecção do ouvido interno. As vias do nervo auditivo no cérebro podem ser lesionadas ainda por doenças desmielinizantes (doenças que destroem a bainha dos nervos).
Estes tipos de perda auditiva podem ser diferenciados comparando como uma pessoa ouve os sons conduzidos pelo ar e como os ouve conduzidos pelo ossos.
Quanto a causa desta doença, a mais comum é a presbiacusia, que resulta de uma combinação de vulnerabilidade genética, doenças e/ou distúrbios metabólicos ( diabete, por exemplo) e exposição a ruídos. É um processo degenerativo de células sensoriais do ouvido interno e fibras nervosas que conectam com o cérebro. Algumas outras causas são:
- Hereditária (genética) ou embrionária (intra-uterina). Entre as causas intra-uterinas mais freqüentes estão a rubéola, sífilis, toxoplasmose, herpes, alguns tipos de vírus e certos medicamentos usados durante a gestação.
- Variação de pressão no líquido do ouvido interno (esta alteração é chamada doença de Menière e vem acompanhada, em sua forma clássica, de vertigem e zumbido).
- Tumores benignos e malignos que atingem o ouvido interno ou a área entre o ouvido interno e o cérebro podem causar surdez, como por exemplo, o neurinoma, colesteatoma,glómus, carcinoma.
Há ainda três tipos de surdez:
- Surdez de condução, quando existe um bloqueio no mecanismo que conduz o som desde o canal auditivo até o estribo. Algumas causas importantes podem ser acúmulo de cera no canal do ouvido, perfuração no timpani ,infecção no ouvido médio, lesão ou fixação do martelo, bigorna, estribo.
- Surdez de percepção ou sensorioneural (lesão de células sensoriais e nervosas) é aquela provocada por problema no mecanismo de percepção do som desde o ouvido interno (cóclea) até o cérebro. Algumas causas importantes de surdez de percepção ou sensorioneural podem ser ruídos intensos (intensidades de som acima de 80 decibéis), lesões no ouvido interno devido à exposição simples ao ruído ou após exposições prolongadas de meses ou anos, infecções bacterianas e virais (especialmente rubéola, caxumba e meningite), medicamentos como alguns antibióticos, ácido acetilsalicílico e outros, idade (A deficiência auditiva abrange cerca de 30 por cento nas pessoas acima de 65 anos e 50 por cento acima de 75).
* Exemplos de ruídos mais comuns causadores de surdez: máquinas industriais, armas de fogo, motocicletas, máquinas de cortar grama, música em volume alto, estouro de foguetes.
O diagnostico da surdez é feito através da história do paciente, exame do ouvido e testes com instrumental especializado. O exame complementar mais importante e indispensável é a audiometria. Muitas vezes a surdez vem acompanhada de tontura e zumbido. Nestes casos, investiga-se também o labirinto (a parte do equilíbrio) e o sistema nervoso relacionado com as queixas. O exame por imagem como a ressonância magnética (RM) pode ser necessária quando há suspeita de tumor.
São realizados testes auditivos com um diapasão, mas a melhor forma de testar a audição é uma câmara insonorizada e com um audiometrista (especialista na perda da audição), utilizando um dispositivo electrónico que produz sons em tons e volumes específicos. A condução do som por via aérea nos adultos mede-se colocando um diapasão que esteja a vibrar perto do ouvido, com o fim de fazer o som viajar pelo ar até chegar ao ouvido. Uma perda de audição ou um limiar de audição subnormal (o menor som que possa ser ouvido) podem indicar a presença de um problema em qualquer parte do aparelho auditivo. Nos adultos, a audição por condução óssea mede-se encostando contra a cabeça a base de um diapasão que esteja a vibrar. A vibração propaga-se pelo crânio, incluindo o caracol ósseo do ouvido interno. O caracol contém células ciliadas que convertem as vibrações em impulsos nervosos, que se transmitem pelo nervo auditivo. Este teste contorna o ouvido externo e o ouvido médio e avalia apenas o ouvido interno, o nervo auditivo e as vias do nervo auditivo no cérebro. Utilizam-se os diapasões com diversos tons (frequências) porque algumas pessoas podem ouvir sons a certas frequências, mas não a outras. Se a audição por condução aérea estiver reduzida mas a audição por condução óssea for normal, a perda é condutiva. Se a audição por condução tanto aérea como óssea estiver reduzida, então a perda de audição é neuro-sensorial.
Alguns testes de audição podem detectar perturbações nas áreas de processamento auditivo do cérebro. Estes testes medem a capacidade de interpretar e de compreender a fala distorcida, de compreender uma mensagem apresentada a um ouvido quando outra mensagem está a chegar ao ouvido oposto, de ligar mensagens incompletas recebidas em ambos os ouvidos e formar uma mensagem coerente e de determinar de onde provém um som quando chegam sons a ambos os ouvidos ao mesmo tempo. Como os canais nervosos de cada ouvido se cruzam para o outro lado do cérebro, uma anomalia num dos lados do cérebro afecta a audição no lado contrário. As lesões no tronco cerebral podem prejudicar a capacidade de ligar mensagens incompletas para formar uma mensagem coerente e determinar de onde provém o som.
