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Veja entrevista com a mãe de Paulo Perrone, ex-Estakazero

Lúcia Roriz, mãe do baterista Paulo Perrone (ex-Estakazero), recebeu a reportagem do Bocão News em sua casa, em Lauro de Freitas, por volta das 10h na segunda-feira (04). Depois de acomodar a equipe em sua sala de estar, ela não se importou em falar os mínimos detalhes de sua rotina que mudou completamente quando o seu filho tomou um tiro na cabeça e os bandidos levaram R$ 3 mil sacados do Banco Bradesco. O dinheiro era para fazer um curso de música na Espanha com duração de 45 dias. Mas, ele não viajou. Não saiu mais de Salvador. Não saiu mais de casa. Paulo Perrone hoje vive em cima de uma cama e não pode nem mais ver o mundo na horizontal. As escaras o impede de sentar.  

Nesta entrevista, veiculada coincidentemente na semana da mulher, você vai saber como Lúcia lida com a sua nova vida. Como ela recebeu a notícia sobre Perrone, como foram os primeiros dias de internação e como a fé move esta família que se desdobra diariamente para manter vivo o rapaz que respirava música, antes de ter sido mais uma vítima da violência em Salvador.



A notícia

Onde a senhora estava no dia do crime?

Eu estava na minha empresa e fui para o dia vovó na escola da minha neta. Saindo da festa, fui levar ela para casa e fiquei um pouco por lá, ali na Pituba, onde minha filha mora. Quando cheguei lá, comecei a me sentir mal, me deu um aperto no coração, achei até que era problema de pressão. Na festa eu já não estava bem. Tinha algo estranho em mim. Aí eu fiquei aguardando para ver... Foi quando passou uma reportagem em Bocão sobre Kelly Cyclone, sobre o enterro dela. Quando eu estava assistindo Bocão, ele anunciou um assalto, um acidente. Quando ele disse 'em ultima mão' e ia anunciar, a minha televisão apagou, desligou. Ficamos tentando ver o que era, quando eu recebi um telefonema da minha empresa. O carro que ele estava tinha o telefone da minha empresa. Aí ligaram para mim e o pessoal me avisou, mas não me disseram o que foi. Só falaram que foi uma batida.

E depois?

Aí eu fui para o Caminho das Árvores, mas ele não estava lá. Fui para o hospital, mas até então não sabia da gravidade do acidente. Segui para o HGE. Quando cheguei lá foi que eu tomei ciência do fato. Os policiais deram socorro a ele. Ninguém sabia quem ele era, mas trataram meu filho muito bem. Demos sorte porque o centro cirúrgico não estava ocupado, fizeram logo uma cirurgia. A bala entrou e saiu e eles fizeram a intervenção pra descomprimir o cérebro. Entrou no lado esquerdo e saiu no lado direito. Nesse momento não tínhamos esperança, fomos avisados que ele só teria 24h de vida. Nessas 24h ele fez outra cirurgia, quando retiraram as laterais do crânio. Foram duas cirurgias no total.
Por que ele precisou ir ao Bradesco naquele dia?

Ele, no dia anterior, tinha ido numa agência comprar uma passagem para fazer um curso de música de 45 dias na Espanha. Mas quando ele passou o cartão, foi recusado, foi bloqueado. O cartão era do Bradesco. Ele foi no banco conversar com a gerente para sacar o dinheiro e pagar logo à vista. Foi quando ele foi seguido. Ele levou 45 minutos no banco e durante esse tempo todo ele foi seguido. Tem a filmagem que comprova todo o movimento desde quando ele entrou no banco. Ele foi conversar com a gerente e voltou para o caixa. No caixa o cara já estava seguindo ele. Um homem só, outros dois estavam do lado de fora. Tudo aconteceu no banco do Centro Empresarial Iguatemi. O cara sentou no local dos idosos, depois levantou pra acompanhá-lo... Inclusive, nesse momento, o cara estava se comunicando com os bandidos por torpedo. O segurança do lado dele e ele passando mensagem. Aí ele saiu do banco, porque o caixa eletrônico fica do lado de fora do vidro. Ai ele saiu para pegar, eu acho, que o saldo... E isso tudo o cara seguindo ele.

