Galera, me desculpem, mas hoje o texto vai ser um pouco longo.
Antes de colocar esse post, eu refleti muito se ele seria muito piegas por achar que não teria a ver com acessibilidade, mas com o decorrer do texto vocês verão que tem sim.
Ontem à noite eu tive, seguramente, a experiência mais marcante da minha vida. Desde criança, eu tive um sério problema e acho que isso deve ter alguma explicação no passado, mas o fato é que nunca consegui me aproximar de moradores de rua. Sempre tive muito problema com odores – até hoje minha esposa é que tem que ver o que está cheirando mal na geladeira – e sempre que passava por um morador de rua deitado na calçada, eu travava a respiração. Queria morrer por dentro, por ter a certeza de que somos todos seres humanos e merecemos um tratamento igual de nós mesmos, mas era mais forte do que eu.
Sempre lutei contra isso mas tinha a certeza de que assim que conseguisse ultrapassar essa etapa da minha vida, poderia seguir em frente para tentar ser uma pessoa melhor.
E esse dia chegou.
Minha irmã me ligou na última quarta-feira, pedindo pra separar algumas roupas que meu cunhado, juntamente com uns amigos, iriam distribuir e, de imediato, me inclui no grupo. Foi sem pensar … sem titubear.
Ontem á noite, eu e mais sete caras fantásticos, visitamos o centrão de São Paulo: Minhocão, Praça Santa Cecília, largo do Arouche, Av. Rio Branco e, pasmem, região da cracolândia.
Mas a ficha não tinha caído.
Até aí, uma experiência pessoal incrível, entregando pães com manteiga e um copo de chocolate quente e ouvindo um “- muito obrigado e que Deus te abençoe” de forma constrangida, pois achava (e acho) que não fazíamos mais que nossa obrigação. De repente, foi muito bom perceber que poderia levar o mínimo a quem não tem nada. Apertar aquelas mãos sofridas que nos eram estendidas em sinal de agradecimento.
Mas a ficha não tinha caído.
Por diversas vezes eles nos pediam roupas e, enquanto tínhamos nos carros, íamos distribuindo. Com o tempo passando, tudo foi escasseando, chegando ao ponto em não havia um tênis para doar, pois o pé do sujeito era grande demais para o que tínhamos no carro e por duas vezes – duas vezes – quase tirei o meu para entregar. Acho que se tivesse uma havaiana no carro, teria voltado com ela.
Mas a ficha não tinha caído ainda.
Terminamos tudo, por volta das 2:00 da manhã, e nunca vi um grupo de 8 caras tão felizes da vida quanto eu vi ontem. Distribuímos 120 pãezinhos e 8 litros de chocolate quente além de diversas roupas mas, a leveza do espírito depois disso posso garantir que é uma coisa fascinante.
Cheguei em casa por volta das 2:30 da madrugada, cansado, com a alma lavada e aí,
A ficha caiu.
Deitado ao lado da minha esposa, chorei como criança, ao ver que meus problemas – mais uma vez, são uma titica de galinha perto do que vi á noite e agradeci muito a oportunidade que tive e aproveitei.
Vocês devem estar se perguntando o porque de eu estar escrevendo essa experiência pessoal, aqui num portal sobre acessibilidade e eu respondo:
1º. – Acho importante divulgar, não para orgulho pessoal, pois depois da noite de ontem, isso não importa mais para mim mas para tentar motivar mais pessoas a entrarem nesse grupo.
2º.- Sim iremos continuar a fazer esse trabalho, pois ele nos fez muito bem – a todos.
3º.- Modifiquei um pouco o meu conceito sobre acessibilidade.
Depois dessa experiência fantástica, descobri que acessibilidade não se limita a lutar por rampas, abuso no uso de vagas especiais, pisos táteis, faróis sonoros ou uma educação adequada a deficientes auditivos. Acessibilidade é dignidade e promover acessibilidade é também tentar fazer com que qualquer ser humano, possa ter acesso a uma roupa usada, um pão com manteiga, um copo de chocolate, um papel higiênico, um absorvente íntimo … um aperto de mão.
Acessibilidade, no meu caso, é conseguir me fazer tornar acessível aos outros e isso tem a ver com o mote principal do portal.
Queria aqui de coração, agradecer a todos que estiveram – de uma forma ou de outra – participando dessa ação: A quem fez o chocolate, a quem doou leite, chocolate, pão, roupas e tempo.
André, Binho 1, Rodox, Alê, Homer, Binho 2, Buia: Vocês são demais, pois vocês são “os caras”. Agradeço muito a oportunidade de ter me unido a vocês nessa ação de ontem.
A noite de ontem mudou a minha vida. A quem me “conhecia”, convido a marcar um chopp ou café, para que possa conhecer esse novo cara que já dormiu diferente na noite de ontem e acordou mais modificado ainda. Quem não me conhece ainda: Muito prazer. Jorge Eduardo Teixeira Filho, um cara que conseguiu passar por cima de seus medos e está lutando para ser sempre, melhor que o dia anterior. Um dia de cada vez.
O meu muito obrigado a você por ter dedicado alguns minutos do seu dia para esse texto
Jorge Teixeira