O tratamento da perda auditiva depende da causa. Por exemplo:
- Se a presença de líquido no ouvido médio ou de cera no canal auditivo está a causar perda de audição condutiva, o fluido é drenado ou então procede-se à eliminação da cera.
- Nas perfurações timpânicas e nas lesões ou fixação dos ossículos (martelo, bigorna, estribo), o tratamento é cirúrgico.
- Nos casos de secreção acumulada atrás do tímpano (otite secretora) por mais de 90 dias, a cirurgia também está indicada.
- Na doença de Menière (surdez, tontura, zumbido), o tratamento é clínico e, às vezes, cirúrgico.
- Em casos de tumores, o tratamento indicado pode ser essencialmente cirúrgico, radioterápico ou radio cirúrgico.
Em outros casos, o tratamento consiste em compensar a perda auditiva na medida do possível. Em situações excepcionais recorre-se ao transplante do caracol.
Outra alternativa que se pode utilizar são os aparelhos auditivos convencionais, cuja função é amplificar os sons. Para outros que não podem usar os aparelhos auditivos convencionais, ou que se beneficiam pouco com eles, estão indicados os aparelhos eletrônicos cirurgicamente implantáveis. Para pacientes com surdez severa-profunda, que não se beneficiam com nenhum desses aparelhos, está indicado o implante coclear. Os implantes cocleares são sistemas eletrônicos implantados cirurgicamente, que têm a função de transmitir estímulos elétricos ao cérebro através do nervo auditivo. No cérebro, esses estímulos elétricos são interpretados como sons.
Há muitas pessoas que possuem dúvidas sobre como lidar com os surdos e como se comunicar com eles, procuramos algumas dicas que podem auxiliar nestes casos:
- Falar de maneira clara, pronunciando bem as palavras, sem exageros, usando a velocidade normal, a não ser que ela peça para falar mais devagar.
- Usar um tom normal de voz, a não ser que peçam para falar mais alto. Gritar nunca adianta.
- Falar diretamente com a pessoa, não de lado ou atrás dela.
- Fazer com que a boca esteja bem visível. Gesticular ou segurar algo em frente à boca torna impossível a leitura labial. Usar bigode também atrapalha.
- Quando falar com uma pessoa surda, tentar ficar num lugar iluminado. Evitar ficar contra a luz (de uma janela, por exemplo), pois isso dificulta a visão do rosto.
- Se souber alguma língua de sinais, tentar usá-la. Se a pessoa surda tiver dificuldade em entender, avisará. De modo geral, as tentativas são apreciadas e estimuladas.
- Ser expressivo ao falar. Como as pessoas surdas não podem ouvir mudanças sutis de tom de voz, que indicam sentimentos de alegria, tristeza, sarcasmo ou seriedade, as expressões faciais, os gestos ou sinais e o movimento do corpo são excelentes indicações do que se quer dizer.
- A conversar, manter sempre contato visual, se desviar o olhar, a pessoa surda pode achar que a conversa terminou.
- Nem sempre a pessoa surda tem uma boa dicção. Se houver dificuldade em compreender o que ela diz, pedir para que repita. Geralmente, os surdos não se incomodam de repetir quantas vezes for preciso para que sejam entendidas.
- Se for necessário, comunicar-se através de bilhetes. O importante é se comunicar. O método não é tão importante.
- Quando o surdo estiver acompanhado de um intérprete, dirigir-se a ele, não ao intérprete.
- Alguns preferem a comunicação escrita, alguns usam linguagem em código e outros preferem códigos próprios. Estes métodos podem ser lentos, requerem paciência e concentração.
Em suma, os surdos são pessoas que têm os mesmos direitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos, assim como todos. Se ocorrer alguma situação embaraçosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade e bom humor nunca falham.
Língua Brasileira de Sinais (Libras)
Dentro os métodos utilizados para uma boa comunicação com pessoas que sofram de surdez, está a linguagem de sinais, uma língua gestural usada pela maioria dos surdos dos centros urbanos brasileiros e reconhecida pela Lei. É derivada tanto de uma língua de sinais autóctone quanto da língua gestual francesa; por isso, é semelhante a outras línguas de sinais da Europa e da América.
Assim como as diversas línguas naturais e humanas existentes, a LIBRAS é composta por níveis linguísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica. Da mesma forma que nas línguas orais-auditivas existem palavras, nas línguas de sinais também existem itens lexicais, que recebem o nome de sinais. A diferença é sua modalidade de articulação, a saber visual-espacial, ou cinésico-visual, para outros. Assim sendo, para se comunicar em Libras, não basta apenas conhecer sinais. É necessário conhecer a sua gramática para combinar as frases, estabelecendo comunicação. Os sinais surgem da combinação de configurações de mão, movimentos e de pontos de articulação — locais no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos, os quais, juntos compõem as unidades básicas dessa língua. Assim, esta linguagem se apresenta como um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Como em qualquer língua, também na libras existem diferenças regionais. Portanto, deve-se ter atenção às suas variações em cada unidade federativa do Brasil.
Dr. Aramis Pedro Teixeira - Neurocirurgião (CRM 15844)
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