Onde foi o local exato que os bandidos anunciaram o assalto?

Foi na Alameda das Espatódeas, na principal do Caminho das Árvores. Eles seguiram com uma moto e um carro. A polícia tem o roteiro nas filmagens desde quando eles saem do banco até esse lugar. Um que estava no carro saltou para moto e aí foi mais fácil pegar eles por conta disso, porque ele estava sem capacete e foi reconhecido nas filmagens. Teve uma testemunha também na hora que viu tudo, na hora que abordaram meu filho. Essa pessoa disse que eles já chegaram atirando.

Então não houve um diálogo do tipo 'saia do carro'?

Não. Nada! A testemunha disse que não teve. Disse que ele se assustou. Ela estava jogando lixo fora quando tudo aconteceu. Ele viu o cara da moto já de arma em punho dizer 'isso é um assalto' e em seguida deflagrou o tiro e depois outro. Um pegou na parte traseira do carro. Atravessou o vidro e bateu na porta do carona. E o outro foi na cabeça do meu filho. Eles abriram a porta, tiraram tudo. Eles levaram mais de R$ 3 mil reais. Meu filho estava com mais R$ 800 no bolso além dos R$ 3 mil. Meu filho ainda bateu o carro em outro carro quando perdeu o controle da direção.

Quem pediu socorro? O Serviço Móvel de Urgência esteve no local?

Então, na hora, por sorte nossa, passou uma viatura da pm e os policiais não aguardaram o Samu. A testemunha foi quem tirou ainda o pé do meu filho do acelerador e dizia o tempo todo para os policiais 'ele está vivo, está respirando' enquanto meu filho agonizava. Os policiais botaram ele na viatura e o levaram. Foi nossa salvação. Ainda não tive condições psicológicas de procurar esses policiais para agradecer, mas tenho vontade. Um dia, com fé em Deus ainda vou agradecer a eles...

Quanto tempo já passou depois que tudo aconteceu?

Esse mês faz um ano e oito meses. Vai fazer dois anos em julho.


Os dias no hospital e a mudança de rotina

Você me disse que os policiais o levaram para o HGE. Como foi o atendimento lá? Ele passou quantos dias no hospital?

Ele levou 35 dias em coma induzido no HGE, em seguida, foi pra um quarto e passou, no total, 42 dias nesse hospital. De lá ele foi transferido para o Hospital das Clínicas. Ele levou oito meses internado fazendo todo o tipo de procedimento. Todo o tipo de bactéria hospitalar que você possa imaginar ele contraiu e foi uma guerra mesmo, travada, até que em março nós tiramos ele do hospital e levamos para casa. Montamos um quarto hospitalar em casa e ele está até hoje conosco.

Nessa época, em março, a senhora morava onde? Vi numa entrevista que vocês precisaram se mudar.

É isso né.... Eu estou há um ano e oito meses fora de casa.

Onde vocês moravam?

Ele morava comigo em um sítio na estrada CIA / Aeroporto.

Era ele, a senhora e mais quem?

Só nós dois.

Depois que tudo aconteceu vocês se mudaram para onde?

Para casa da minha filha, na Pituba.

E vocês sentiram a necessidade de sair de lá por quê?

Era um apartamento pequeno. Precisávamos levar ele carregado até a emergência, carregado numa cadeira ou lençol, era muita dificuldade. Foi quando minha filha saiu de lá e comprou essa casa pela Caixa Econômica.

Foi um investimento muito grande?

Sim. Porque precisamos adaptar um quarto maior para ele. Fizemos algumas alterações nessa casa também porque embaixo não tinha quarto e ele não pode ficar na parte de cima.

A sua filha, a Lidiane, trabalha com o que?

Ela é responsável pela franquia da Mahogany no Norte/Nordeste. Ela trabalha viajando. Agora mesmo está afastada por 10 dias.

A senhora trabalhava antes?

Sim. Eu tinha uma empresa de produtos da roça e paisagismo que chamava “Atacadão da Roça e Lu Roriz Paisagismo”.

Você abandonou essa empresa?


Tudo, tudo. Eu deixei tudo. Eu não pude mais... Meses depois fechei tudo.

Foi um prejuízo intenso ter fechado a empresa?

Bom, foi, porque eu sou viúva e me sustentava com essa empresa, né? Pagava meus débitos e ajudava meus filhos. Infelizmente músico nesse país ganha pouco.


O Perrone teve filhos?

Não, é solteiro. Graças a deus. Se fosse casado seria mais um problema.

Seria um problema?

Seria, porque aí como iríamos sustentar mais uma família? Eu parada, como é que seria? Seriam mais despesas. Ainda mais uma criança vendo um pai nessa situação... É muito traumático

A senhora tem outros filhos?

Sim. E eu tenho outra filha. Lanine Roriz

Ela mora em salvador?

Sim, mora aqui em salvador.

E como é essa família? Vocês visitam muito uns aos outros? Se reúnem com frequencia?

Nós somos muito unidos. Sou eu e só meus filhos. Então, hoje, somos sustentados por minha filha Lidiane e Lanine.  A gente faz shows beneficentes, muita rifa para ajudar nos custos. Os amigos dão instrumentos e fazemos rifas e vamos passando assim... Já me desfiz de quase tudo que eu tinha. Vendi carro, minha filha também vendeu. E se não resolvermos isso com o Bradesco, vou ter que vender a minha casa.

A banda, o pessoal da Estakazero, eles os visita?

Visitam. Não muito porque pegam muito a estrada. Mas telefonam sempre, procuram por ele. Nunca desampararam a gente. São muito solidários. Fizeram um show em 2011 que conseguimos levar o tratamento dele por um tempo. Porque você sabe, os hospitais públicos têm muita deficiência e precisávamos de muita coisa e atravessamos bem essa época. Ano passado eles fizeram show também, mas deu pra sustentar um mês porque o público foi muito pouco. E é isso... Eles ajudam do jeito que podem e não abandonaram a gente.

Recapitulando: ele sofreu o acidente, foi para o HGE, depois Hospital das Clínicas e veio para casa ficar com vocês. Qual a situação atual?

Hoje a gente encontra muita dificuldade porque a gente só tem a ajuda do Estado. Ajuda do Estado você sabe que é limitada. Eles ajudam no plano dele, no programa de internação domiciliar. Então, qual é essa ajuda? Fralda, curativos, remédios que tenham no SUS, os que não tem, compramos; um médico clínico de 30 em 30 dias e uma fisioterapia de oito em oito dias, que não soma. Ele precisa de fisioterapia diária, duas vezes ao dia. E nos vínhamos custeando isso tudo. Fisioterapia, fonoaudiólogo, nutrólogo, neurologista, especialista de membros superiores e inferiores, especialista de cabeça e pescoço, otorrino... Tudo isso é com a gente.

É um especialista para cada parte do corpo afetada?

É. Hoje todo mundo tem especialidade, né? Tem especialidade para tudo hoje. Então, o custo fica muito alto. Muito alto mesmo. Alimentação é muito cara. O Estado está ajudando, mas...

Ele se alimenta como?

Via sonda. Aí tem cuidadores para me ajudar...

Elas são pagas por vocês?

São.

São quantas?

Duas. Tem a necessidade de três porque tem a noite, né? Temos que fazer decúbito de 1h em 1h então ninguém dorme. Tem que ficar noite e dia fazendo decúbito.

Decúbito?

Precisamos virar ele. Porque ele tem escaras, causadas por falta de oxigênio na pele. Aí tem que ficar virando ele. Antes era de 2h em 2h, mas agora é de 1h em 1h e tem que ser duas pessoas. Quando minha filha não está aqui, quando ela viaja, pagamos mais uma cuidadora para ficar comigo. Porque tem que ser duas pessoas para virar ele.

Quanto custa tudo isso?

O custo fixo mesmo, sem extras, são 13 mil e quebrados.

Mensais?

É. Mensais.

E se tiver extra, chega até o máximo de quanto?

Por exemplo, se ele precisar de um neurologista mais de três vezes, cada consulta de um neuro é R$ 500,00 por aí você tira. Isso sem contar o nutrólogo que vem uma vez por semana, que é caro.

Como é esse dia a dia?

Somos 24h/48h. É como se fosse uma vida em um hospital, porque não para. Se não fossem as infecções hospitalares, ele estaria no hospital até hoje. Mas por conta de infecção hospitalar, ele fica em casa. Até fora do país já pegamos medicação para ele. Então ele teve que vir para casa. Ele contraiu meningite bacteriana no HGE e foram mais de cinco meses para curar. Cada dia vinha mais uma. Ele é guerreiro mesmo. Está vivo porque Deus tem uma missão muito forte para ele. Mas, graças a Deus quando veio para casa não teve mais infecções. O habitat da gente é diferente, né? Já nascemos aqui fora, estamos acostumados. O convívio com a família também ajudou. O trabalho maior é só a escara. Porque ele está há mais de um ano e oito meses deitado. Por mais que bote colchão especial... Precisamos pegar um colchão em São Paulo, próprio para escara, mas cadê? É muito caro. Temos essa necessidade e está o Bradesco aí se amarrando e não quer pagar.

Ele sai do quarto em algum momento?

Ele às vezes sai. Colocamos ele para tomar sol, mas ultimamente o médico pediu para não sentarmos ele, porque estava magoando demais as escaras. Mas ele gosta de sentar, se sente bem, mas está proibido. São ordens médicas.

Quanto ele pesa?

Olha, hoje eu não sei o peso dele, porque a gente não pesa. Ele já esteve bem mais magro. Ele faz tratamento pra recuperar o peso, mas não sei o peso atual. Ele perdeu na época 30 kg e pesava uma faixa de 80 e alguma coisa. Ele não era gordo, ele tinha massa muscular. Ele malhava.
Perrone antes do acidente

Ele tinha rotina de academia? O que ele mais gostava de fazer?

Não. A vida dele era a música. Ou ele estava tocando ou estava ensaiando. Tinha
dias que precisava brigar, porque ele saia do show e ia direto para casa e já começava a passar música.


E a senhora gostava dessa rotina?

Às vezes eu gostava. Sempre dei força. Ele tocava desde os oitos anos de idade e eu sempre dei força. Mas tinha horas que a zuada era grande, viu? (risos) e às vezes eu precisava sair para ele tocar a bateria dele, mas era gostoso. Hoje eu sinto falta...

Quais eram os planos dele antes de tudo acontecer?

Ele estava planejando fazer a casinha dele lá no sítio mesmo e aí teve que parar tudo. A adoração dele era a música. Ele abandonou faculdade de Ciências Contábeis na Católica faltando dois semestres e trancou.

Como a senhora reagiu quando ele desistiu da faculdade?

Ave Maria, só faltei morrer! (risos) aí depois ele trabalhava, mas não conseguia conciliar música com o trabalho. Aí saiu do trabalho e foi se dedicar só a música.

Quanto tempo ele ficou na Estakazero?

Estakazero... Acho que ele ia fazer dois anos mais ou menos.

Era uma rotina muito intensa de shows?

Olhe, mês junino... Aliás, a partir de abril, sim. Antes do acidente mesmo ele levou 40 dias fora de casa, só viajando. E juntando esse dinheiro pra fazer o curso de música na Espanha. Quase que eu não o via. Até roupa mesmo eu tinha que encontrar ele em algum show para entregar e pegar roupa suja para lavar. Era dia e noite. Além de tocar na Estakazero, ele fazia freelancer em outras bandas.




Dedicação integral

A senhora hoje tem algum momento de lazer?

Não sei o que é mais lazer em minha vida. Minha vida hoje se resume em Perrone.

E a senhora em algum momento pensa nisso?

Eu não tenho muito assim... Minha expectativa é só para ele. Apesar de a gente ser impotente. Eu sofro muito com isso. A gente ver o filho precisando se curar e não pode fazer nada além de dar amor e carinho e lutar como a gente luta, para dar as coisas a ele. Mas é uma impotência muito grande, a gente não é nada. Só podemos pedir proteção a Deus. Tudo o que eu queria é que ele voltasse a tocar, é isso que peço a Deus. É o que eu penso hoje, quero ver ele no palco, fazendo o que ele gostava.

O que os médicos dizem?

Hoje o problema de Perrone é neurológico. Médico nenhum sabe o que se passa no cérebro. Eles operam e fazem e acontecem, mas não sabem o que o cérebro é capaz de fazer. O que eles dizem: Perrone pode daqui a horas recobrar os sentidos e voltar a ter comando. Porque hoje o que ele não tem é comando.

Como assim ‘comando’?

Por exemplo, tudo o que ele faz hoje, a maior parte é involuntário. Ele não levanta o braço porque quer, é involuntário. Se eu disser ‘Perrone, levante a perna’ ele até tenta, mas não consegue. Esse comando ele não tem, entendeu? O que falta nele é esse comando. E esse comando o cérebro tem que fazer todo o trabalho daquele que perdeu, da parte lesada. E isso só Deus e o cérebro é que sabe. Até ele chegar a esse comando pode ser amanhã como pode ser daqui a 20 anos. Sabemos que um dia ele vai voltar, porque o que ele já produziu desde a época que disseram que ele não faria mais nada, que ficaria em estado vegetativo, que não mexeria nada, como ele não mexia mesmo, ele não mexia braço, cabeça, olhos, pernas, ele era parado, não mexia nada.

Uma vez eu li que ele se comunica pelos olhos. Como é esse processo?

A gente pergunta. O que é sim ele pisca os olhos, o que é não ele não pisca.

E como vocês conseguiram combinar isso?

Desde quando ele começou a se movimentar, a gente começou a trabalhar com ele, a pedir a ele. Porque ele não esqueceu, ele não perdeu a memória.

Ou seja, ele é uma pessoa ativa, ele sabe tudo o que acontece ao seu redor?

Sim. Ele entra em depressão, ele fica nervoso, reclama que quer mudar de lugar, fica agitado, se ele não gosta de alguma coisa a gente percebe. Ele dá sinais de insatisfação. E a gente foi pedindo ‘olha, o que for sim você pisca os olhos, o que for não você não pisca’ e fomos nos comunicando. Agora ele já tenta até falar. Ele faz tratamento intensivo com o fonoaudiólogo, mas precisa operar a ‘traqueo’ que está aberta ainda e a voz não sai. Hoje ele tem um problema nas cordas vocais, mas é porque ele levou muito tempo respirando pela ‘traqueo’ e formou uma fístola.  E essa fístola tem que ser operada em centro cirúrgico. Mas não pode agora porque ele tem escaras, que é uma porta de infecção hospitalar e ele não pode pegar outra infecção.

Com essa cirurgia ele pode voltar a falar?

Sim. Fica mais fácil. Porque isso aqui (aponta para a região da garganta) está aberto. Se ele tenta falar o som sai, o ar sai e ele não consegue. É como aquelas pessoas que operam e colocam aqueles aparelhos para falar melhor.

E vocês já experimentaram esse aparelho?

Não, porque ele não tem necessidade. O problema dele já é outro.


Esperança

Esses pequenos sinais de melhora te traz conforto?

Ah! É como uma gotinha no oceano, né? Mas para a gente que viu tudo desde o começo, cada coisinha é um absurdo. É muito gratificante. Porque a gente ver que ele está evoluindo, ele não regride. Então, a esperança dele voltar é muito grande. Porque se a cada dia ele está evoluindo um pouco, um dia ele volta.

Quais são os tratamentos diários que ele faz?

Diário ele faz fisioterapia, que hoje está resumido porque não temos condições e precisamos cortar. Ele fazia duas vezes ao dia e hoje só faz três vezes na semana e fono uma vez por dia.

Mais algum tratamento?

Não, porque não tem condições. Ele precisa de outros, mas não temos como pagar.


Críticas

Vocês já sofreram críticas pela condição social da família de vocês? O lugar onde vocês moram e o fato de sua filha ser responsável por uma franquia grande da área de cosméticos?

Olha, já passamos por críticas em termos de show. No segundo show beneficente que fizemos teve poucas pessoas e não conseguimos vender todos os convites, porque eles achavam que meu filho já estava andando, já estava falando e que esse dinheiro estávamos embolsando. Até esse momento não divulgávamos imagens dele, mas precisamos fazer isso para as pessoas acreditarem que ele ainda não estava bom.

E o que vocês fizeram com o dinheiro do primeiro e do segundo show?

O primeiro, levamos de outubro até março mais ou menos. Mas no segundo só deu pra um mês o tratamento, que já estava atrasado.


Bradesco

Vamos falar agora do Bradesco. Recentemente noticiamos que o banco recorreu da decisão e se recusa a pagar o tratamento de Perrone. Tem outra audiência marcada?

Não tem nada marcado. Nós ganhamos uma liminar em dezembro. O juiz deu causa ganha para a gente e obrigou o Bradesco a custear o tratamento até o fim do julgamento. Ficou decidido que o banco devia pagar a despesa de R$ 13 mil e mais o que viesse a precisar. E se não pagasse, uma multa de R$ 500 por dia seria gerada. Depois, o Bradesco não assumiu, recorreu da sentença argumentando que tínhamos um processo na 11ª vara de quando ele precisou ser transferido para outro hospital, mas não foi... Esse processo já foi dado baixa e eles queriam voltar pra 11ª onde eles ganharam. Porque, ninguém sabe. E aí está aí parado. Hoje à tarde vou conversar com a minha advogada para que ela acelere aí o processo porque até agora não temos data, não temos nada.

O que a senhora sente ao ver uma propaganda do Bradesco?

Eu acho uma propaganda mentirosa. Ele está lado a lado do que interessa para ele, do dinheiro do cliente. Está lado a lado para patrocinar Carnaval, camarote. Mas, em caso de saúde, ele se nega. Ele não tem respeito nenhum pelo cliente dele. Assim como foi meu filho, tiveram vários. Recentemente vimos na televisão um senhor que ganhou um processo contra o Bradesco em um assalto e o banco teve que ressarcir a ele.

Os bandidos

Falando em dinheiro e ressarcimento... Vocês recuperaram os R$ 3 mil roubados?

Nada!

Mas os bandidos não estão presos?

Estão.

E o dinheiro?

Quem sabe?!

Então eles chegaram a gastar o dinheiro?

Dizem que um dos bandidos tem uma conta altíssima no banco. Deve ser de roubos de saidinha né? Era o chefe da quadrilha.

A senhora os conheceu? Onde eles estão?

Ai, não sei... Lemos de Brito? Não. Na Casa de Detenção. Não sei...

Quanto tempo de pena eles estão cumprindo?

Pegaram 30 anos, conseguiram reduzir para 20 e estão recorrendo aí pra reduzir mais.

A senhora os conheceu?

Eu vi na audiência do caso do meu filho.

E o que a senhora sentiu?

A primeira vez eu vi através de um vidro. É um sentimento de... Não sei, é uma coisa que a gente sente tão grande. Eu senti uma revolta. Eu vi ali rapazes novos, com condições de trabalhar, de serem honestos e estragando a vida e fizeram aquilo com o meu filho. Fiquei revoltada e ao mesmo tempo indignada com o ser humano. Depois eu vi novamente em outra audiência e me bati com eles no elevador. Eu estava no andar aguardando a minha advogada quando eles saíram algemados. E aí conversei com eles.

Qual foi o teor da conversa?

Foi um desabafo. Eu vi uma coisa que eu fiquei indignada. Tinha assim muitas mocinhas lá, acho que namoradas deles e uma correu para abraçar um deles algemado e aí foram todas pra cima, querendo abraçar eles... Aquilo me deu uma repugnância muito grande. Eu levantei e cheguei junto deles...

A senhora ficou com nojo deles?

Ah, eu fiquei. Fiquei revoltada! A pessoa sabe que uns elementos daqueles fazem tanto mal a sociedade e fica ali abraçando e a polícia precisando tirar? Eu não sei... Eu não entendi aquilo ali... Vendo aquelas moças tão novas fazendo essas coisas.

O que disse a eles?

Eu cheguei junto deles e disse ‘vocês sabem que eu sou?’ aí eles me olharam assim... Aí eu disse ‘eu sou a mãe daquele que vocês desgraçou a vida. Mas mais desgraçada está a vida de vocês. Enquanto eu for viva, vocês vão pagar pelo que fizeram com o meu filho. Além da justiça dos homens, vocês vão ter a justiça de Deus que não falha’. Aí eles baixaram a cabeça. Eu mandei levantar e disse ‘levantem a cabeça e tenham dignidade. Aliás, vocês não sabem o que é dignidade. Vocês sabem o que é roubar, matar... Pegar o que é dos outros. Agora está bom pra vocês? Estão satisfeitos? Os R$ 3 mil estão servindo?’ Foi isso que eu disse a eles. Foi mais um desabafo. Depois desse dia eu aliviei mais. Eu acho que saiu o que estava preso aqui dentro (risos).

A senhora acha que eles vão conseguir reduzir a pena?

Não é que reduza. As leis são tão... Tem bom comportamento, tem tanta coisa...
Em cinco anos eles estão na rua de novo. Teve um caso agora mesmo de um cara que esteve preso, matou a mulher a pauladas e estava solto de novo.


Cuidados pessoais

Alguma religião faz parte de sua vida?

Eu sou católica. Creio muito em Deus e é o que tem me fortalecido. Aumentei mais a minha fé porque quando a gente não vai pelo amor, vai pela dor. Tem que se apegar a Deus, não tem jeito. É Deus e não tem outro. É acordar, dormir, levantar e apegada com Ele.

A senhora se cuida?

Não tenho tempo. Nem no médico eu fui mais. Eu estou precisando mudar o óculos, mas eu mudo o óculos e o dinheiro que vai para ele? E o meu filho que precisa? Eu pagava plano de saúde, deixei. Pagava quase mil reais de plano, mas como vou tirar mil com meu filho nessa situação? Não tenho plano. Meu plano hoje é o SUS e graças a Deus que ainda tem o SUS.

Vocês agora só esperam o Bradesco ou têm uma espécie de ‘plano b’ para custear o tratamento de Perrone?

Não, não temos. O que a gente tinha era carro. Vendemos. O único veículo que tem aqui é o que ele estava no dia e não podemos vender. O que pertence a ele não podemos mexer. Eu tenho a tutela dele, mas não posso vender nada.

Além do carro, ele tem outros pertences?

Só a bateria (risos)

Na rotina de Perrone, vocês incluem música para ele ouvir?

Sim. Ele tem uma rotina diária e nessa rotina nós colocamos música para ele.

Que tipo de música?

Ele ouve todo tipo de coisa. Jornal, rádio, ele não pode perder contato com o mundo.

Mas, quais músicas ele mais gosta?

Ele era muito versátil. Ele gosta muito de MPB, rock, ele esboça reação muito positiva com o rock, o forró também. O disco da Estakazero ele gosta muito. Gosta muito de Lenine também.

Quantas vezes por dia ele ouve música?

Duas de manhã e duas à tarde.


O apelo

Estamos chegando ao fim desta entrevista. Qual o apelo a senhora gostaria de deixar?

Gostaria de pedir a solidariedade do juiz em analisar logo o processo porque estamos esperando. Quero pedir também ao Bradesco mais sensibilidade pelo problema. Ele diz que está lado a lado com a gente, então que esteja também do meu filho. Eu espero que eles tenham mais compaixão do quadro, que não é pra outra coisa a não ser para os cuidados dele. Agradeço também a Bocão, pela oportunidade que ele nos dá, ao trabalho que ele faz. Porque se não fosse vocês da mídia eu não sei o que seria da gente.


 Bocão News
Wilson Faustino

Wilson Faustino 43 anos casado, cadeirante empreendedor, trabalho com marketing e vendas diretas e virtuais. Atuando também como afiliado em plataformas como Hotmart, Eduzz, Monetizze e Lomadee. Trago todo o meu conhecimento para ajudar aqueles que pretendem trabalhar do conforto da sua casa e conquistar a independência financeira e geográfica.

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